O que revelarei de seguida não é mais do que uma abertura da minha parte mais íntima e dos terrores e pesadelos que sustentam os meus medos e as minhas fobias. Ser transformado em Pokémon é simultaneamente o meu segundo e o meu terceiro maior medo na vida. Por um lado, aquele medo quase licantrópico de acordarmos num outro corpo, de uma criatura que não somos nós e que, dentro da lista de 650 espécies diferentes de Pokémons, nos pode calhar a sorte de ter espinhos, cauda, pêlo amarelo, chifres, etc. Com a sorte que tenho, se um dia acordar e estiver, tal como o protagonista da série Pokémon Mystery Dungeon, transformado numa destas criaturas, de certeza que serei algo horrível como um Garbodor ou um Amoongus.
Por outro lado temos a questão claustrofóbica: isto de ser um Pokémon é muito giro não fosse o seu habitat natural uma Pokébola com menos de 30 cm de diâmetro. Eu, que não estou a ficar novo, acredito que pode ser brutalmente nefasto para as minhas costas viver grande parte do meu dia todo contorcido como uma ginasta Chinesa dentro de uma esfera. Fosse de alguma forma o Tony Carreira um Pokémon e parte integrante deste jogo, e seria totalmente verdade que Pokémon Mystery Dungeon: Gates of Infinity incluiria em si mesmo todas as minhas principais fobias e seria o mais perfeito survival horror.
E este que é um pesadelo que tenho de forma recorrente, é o conceito base deste jogo (assim como tem sido nos restantes jogos da série). Envoltos em algum mistério acordamos um dia transformados num Pokémon (de entre meia dúzia à escolha) e é-nos mostrado por uma entidade não corpórea e premonitória, a necessidade de salvarmos o mundo dos Pokémons.
É algo curioso podermos explorar este mundo e não vislumbrar um único humano, pelo menos na demonstração que a Nintendo nos disponibilizou. As cidades são unicamente constituídas por diferentes espécies de Pokémons em que cada um tem a sua profissão e o seu papel na sociedade: desde carpinteiros, ferreiros, vendedores, etc. Este pequeno twist à ideia geral dos jogos de Pokémon não é nova: em toda a série de Mystery Dungeon a abordagem a um mundo exclusivo de Pokémons era a verdadeira intenção. Mas é possível que o verdadeiro sentimento de uma sociedade exclusivamente Pokémon esteja a ser criada com este Gates to Infinity, e esse seja talvez o factor que o vai impedir de tornar-se aborrecido.
Como Tactical RPG que é (com a pequena excepção de que não é possível controlar o posicionamento dos nossos companheiros nem as habilidades que utilizam) aparenta que se o dungeon crawling for excessivo (assim como a repetição desta fórmula), este pode desacelerar o ritmo de jogo e torná-lo um pouco repetitivo. Possivelmente na versão final a narrativa e a componente “comunitária” dos Pokémons no mundo em que jogamos atribuirão ao jogo uma densidade que impeça o jogo de facilmente esgotar-se em poucas horas apenas com a exploração das dungeons.
Uma outra adição ao jogo que o torna diferente de outros jogos do mesmo modelo é a sensação que ganhamos de não sermos os únicos a explorar os mapas. É frequente o surgimento de informações tais como “o personagem x apanhou o item y”. Se de início estranhamos este tipo de mensagem por estarmos a jogar um single player, estas acabam por conferir uma carga de disputa que é normalmente atingida com as vertentes multiplayer de dungeon crawlers.