O mundo inteiro à espera de uma caixa. A antecipação da conferência, bem mais do que os jogos, era de qual seria a aparência e o preço da consola de próxima geração da Sony. Então vamos desde já despachar essa parte. Sinceramente, parece que colaram duas PlayStation 2 uma a outra. Porém, num momento em que parece que todas as marcas estão com medo de arriscar em designs mais arrojados (até a Apple deixou de supreender nesse campo) é uma aposta minimamente acertada para uma nova consola.
O local escolhido pela Sony surpreendia logo à entrada. Localizado no Los Angeles Memorial Sports Arena, o espaço similar a um pavilhão Atlântico contava com um enorme ecrã que em curva atravessava grande parte da área. Enquanto esperávamos e todos se iam sentando, estavam no palco jogadoras e jogadores a jogar títulos de PS Vita, PlayStation 3 e PS4 que iam aparecendo em tempo real nos ecrãs.
Depois dos óbvios e esperados efeitos de luz, montagens vídeos de atirar os epilépticos para o hospital, gritos da audiência, e de decibéis que fazem tremer toda a nossa estrutura óssea, Jack Treton lá entrou em palco.
A primeira prioridade foi assegurar que a PlayStation 3 e a PS Vita não vão ser esquecidas. A PS3 vai contar com ainda muitos jogos de alto nível como Beyond Two Souls, Puppeteer, Gran Turismo 6 e Rain.
Para a Vita tivemos basicamente o anúncio de adaptações de jogos de catálogo como os dois primeiros God of War, Dead Nation, Final Fantasy 10, Walking Dead e o maravilhoso Flower. Foi logo frisado uma primeira vez que a PS Vita será o destino preferido do streaming dos jogos PS4 e que será um “controlo remoto” para que se possam jogar esses jogos, por exemplo no conforto da cama. A verdade é que a Vita, mais uma vez, não recebeu muito amor da parte da mãe, mas talvez estejam novamente à espera da Gamescom para anunciar novos exclusivos. Por enquanto, apenas Tearaway.
Após a revelação do design da consola, Michael Lyton da divisão de entretenimento da Sony, veio ao palco fazer aquilo que arrepia os jogadores. Falar dos serviços de cinema, música, televisão, etc. O medo que fossemos entrar em território de conferência Microsoft era real, mas a coisa foi rápida. Claro que isto são serviços que vamos ter em Portugal a partir de 2020, por isso não vale a pena gastar muitos caracteres com isso.
Couberam a Shu Yoshida as honras de apresentar o que a PS4 nos vai trazer em jogos e aqui surgiu um primeiro problema. Com Infamous Second Son adiado para o primeiro trimestre de 2014, restam à consola apenas três jogos exclusivos prontos para o arranque da mesma no final do ano: Killzone Shadowfall, Driveclub e Knack.
Killzone está com muito bom aspecto mas sinceramente soa a mais um shooter. Os elementos que vimos na nova jogabilidade na floresta pareciam ter sido decalcados de outros jogos como Halo e Resistance. Driveclub promete mas também não é nada que não tenhamos visto já, enquanto Knack continua a não convencer. Isto é, não há nada de verdadeiramente original e revolucionário para o arranque da consola.
Existem sim novos IP’s, 8 novos em 20 exclusivos prometidos para o primeiro ano de vida da consola mas isso não passa para já de uma promessa. The Order: 1886 é um desses jogos e parece ser uma deslumbrante mistura de época vitoriana com época moderna, um estilo que já começou a ser explorado em jogos como Dishonored mas que aqui parece ir muito mais longe. Assim como Killzone, e todos os jogos apresentados nas várias conferências, para esta geração, os horizontes e os espaços abertos são graficamente magníficos.
As demonstrações técnicas têm sempre de marcar presente e mais uma vez foi a Quantic Dream a ser chamada. O seu velho era afinal uma apresentação chamada The Dark Sorcerer, uma brincadeira engraçada da Sony que misturou gráficos de próxima geração em tempo real, mas mostrou também que David Cage afinal conhece outra emotion: o humor.
Os Indies foram o segundo melhor momento da apresentação (já lá iremos ao primeiro). A Sony mantém essa aposta acertada e depois de ter assegurado arranque exclusivo de The Witness na sua consola, consegue agora fazê-lo também com Transistor da Supergiant Games, um jogo que a critica que experimentou já aplaude. Para alem destes temos mais 8 jogos a fazerem a estreia de consola na PS4, incluindo Don’t Starve, Octodad e Secret Ponchos.
A Square Enix mostrou que continua a saber fazer trailers bonitos e foi isso que fez para os novos Final Fantasy e para Kingdom Hearts III. Ou seja, está tudo confirmado mas apenas sabemos que estão a fazer.
Depois começou o período “aí que isto ainda não está pronto” da Sony. Assassin’s Creed IV: Black Flag foi falhando aos poucos até acabar completamente por crashar o jogo. Watch Dogs correu sem problemas, e mais uma vez deixou-nos com uma vontade louca de o experimentar. A interacção com tudo o que nos rodeia e tem electrónica está lá: portões de segurança, televisores, telefones, códigos de portas, carros, barcos, etc. O momento em que o personagem provoca um Blackout nas luzes e o momento em que a iluminação regressa foram maravilhosos.
A estreia mundial da jogabilidade de Destiny voltou a ter paragens aqui e ali. Fica a dúvida se o hardware da Sony está com problemas ou se era apenas as unidades que estavam a ser usadas na apresentação. Destiny parece estar um bom jogo cooperativo mas é nos eventos públicos que mostrou ser mais original. Eventos com vários jogadores online que podem surgir a meio de uma campanha cooperativa sem que o jogo pare.
Depois de pequenos teasers de Elder Scrolls Online e de Mad Max chegou então o melhor momento da noite. A Sony anunciou o preço da sua consola e quase que se ouviu ali o suspiro dos executivos da Microsoft. 399 dólares e 399 euros é um preço bem abaixo daquele que vai ser cobrado pela Xbox One. E depois, veio o trolling:
Jack Treton veio ao palco afirmar que quando um jogador compra um jogo físico, é do direito do comprador fazer o que quiser com o jogo: vender, trocar, emprestar. Num ataque directo e continuado à marca rival, Treton referiu ainda que a consola não precisava de se ligar online a cada 24 horas e que não fará autenticação de jogos pela internet. Estes momentos trouxeram à memoria o conceito de guerra de consolas que já não víamos há muitos anos.
A conferência da Sony acabou por ser muito ambígua. Apenas três jogos exclusivos no arranque é muito pouco e não foram revelados ainda muitos dos exclusivos que possam estar no horizonte. Mas o preço acaba por ser o que pode decidir se um sistema vence ou não, e a nova PS4 está com um preço que se prepara para arrasar no mercado. Depois deste final de dia o panorama entre Sony, Microsoft e Nintendo para os próximos 2 anos vai ser muito curioso de observar. E nós, cá estaremos para o ver.