Se algum dia ficar sem tema de discussão no gabinete da psicóloga, o que me parece impraticável, posso sempre falar de Animal Crossing. O que leva uma pessoa a jogar The Sims durante horas a fio enquanto tem o mundo real para além da sua cadeira já é matéria que gerou teses de mestrado tanto de psicologia, como de filosofia ou mesmo antropologia. Mas o que leva uma pessoa a jogar e viver dentro de Animal Crossing, leva o caso bem mais longe.

O certo é que quando a Nintendo nos convidou a ir experimentar um impressionante alinhamento de jogos a caminho para a 3DS e enquanto nos dava um briefing inicial sobre cada um deles, eu desesperava para agarrar nas mãos o novo Animal Crossing: New Leaf, a primeira incursão da série na estereoscópica da Nintendo. Se estamos perante um simulador de vida com um ambiente que só os Japoneses podem compreender, ou uma maravilhosa e viciante mega-fábula animal, ou ainda resquícios em forma digital do Verão do Amor de 1967 onde os alucinogénicos eram reis, não sabemos. Mas a estranha atracção que não nos deixa largar um jogo em que aparentemente estamos sempre a repetir as mesmas acções, dias, semanas e meses após meses, mantém-se intocável.

Medo!

Medo!

 

Assim como um jogo de Mario arranca sempre com o rapto da Peach a estrutura de Animal Crossing mantém-se a mesma. Lá vamos nós a chegar a uma nova localidade, caixeiros-viajantes desse circo que é a vida, quando somos abordados por um gato que quer saber demasiado sobre a nossa vida e que nos ajuda também a definir quem somos e para onde vamos. E se à partida parece que vamos jogar o mesmo jogo de sempre, há muitas alterações e surpresas no caminho em frente. A maior de todas é que mais tarde no jogo podemos evoluir para Presidente da Câmara e deixamos de gerir a nossa vida apenas ao nível pessoal para passar a gerir toda a comunidade.

Isto implica construir novos edifícios, decidir a distribuição de elementos no mapa (incluindo cursos de água), ou gerir as regras da “cidade”. Esta nova camada é adicionada ao regresso de todas as actividades às quais já estávamos habituados como pescar, procurar tesouros, plantar, cortar, apanhar borboletas e que nos conduzem ao aspecto mais viciante de qualquer Animal Crossing, o do coleccionismo. Com uma enciclopédia desta vez em 3 dimensões na qual podemos rodar os objectos, o gozo de apanhar tudo é redobrado. Claro que continuamos a poder doar as nossas preciosidades ao museu de forma a que possam ser apreciadas pelas populações, pois todos os edifícios habituais estão de regresso: o clube, os supermercados, a câmara, as lojas de roupa, com algumas novidades como uma loja de calçado, uma loja exclusivamente para a jardinagem uma imobiliária, entre outras.

Eu é que sou...

Eu é que sou…

 

O que também está de regresso, felizmente, é a ilha do jogo da GameCube fora da vila onde podemos experimentar vários Tours, uma forma simpática de nos conduzir a desafios para conseguir medalhas (como apanhar um determinado número de insectos num tempo limitado). As viagens entre a vila e a ilha são apenas um dos exemplos do humor absurdo mas maravilhoso que reina por todo o mundo de Animal Crossing. O carregamento da ilha é aproveitado para nos presentearem com canções cantadas pelo barqueiro que provocam o riso e até a gargalhada. Este misto de humor e estranheza continua bem presente em todas as personagens de New Leaf.

Todos os habitantes estão renovados uma vez que graças à maior capacidade da consola estão completamente modelados em 3D, dando-lhes uma nova dimensão às personalidades que já conhecíamos. O ambiente de jogo é aliás perfeito para a portátil da Nintendo porque o seu aspecto de maquete vista de cima adequa-se perfeitamente ao efeito 3D. Mas o melhor mesmo é a portabilidade de um jogo que nos acompanha durante muito, muito tempo.

Whatever.

Whatever.

 

Mantém-se a jogabilidade em tempo real e com calendário real, por isso podem contar com feriados, Natais ou outros eventos nos mesmos dias em que acontecem no mundo real e fica ao vosso critério vivê-los junto de outros seres humanos ou dentro de uma japonesice estranha. Se quiserem o melhor de dois mundos podem visitar as cidades próximas dos vossos amigos (multiplayer em modo local) ou as cidades distantes das vossas amigas (multiplayer online).

Animal Crossing: New Leaf parece à partida mais do mesmo mas existe tanta novidade no jogo que uma pequena demonstração torna impossível perceber a verdadeira dimensão do novo título. Há muitas novidades que se vão percebendo e muitos melhoramentos. Há interacção com quase todos os objectos na casa que estão animados e os botões de jogo foram separados para que não nos enganemos nas acções mas este é um jogo gigante e só uma boa jornada com o mesmo vai permitir mergulhar fundo em todas as novidades. Quem conhece Animal Crossing sabe que o conteúdo proporciona meses de jogabilidade e se a isso somarmos todas as novidades como nadar, mergulhar, ou trabalhar nos projectos comunitários, então New Leaf prepara-se para estar no nosso bolso durante toda a vida da consola.

Podem ir aliviando a vossa antecipação no site português do jogo, ou no psicólogo mais próximo.