A capa da Game Developer Magazine deste mês deixa um vazio no peito muito maior que o final do nono episódio da Guerra dos Tronos. Um fundo preto sem qualquer fotografia ou ilustração, apenas com as palavras a 8 bit no centro: “Game Over”.
Muitas revistas de videojogos já passaram pelas minhas mãos. Desde que um primo meu me trouxe de Londres nos anos 80 revistas como a VideoGames & Computer, ou a Nintendo Power, que muitas foram as publicações lidas: as primeiras Joystick francesas que começaram a aparecer em Portugal; as Micro Mania espanholas que vinham recheadas de códigos para os jogos; assim como dezenas de outras publicações diferentes desde os primórdios até aos dias de hoje que se compram aleatoriamente.
No entanto, duas dessas publicações foram sempre sagradas e sempre tive assinatura. A primeira é a Edge, provavelmente o melhor jornalismo mundial sobre videojogos. A segunda é a Game Developers Magazine, a revista onde se discute o processo de fazer jogos e tudo o que está por detrás dos bastidores. A partir de hoje só a primeira continuará a chegar no correio, a ir comigo para o café, para a praia, para o metro. A outra, acaba de morrer ao fim de 19 anos de existência.

Algumas das minhas meninas pousaram para a fotografia. Infelizmente, uma destas vai deixar de estar nas prateleiras cá de casa.
A revista em papel é um mercado com uma sentença de morte eternamente anunciada. Se é certo que vai continuar a existir, se é certo que as pessoas ainda compram revistas, a quebra nas vendas de publicidade faz com que as equipas se estejam a tornar mais pequenas e, por sua vez, as pessoas que ficam andem mais exaustas. Estão a ver a bola de neve a acontecer certo? Num mercado em que por exemplo temos que analisar jogos, ter uma pessoa com cargas horárias com pouco descanso torna a sua clarividência muito menos paciente.
Por isso é que todas as grandes revistas já começaram a investir muito na sua componente online ou de tablets. Se um dia a Edge anunciar que vai fechar a edição física eu vou ficar 7 meses deprimido, mas conforta-me saber que a edição digital que já oferecem no iPad é um dos melhores exemplos de como deverá ser o futuro (lado a lado com a edição iPad da Wired).
No entanto, uma revista que trabalhe num nicho, ou em países com pouco mercado estão condenadas à falência no panorama actual. É certo que vamos continuar a ter o Gamasutra (o irmão online da GD), mas fica a faltar o tacto e o cheiro do papel. Fica a faltar a revista dobrada sobre si mesmo segura numa mão enquanto lemos na cama.
A GD foi e sempre será a mais respeitada revista na indústria dos videojogos pelos criadores e por uma grande parte dos jogadores. Uma revista que tinha a coragem de fazer capas com Papo & Yo, com Super Meat Boy, com Sound Shapes; ou com Brutal Legend, mesmo que no interior estivessem artigos sobre os blockbusters AAA. Uma revista recheada de post-mortem de todos os vossos jogos preferidos, isto é, artigos onde está detalhado todo o processo e fases de criação que o jogo teve, e os altos e baixos dessa construção.
O último exemplar é grátis. Está disponível em PDF para todos os que o quiserem ir buscar. Façam um favor aos videojogos. Descarreguem.
Obrigado GD.