A mais épica telenovela fantástica japonesa de sempre

Existem jogos que têm coragem de instaurar uma nova mecânica num franchise com sucesso e são louvados por o fazerem, pois mostram que estão a tentar “avançar” as mecânicas de jogo desse franchise para um novo nível. Muito frequentemente – mais do que as pessoas dentro da indústria gostariam de admitir – estas inovações são forçadas pelos departamentos de marketing e não pelos criadores do jogo, pois há que apresentar uma razão para os jogadores que compraram o primeiro jogo da saga comprarem o segundo, e os criadores querem é manter o processo de desenvolvimento do jogo curto e coerente.

Fire Emblem Awakening  não é um destes jogos, pois oferece não uma mas inúmeras inovações e mecanismos completamente novos que foram pensados minuciosamente para conviverem em harmonia. Estas adições ao jogo propelem-no para além de qualquer outro RPG estratégico até à data, concedendo-lhe um nível de profundidade e complexidade superior, mas mantendo a jogabilidade intuitiva, acessível… e genial.

"I'm ready for the front lines!"

“I’m ready for the front lines!”

 

O nome desta saga tem bastante peso no Japão, mas no resto do mundo passava relativamente despercebido para a maioria do público. Awakening veio mudar isso, mostrando desde as primeiras imagens que a Intelligent Systems iria revolucionar o género.

Awakening é também o titulo perfeito da saga Fire Emblem para novos jogadores entrarem, com a inclusão de um “Casual Mode” em adição ao “Classic Mode”. O jogo permite também um grande controlo do jogador sobre o próprio motor de jogo, permitindo controlar a velocidade das animações de combate, a quantidade destas animações que existe, a dificuldade,  entre muitas outras opções que personalizam radicalmente a experiência de jogo, tornando-se mais acessível para menos habituadas e habituados.

Graficamente, Awakening é seguramente o jogo mais belo que saiu para a 3DS até à data. As animações das cutscenes são simplesmente lindas, com um equilíbrio perfeito entre gráficos 3D e o estilo clássico de Anime, deixando-nos a desejar que existisse uma série ou filme de animação que utilizasse esta técnica do principio ao fim.

O perfeito balanço entre animação 2D e 3D, no mais que batido estilo anime

O perfeito balanço entre animação 2D e 3D, no mais que batido estilo anime.

 

Nos gráficos dentro do jogo, as cenas 3D no combate são absolutamente fluídas na sua animação e fazem-nos sentir que não estamos a ver vezes e vezes sem conta a mesma animação de ataque, e na realidade não estamos, pois as animações são aleatórias e existe muita variedade. O “tabuleiro” de jogo é retro e baseado em sprites 2D, no entanto funciona perfeitamente em conjunção com os outros estilos gráficos.

É impossível falar dos gráficos de Awakening sem mencionar a controvérsia que existiu à volta do design das personagens. Quando joguei pela primeira vez uma cena de combate e apareceram as personagens em 3D a lutar, pensei para comigo que existia um bug no jogo, pois parecia que as personagens estavam mal colocadas no topo do terreno, e que estavam afundadas dos tornozelos para baixo. Este problema é razoavelmente comum na modelação 3D: se um terreno é mais alto que os outros e a personagem está programada para aparecer na coordenada X, neste terreno a personagem aparece com os pés enterrados por baixo do mesmo. No entanto rapidamente me apercebi que na realidade as personagens não têm pés evidentes no modelo 3D, e apercebi-me que era uma escolha estética. Habituei-me rapidamente e com o tempo dá personalidade ao jogo e distingue-o de ser só mais um JRPG.

A narrativa de Awakening pode parecer genérica e simples, no entanto com o desenrolar do jogo é fácil de perceber que na realidade é uma narrativa muito complexa, pois o jogador é que influencia pesadamente os acontecimentos interpessoais das relações das personagens. Por exemplo, se duas personagens são emparelhadas frequentemente em combate pelo jogador, estas têm uma grande probabilidade de ter uma relação de amizade forte que se pode transformar numa relação amorosa. E consequentemente casar e ter filhos. Sim, ter filhos.

Estes filhos são uma das mecânicas principais e mais inovadoras do jogo. Nós podemos controlar que casais se formam no jogo, influenciando os filhos que estes casais vão ter. Qual é o interesse disto? Os filhos dos nossos guerreiros vêm do futuro – por meios de narrativa que não vou revelar – e têm a possibilidade de se juntar ao nosso exército.

O que isto significa é que para além da mecânica de combate estratégico e da evolução das personagens, Fire Emblem Awakening torna-se numa estranha experiencia social na qual controlamos as relações pessoais das nossas personagens na tentativa de produzir os melhores guerreiros para as nossas fileiras. O jogo deixa-nos observar o desenvolver destas relações amorosas e a dinâmica de casal que as nossas personagens têm, criando uma narrativa altamente complexa de relações pessoais.

A observação das relações entre as personagens cria no jogador uma compaixão muito maior com estas do que seria de esperar neste tipo de jogo, o que torna o facto do título ter morte-permanente muito mais pertinente. Deixem-me clarificar: se uma personagem morre em combate… morre, isto é, para sempre.. não volta!

Cuidado Chrom! Vais levar porrada!

Cuidado Chrom! Vais levar porrada!

 

Esta característica dos jogos Fire Emblem ganha muito mais profundidade neste titulo, pois deixa-nos com decisões muito complicadas em mãos: consegui passar um nível no qual estava preso há quase uma semana, mas no processo do combate perdi uma das personagens que mais evoluí e que até estava quase a casar com outra e dar-me um novo filho-guerreiro, faço Load de um Save anterior e tenho que passar de novo este nível ou aceito a morte da personagem? É complicado…

O jogo deixa-nos também total liberdade para controlar as Classes das nossas personagens, dando-nos não só a oportunidade de evoluir a Classe em que uma personagem se encontra para outra à nossa escolha, mas também a de reescrevermos a Classe base de qualquer personagem. Isto permite-nos controlar o nosso exército na totalidade.

O Melhor: Tudo; O equilíbrio das mecânicas em conjugação com os gráficos divinos dá-nos um produto final quase perfeito.

O Pior: A personagem principal, a que o jogador cria, não tem muitas opções de personalização, principalmente relativamente à Classe inicial com a qual começa.

Fire Emblem Awakening é um dos melhores jogos que já saiu para a nova consola portátil da Nintendo. A personalização que o jogo nos permite é inacreditável e apesar das horas de jogabilidade serem bastantes (entre as 25 e as 30) o valor de replay é imenso, e aconselhável! Cada vez que se joga, a experiência é completamente diferente devido ao desenvolvimento que optamos por dar ás nossas personagens e, apesar disto não influenciar a história base ou mudar o final directamente, muda completamente as relações entre as nossas personagens.

Se existe uma Nintendo 3DS num raio de dois quilómetros recomenda-se vivamente a aquisição deste jogo, nem que tenha que ser jogado ás escondidas durante a madrugada, vale a pena.

 

(Fire Emblem: Awakening é um exclusivo Nintendo 3DS)