A vacina contra a Raiva

Os pequenos coelhos brancos tresloucados são daqueles case studies curiosos: a capacidade de se separarem da marca que lhes deu origem (no caso, o clássico Rayman), e assumirem o peso do seu próprio nome enquanto marca (potencialmente) mais reconhecível para o público comum do que o próprio Rayman. A diversão já conhecida que os Rabbids trouxeram aos seus jogos de Wii era grande, o que deixava criar uma grande expectativa naquele que é hoje o único rival do expoente máximo do grande party-game da Wii U: o NintendoLand.

Para mergulhar neste Rabbids Land recorri à prova-de-fogo de qualquer Party-Game: amigos e copos. Com a mesa coberta por garrafas de bebidas brancas, fomos enchendo copos enquanto criávamos os nossos Rabbids.(*) Rabbids Land tinha mais do que tudo a tarefa dificultada: o grupo que reuni, a par de mim, são ávidos fãs e jogadores de jogos de tabuleiro. O que logo no ecrã inicial estendeu um fio da navalha para os Rabbids calcorrearem.

Desde o menu inicial ao desfecho de cada corrida é possível, se formos tomando atenção a diversos pormenores, perceber o ponto alto do jogo: a loucura aleatória que os próprios Rabbids trazem aos jogos em que estão presentes, cheio de humor situacional, muitas vezes infantil, mas que consegue rasgar um sorriso a qualquer um. Os momentos de humor e diversão deste Rabbids Land são isto mesmo: fugazes, não-prolongados, suaves e não histéricos. O jogo diverte enquanto os mini-jogos são novidade, o que após esgotado este factor, passa a ser simplesmente monótono.

Diz que é uma espécie de Jogo da Glória...mas mais parvo.

Diz que é uma espécie de Jogo da Glória…mas mais parvo.

 

O objectivo do jogo em modo multijogador é extremamente simples: o primeiro jogador a obter 10 troféus (que podem ser obtidos de diversas formas, seja a roubar aos oponentes, ou a vencer os mini-jogos) e a chegar à casa que se situa no centro do tabuleiro, vence.

O tabuleiro simples (2 circunferências concêntricas divididas em casas) é um reflexo da superficialidade do jogo. Se observamos jogos como o Mario Party 9 e o seu esforço hercúleo de manter o factor novidade quase sempre presente, apresentando-nos 80 bons mini-jogos, os 19 mini-jogos pecam em vários factores. Apesar de utilizarem todas as potencialidades dos periféricos da Wii U (o que inclui termos de soprar para o microfone do GamePad), de tematicamente serem bastante divertidos e imaginativos, e de apresentarem uma diversidade curiosa, a realidade é que falham no equilíbrio de mecânicas. Não basta os mini-jogos serem apenas para 2 jogadores (do qual falaremos um pouco mais à frente), como o facto de um jogador jogar com o GamePad e outro com o Wii Remote, a realidade é que em alguns mini-jogos um dos lados (seja o Pad ou o Remote) têm a tarefa facilitada, e acabam por estar mal conseguidos, o que implica que em determinados mini-jogos (e perceberão isso se os repetirem algumas vezes e se trocarem de “lado”) um jogador vai estar sempre beneficiado em contraste com o outro, não por culpa do periférico, mas por culpa do desequilíbrio mecânico e funcional que os criadores impuseram ao jogo.

Zombies! Faltavam Zombies!

Zombies! Faltavam Zombies!

 

Todos nós já fomos a festas. Apesar de não me ter acontecido, suponho que a pior situação num evento assim é não sermos o “pessoal fixe” que festeja, mas sim o “pessoal não-cool” que fica apenas a olhar. E é aqui que Rabbids Land falha redondamente enquanto party-game: se em cada mini-jogo apenas o jogador que está a jogar o seu turno e um jogador que o irá defrontar/cooperar (aleatoriamente escolhido pela consola) jogam, os outros 2 ficam apenas a olhar. Se alguns argumentam que ao contrário de NintendoLand, que necessita de um grande investimento de periféricos (para ser jogado ao máximo necessita do GamePad e 4 Wii Remotes + 4 Wii Nunchuks), e que Rabbids Land necessita apenas do Pad e de um conjunto Remote + Nunchuk, a realidade é que este factor acaba por quebrar o ritmo de diversão de um grupo, visto que na totalidade do tempo apenas metade dos jogadores está em jogo. Admitimos no entanto que a ideia de rotatividade do Pad está bem pensada, o que permite apenas o jogador que está no seu turno visualize quais os trunfos tem na manga sem que os outros tenham conhecimento.

Os miúdos "não-fixes" ficam a olhar!

Os miúdos “não-fixes” ficam a olhar!

 

O melhor: A utilização em extremo das potencialidades do GamePad; O humor dos Rabbids e o visual divertido; A criatividade presente nos mini-jogos.

O pior: Tornar-se enfadonho após quatro ou cinco jogos; Apenas 2 jogadores jogarem em simultâneo cada mini-jogo; O modo single-player ser virtualmente inexistente.

Rabbids Land apoia-se num franchise que cresceu para além de qualquer expectativa. Apesar de ser um jogo divertido, e apresentar alguns mini-jogos e interacções entre os jogadores que dão momentos de riso quando jogado em grupo, o facto de não poderem jogar todos os jogadores em simultâneo acaba por cortar um pouco a ideia de jogo de festa, e só o é verdadeiramente se pensarmos que os dois jogadores que ficam sempre de fora podem ir bebendo uns copos enquanto vêem os restantes a jogar.

* Corrijo um pequeno exagero criado para florear a frase: a mesa não estava coberta, tinha apenas 4 garrafas de bebidas diferentes, porque cada um tem o seu gosto. E qualquer referência a estados alcoolizados durante o jogo são notoriamente empolados. Bebemos um copo cada. E mais nada.

5.5

Sobre as análises e sistema de classificação

(Rabbids Land é um exclusivo Nintendo Wii U)