Dejá vú para uns; dor de cabeça para outros.

O novo jogo da série da Techland, Dead Island: Riptide dá continuidade aos eventos finais do primeiro título. Todos os protagonistas anteriores estão a bordo de um navio infestado de zombies; peripécias hilariantes vão ocorrer no interior desse mesmo navio e os nossos personagens acabam por naufragar em Palanai. Uma ilha aparentemente paradisíaca, onde o sossego não existe, pois cedo damos conta que também ela está apinhada de zombies. Descobrimos que nessa ilha existem pequenos acampamentos com sobreviventes e é interagindo com eles que vamos progredindo na nossa “desesperada” fuga de Palanai. Portanto tudo se mantém na mesma; andar pela ilha a fazer quest’s na tentativa de fugir de lá.

Sejam então bem vindos a Palanai: o anti-paraíso. Dead Island: Riptide é um jogo problemático que pode ser apreciado de diferentes prismas. Para quem jogou o primeiro título e o adorou certamente vai nutrir o mesmo afecto por Riptide. Quem jogou o anterior e gostou, mas achou que a sua fórmula devia ser melhorada; vai ter uma decepção. E para aqueles que nunca jogaram Dead Island e pensam ir em busca de um bom survival; o melhor mesmo é morrer na praia (literalmente) no momento em que dão à costa em Palanai. No entanto nem isso é possível. Refiro-me ao morrer, dado que os nossos protagonistas parecem ser imunes ao vírus responsável pela epidemia.

Esta imunidade é um tanto ou quanto paradoxal, pelo menos para mim, num jogo em que o mote é a luta pela sobrevivência. As lutas caracterizam-se por um esbracejar e esquartejamento de zombies, que quando nos atingem simplesmente nos provocam um ligeiro blackout de segundos, para de seguida estarmos novamente em pé de igualdade com eles no combate. Isto deita por terra toda e qualquer sensação de tensão e necessidade de estratégia pensada para uma fuga bem sucedida, bastando para isso seguir em frente e ir degolando ou desmembrando quem lá vem.

Salta! Salta! Salta!

Salta! Salta! Salta!

Os problemas de Dead Island: Riptide vão desde as suas repetitivas missões, passando por uma mecânica tosca, bugs que afectam a jogabilidade, estória pobre e animação plástica dos seus personagens. Riptide traz-nos todas as falhas do título anterior, e apresenta-nos um jogo que parece ser o mesmo de há dois anos atrás.

A campanha poderá rondar as nove horas de jogo se se focarem nas missões principais e o dobro do tempo caso se dediquem a fazer as secundárias. Todas as missões, quer principais quer secundárias, são demasiado repetitivas e pouco interessantes, caracterizando-se por terem bastantes sub-missões dentro da missão primária e todas elas consistem em fazer recados e favores a pessoas dos diversos acampamentos. O facto de ser tudo tão repetitivo não incentiva em nada a dedicação que as missões secundárias poderiam atrair. Repetitivos são também os diálogos com os NPC’s; não sentimos qualquer tipo de interacção entre eles e limitam-se a repetir as mesmas frases de x em x segundos. O seu aspecto demasiado plástico, desprovidos de qualquer animação facial, fazem-nos pensar que estamos à conversa com insufláveis.

São lamentáveis a quantidade de bugs e glitches a que assistimos (a versão testada foi a de consola); zombies que chegam a atravessar paredes; armas que ao serem arremessadas desaparecem em pleno ar, para as perdermos para todo o sempre; situações em que ficamos entalados no mapa e do qual não conseguimos sair, vendo-nos obrigados a reiniciar o jogo a partir do checkpoint mais próximo. Situações deste tipo ocorrem com muita frequência, conduzindo o jogador à frustração.

Aquele tipo ali à frente na esquina inferior da casa está a atravessar a parede :/

Aquele tipo ali à frente na esquina inferior está com cara de quem atravessa a parede :/

Se há coisa que era interessante em Dead Island era o combate corpo a corpo com recurso a armas brancas. Em Riptide, esse sistema continua a ser divertido, embora com imprecisões que não foram corrigidas, resultando na sua maioria num combate turbulento, em que fazer pontaria para lançar facas nem sempre resulta bem e as pancadas que infligimos nos adversários são algo aleatórias. A dada altura dei por mim a tentar uma luta ao estilo Dead Space; manobrando uma moto serra queria cortar as pernas, braços e por fim a cabeça de um pobre zombie, mas sendo a mecânica pouco responsiva e desafinada, acabei por ficar com um monte de carne picada para lasanha. A quantidade de armas brancas é abundante, o mesmo não se podendo dizer das armas de fogo; são escassas, tal como as munições.

Podemos então fazer uso de cutelos, facas, sabres, pés de cabra, bastões de baseball, pistolas de pregos, etc. Uma escolha muito interessante e variada; sendo-nos ainda permitida a possibilidade de criar variantes dessas mesmas armas, a fim de as tornar mais eficazes, como por exemplo enrolar arame farpado num bastão ou construir uma boa faca a partir de um pedaço de lâmina que encontrámos em algum lugar. Um bom pormenor que se mantém é a reparação do desgaste que as nossas armas apresentam, ao fim de algumas utilizações. Estão a ver aquela faca com lâmina “xpto”, cheia de upgrades que eu atirei contra um zombie, mas graças ao grande poder dos bugs que este jogo apresenta a perdi para todo o sempre? Tramado não é?

WTF?

WTF?

 

O modo cooperativo de Dead Island: Riptide é o seu ponto forte, e de preferência com malta conhecida para que o entendimento seja maior e a diversão também. Na companhia dos vossos amigos vão talvez sentir um jogo menos frustrante e rir-se muito da forma como aplicaram um golpe final num zombie ou pelo facto de o vosso colega ter ficado entalado entre caixotes e nem a cacete conseguir sair de lá. Portanto se não querem enlouquecer sozinhos a jogar Dead Island: Riptide, o ideal é que seja em clima de festa, com os vossos amigos.

O melhor: Desmembramento de zombies; Modo cooperativo; Arsenal de armas brancas bastante variado.

O pior: Bug’s que afectam em muito a jogabilidade; Estória pobre; Diálogos e animação de personagens desprovidos de qualquer sentimento; Sistema de missões demasiado repetitivo e pouco cativante, não promovendo o incentivo.

Dead Island: Riptide ficaria aceitável sob a forma de DLC; no entanto chega-nos às mãos um jogo sem brio que peca e muito por não ter corrigido os erros do anterior, nem mesmo melhorar e inovar o conceito. A presença de bugs é tão constante, que acaba por manchar a jogabilidade e a repetição de tarefas conduzirá ao tédio de muitos jogadores. Este é um franshise caracterizado por um forte hype; desde o trailer de lançamento do primeiro titulo em 2011, até à polémica edição de coleccionador de Riptide. Um franshise que prometia, mas não cumpriu.

(versão testada: PlayStation 3. Também disponível em PC e Xbox 360)