Um homem, uma cela, um castelo, uma minigun. É difícil não esboçar um sorriso de nostalgia ao pensar no primeiro FPS que muitos de nós jogamos. Ao responder a essa pergunta, grande parte de nós responderá imediatamente Wolfenstein 3D. E as dúvidas persistiram durante anos e anos: mas foi este o primeiro jogo da série? E era mesmo 3D?

Não era 3D, como poderia ser? E não sendo o primeiro jogo na primeira pessoa da ID Software, acabou por ser aquele que agregou as características chave que definiram o género, e se mantiveram mais ou menos intactas ao longo de 20 anos. Se pensarmos na forma como operamos um jogo na primeira pessoa, percebemos que apesar do desenvolvimento da tecnologia, de maior rapidez de processamento, quantidade abismal de polígonos e cálculos por segundo, quantidade inacreditável de helicópteros que caiem e também de prédios que desabam, a dinâmica de jogo mantém-se inalteradas. No habitual jogo de acção na primeira pessoa encontramo-nos num ambiente complexo, o qual temos de simplificar para progredir. E este é o segredo de todo o FPS: inimigos, disparar, ausência de inimigos, avançar. Wolfenstein foi assim, o FPS actual continua a operar da mesma forma.

Memo na boca!

Memo na boca!

 

Nunca jogaram Wolfenstein 3D? Ora por quem sois, faxavor de entrar!

2013 marca o regresso da franquia da ID Software, desta feita pelas mãos da MachineGames, com Wolfenstein: The New Order. Em 2001 vimos o regresso da série em Return to Castle Wolfenstein, um jogo que, na tradição da liberdade histórica e insanidade narrativa (ou ausência de) do original, levou o jogo para o território do oculto. E se a campanha singleplayer não surpreendeu, já o modo multijogador, com Enemy Territory, deu alegrias a muita gente.

Considerado como o jogo que colocou o género FPS no radar dos jogadores, Wolfenstein 3D estabeleceu o paradigma sobre o qual DOOM seria desenvolvido, dando o empurrão final para que toda, mas toda a gente lá no escritório descesse substancialmente os níveis de produtividade da empresa. Curiosamente, a experiência de shooter na perspectiva de primeira pessoa Made in ID vem de mais atrás ainda, concretamente de Hovertank 3D e Catacombs 3D.

Baseado num clássico dos micro-computadores dos anos 80, Castle Wolfenstein da Muse Software, Wolfenstei 3D apresentou-nos o primeiro herói icónico do FPS, que apesar de ter backstory e até nome próprio, para a maioria dos jogadores acabava por ser uma versão glorificada do DOOM-Guy, o gajo com armas que mata bicharada ou Nazis. B.J. Blazkowicz de seu nome, protagonizou 3 episódios e uma prequela, antes do seu regresso em 2001. O famoso interface azul, áreas secretas e a Minigun são algumas das características icónicas que o jogo apresenta. Mas era o seu poderio tecnológico na altura, juntamente com a acção frenética e controlo rápido do personagem que se mantiveram como chavões da ID Software até aos dias de hoje. Foi ainda um dos mais conhecidos jogos partilhados através de Shareware.

Se nunca jogaste isto, não és Hipster.

Castle Wolfenstein da Muse Software. Se nunca jogaste isto, não és Hipster.

 

Wolfenstein 3D foi responsável ainda por alguma controvérsia pela presença do hino Nazi e de swastikas, levando a que o jogo fosse banido na Alemanha e fortemente censurado em algumas versões. Destaca-se a da 16-bits da Nintendo, chegando ao ponto de ser retirado o bigode ao boss Hitler, perdão, Staatmeister na versão SNES, com os cães a serem substituídos por ratos mutantes. Obviamente.

Wolfenstein: The New Order surge como a continuação da história iniciada em 1992. Nesta realidade distópica, o Terceiro Reich ganhou a guerra nos anos 40 e por razões desconhecidas, mas que iremos descobrir ao longo do jogo, conseguiu dar um salto tecnológico, estabelecendo-se nos anos 60 como potência mundial, exercito de Mechwarriors e robots Nazi incluído. No trailer ouvimos Blazkowicz a falar do estado das coisas e a fazer a promessa de que, antes do dia acabar, muito sebo será limpo. Temos a confirmação de que não existirá modo Multiplayer, o que sinceramente, é um alívio e indicação de que a MachineGames nos quer oferecer uma campanha de qualidade. Porque não esperamos outra coisa, porque o legado é muito grande.

Wolfenstein-The-New-Order

A nova geração ao virar da esquina.

 

O universo apresentado neste New Order é reminiscente de outro shooter, que no fundo adaptou os eventos da Segunda Grande Guerra a uma realidade alternativa e futurista – Killzone. Talvez seja por isso, pela estética visual ter semelhanças e elementos de inspiração comuns, que o setting deste novo Wolfenstein não surpreenda tanto como podia. O facto de existir um foco sobre inimigos cibernéticos, pode também desagradar a alguns, mas no fundo esperamos ser surpreendidos pela positiva. Por muito que olhemos desconfiados para remakes ou reboots, a verdade é que existem clássicos que merecem não ser esquecidos. Wolfenstein traz-nos boas memórias, e por isso é com agrado que recebemos a notícia da continuação da saga, que se pensarmos bem, não teve muita cadência de jogos nos últimos 20 anos.

Fica ainda a expectativa de como irá a MachineGames aproveitar a época dos anos 60, para dar a este Wolfenstein: The New Order uma camada extra de elegância. Porque usar o nome Wolfenstein e uma música de Jimi Hendrix no mesmo trailer, é coisa séria. E este ano já tivemos misturas harmoniosas de época, com Bioshock Infinite, por exemplo. Já vimos magia a acontecer. Esperamos que Wolfestein nos devolva o brilhozinho nos olhos que tivemos quando o jogámos pela primeira vez. Não é pedir muito, pois não?

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