Um disfarce que não convence.

Qual é a primeira coisa que nos apetece fazer assim que arranca um jogo da LEGO? Partir peças. Como manda a tradição, é isso que começamos logo por fazer nos primeiros segundos da versão 3DS de LEGO City. O problema é que as peças que resultam dessa destruição ficam a “flutuar” no ar, uma vez que sem sombra não têm indicação visual de estarem na estrada ou no passeio. Começam aqui as nossas preocupações com a adaptação à portátil da Nintendo, que vão ser uma constante ao longo desta nova aventura.

LEGO City Undercover: The Chase Begins depara-se com um grande problema: adaptar o enorme mundo aberto do original da Wii U para a máquina portátil e muito menos poderosa da marca. Fica no entanto sempre uma dúvida no ar (assim como as peças) sobre se foi a equipa da TT Fusion que não teve o tempo necessário para o desenvolvimento ou se é a máquina da Nintendo que está a mostrar as suas fragilidades ao nível da capacidade de processamento e memória. O certo é que a maravilhosa cidade de Lego City: Undercover, que era o ponto mais positivo do original, está neste jogo coberta de nevoeiro para que não possamos ver à distância. Mas daquele nevoeiro da orla marítima em manhã de inverno: já ali à frente.

A caminho da festa de Nossa Senhora de Altares de Baixo.

A caminho da festa de Nossa Senhora de Altares de Baixo.

 

Tudo na aventura está desta forma condicionado pelas limitações em mostrar a cidade. O aparecimento de personagens a passear nas ruas, veículos ou elementos feitos de blocos no cenário estão constantemente a ser desenhados à nossa frente, muito perto de nós. É como se o desenho habitual de elementos à distância se transformasse no desenho surpreendente de elementos ao perto. Isto limita muito a nossa acção no jogo porque implica muitas vezes ter que chegar ao ponto exacto onde deverá estar um elemento para que este apareça no cenário, e esse ojacto poderá ser algo necessário para progredir no jogo: apanhar uma peça, identificar uma zona de interação ou encontrar um inimigo.

Seis das zonas da cidade original estão aqui quase reproduzidas na íntegra mas entre elas separam-nos não só pontes e cursos de água, mas também enormes loadings. Por essa razão o jogo tenta concentrar a acção numa só zona de cada vez e tudo parece demasiado perto. As tarefas e missões situam-se quase sempre numa área na qual se pode caminhar até ao destino em vez de conduzir. Isto é positivo pois conduzir carros em LEGO City é uma verdadeira dor de cabeça. Aquele que já era um dos pontos mais negativos do jogo da Wii U piora nesta versão com um controlo e comportamento ainda mais desafinado. Não é justificável que cerca de 40 anos depois do primeiro jogo de corridas uma produtora não consiga colocar num jogo uma mecânica de condução minimamente funcional.

Chase "Cesar" McCain, o encantador de marginais.

Chase “Cesar” McCain, o encantador de marginais.

 

As missões são um conjunto de tarefas que vão divertir os mais novos e proporcionar alguma recompensa aos mais velhos. A estrutura é sempre similar. Rex Fury, o Némesis de Chase McCain, têm em cada área da cidade um gang a trabalhar para ele. As nossas acções incluem executar várias tarefas com os vários alter-egos profissionais que vamos desbloqueando, intercalando sempre com lutas fáceis com marginais e pessoas com as escolhas erradas na vida. Ao contrário do jogo da Wii U, tudo se passa maioritariamente em exteriores ao nível da acção e infelizmente o jogo não conta com quase nenhum dos maravilhosos interiores do original.

As mecânicas das profissões continuam a funcionar na perfeição com os mesmos fatos habituais de Undercover: o ladrão, o bombeiro, o electricista e outros estão de regresso cada um com as suas capacidades habituais que lhes permitem destruir portas, abrir cofres, enganchar objectos ou reparar instalações eléctricas. Algumas novidades como a capacidade do astronauta em disparar como um foguetão dão um toque de novidade e diversão à série. Curiosamente, num jogo que parece cortar tudo em relação ao original, as mecânicas de trepar e de alternar entre obstáculos estão muito mais afinadas e seguras do que na versão Wii U.

Para o infinito...

Para o infinito…

 

Aquilo que também está intocável é a genial animação de personagens que a TT tem vindo a afinar ao longo das dezenas de títulos que desenvolveu. Quando correm, saltam ou nas sequências de vídeo que avançam a narrativa os movimentos dos pequenos personagens atinge a perfeição. As sequências principais são acompanhadas das vozes de actores enquanto todas as sequências secundárias são acompanhadas de texto a ilustrar os diálogo e um regresso aos mudos e humorísticos LEGO dos primeiros jogos. O jogo está completamente localizado para português mas é pena que estejam os mesmos actores a fazer vários personagens, o que se percebe. O humor é muito menos refinado e muito mais simples que o primeiro Undercover.

O ecrã de toque da 3DS funciona para mudar de personagens, ligar blocos especiais ou aceder aos vários scanners com os elementos bem colocados e de acesso fácil. No entanto, os sensores de movimento estão pouco calibrados e a câmara controlada por movimento é pouco precisa. O efeito 3D estereoscópico torna o jogo demasiado confuso pois não está bem optimizado para o mesmo.

Alguns elementos da Wii U podiam estar presentes como a possibilidade de saltar de um carro para o outro mas nesta aventura de 7 horas tudo teve que ser reduzido a um enorme grau, incluindo até as super construções que passam a ser pequenos filmes em vez de se construirem em tempo real no cenário. No entanto, mesmo com todos os problemas, é após o terminar da campanha que o jogo volta a agarrar os jogadores na tentativa de recolher todos os elementos espalhados pela cidade que vão proporcionar muito mais de 20 horas de jogo. Não será fácil, pois como os elementos só aparecem quando estamos muito perto precisamos de percorrer todos os cantinhos do cenário. Mas quem corre por gosto não cansa.

Tal como o jogo, na corda bamba.

Tal como o jogo, na corda bamba.

 

O melhor: Muito para fazer e colecionar; Mecânicas de trepar mais afinadas que a versão Wii U; Animação das personagens; Alguns red bricks como aquele que coloca todos os personagens com uma cabeça gigante.

O pior: Limitações técnicas em todo o cenário; Nevoeiro a tapar estruturas, elementos desenhados muito perto; loadings grandes entre áreas; Poucos interiores; Mecânicas de condução desafinadas.

Esta prequela de LEGO City Undercover choca de frente com limitações. A enorme e deslumbrante cidade do jogo da Wii U foi aqui reduzida a um bloco de nevoeiro e a elementos que se desenham mesmo à nossa frente. Ficará sempre a dúvida se a redução se deve a pouco tempo de desenvolvimento ou a falta de capacidade tecnológica da consola portátil mas o certo é que muito se perde nesta tentativa de adaptação. Alguns problemas como a condução são injustificáveis mesmo numa portátil mas as boas mecânicas das várias profissões continuam aqui presentes. Mais uma vez, é na continuidade após a campanha que o jogo vence com muito para fazer e colecionar.

 

(LEGO City Undercover: The Chase Begins é um exclusivo Nintendo 3DS)