No campo da parapsicologia, a Telepatia é uma habilidade que permite adquirir informação sobre outras pessoas, casualmente mais próximas que outras. Muitas vezes confundida com perspicácia ou intuito, esta capacidade é discutível entre crentes e não crentes, separando cientistas por estudos elaborados ao longo de muitos anos e que ainda carecem de comprovação com mais valor sobre o fenómeno. Se uma mulher ou um homem são capazes de encontrar uma resposta sobre outra pessoa, sem qualquer fonte prévia de conhecimento, muitas dessas réplicas de conhecimento residem em memórias. Mas, mesmo que estejamos habilitados desta percepção anómala ou que a própria evolução humana permita adquirir, quais seriam as consequências disso?
Saber que o nosso filho assassinou alguém sem vermos a roupa com sangue? Saber que o marido teve outro relacionamento amoroso sem ainda ver a conversa no facebook? Quando o recente namorado se diz vegetariano e sabemos que não é, quando nem reparámos nos pratos de bacon por lavar?
Segredos, imagens, momentos, sem que ninguém nos tenha dito e sejam do nosso conhecimento pode ser uma habilidade perigosa, ao ponto de não conseguir entender o que é real ou não real. Ao ponto de passarmos para o outro lado do espelho. Ao ponto de não viver uma vida como a conhecemos mesmo que consideremos o conhecimento como poder. Assim será em Remember Me, numa cidade reinventada com tecnologia que permite aceder às memórias dos demais. Uma Neo-Paris em 2084, onde as pessoas vão partilhar conhecimento e definir-se pelas memórias, pois é de recordações que somos moldados. Todos vivemos um presente moldado pelo passado.
Não se fica apenas pela partilha de memórias, como também pela capacidade em alterar as memórias dos outros para manipulá-los. Imaginem se conseguissem alterar a memória de alguns dirigentes políticos como a de Kim Jong-un, Presidente da Coreia do Norte, armazenando no seu cérebro uma vida passada ao lado de budistas. Imaginem reestruturar as memórias de Pedro Passos Coelho para se recordar das promessas durante as eleições. Ou até alterar a memória da mãe para nunca se recordar daquela tarde de estudo entre dois colegas que faziam tudo menos estudar. Nem tudo seria mau para alguns.
Com uma mecânica nova intitulada “memory remixing”, o novo jogo da Capcom e da Dontnod Entertainment vai trazer-nos algo de novo: reorganizar a mente de Nilin, a protagonista, e controlando as dos outros. Por cada memória recolhida teremos mais conhecimento em combate e outras habilidades, lutando com vários que se interpõe no caminho. Como refere no vídeo em baixo, alguns destes – os leapers – consumiram tantas memórias de tanta gente que sofreram mutações. Imaginem se cada um de nós fosse capaz de absorver todos os conhecimentos por telepatia? O que seria de nós?
– Querido…
– Sim, já sei.