Se foi no stand da Nintendo que vi o melhor jogo da E3 2013 com Bayonetta 2, foi no stand da Square Enix que tive a maior surpresa da feira, e não, não foi com Final Fantasy ou com Thief. Murdered: Soul Suspect, um jogo sobre o qual nada sabia tirou-me o tapete dos pés e deixou-me com uma vontade louca de o jogar de uma ponta a outra.
Num pequeno auditório à porta fechada, a Airtight Games (responsável por Quantum Conundrum) começou por nos mostrar um fantástico filme de introdução onde assistimos ao assassinato da nossa personagem principal Ronan O’ Connor. O melhor desta sequência é que o assassino lança um corpo do topo de uma janela e depois, olhando para nós, dispara-lhe várias balas para o corpo inerte no chão. Essas balas causam buracos no corpo da nossa personagem que cedo percebe que o corpo no chão é o seu. A partir deste momento, o detective Connor é um fantasma confuso que terá de resolver o seu próprio assassinato.
http://youtu.be/k3BG9jri_4g
Sem armas na mão
Murdered é um jogo na terceira pessoa e é de aplaudir que uma nova propriedade não se concentre em tiros mas maioritariamente em investigação. Aliás, tiros seria algo complicado neste jogo pois sendo um fantasma Connor não consegue agarrar objectos físicos do nosso mundo. No entanto, o seu novo estado espectral permite-lhe capacidades acima dos mortais.
A produtora define o jogo como um jogo de detective e aventura sobrenatural e baseou-o no cenário de Salem, um local bem conhecido por bruxaria e por uma tradição na literatura fantástica. A demonstração esteve a cargo da produtora que jogou toda a primeira secção do jogo em tempo real enquanto os jornalistas desesperavam para segurar o comando.
A nossa personagem é semi-transparente e tem o pormenor de assinatura de ter sempre os buracos das balas a atravessarem o corpo. Obviamente ninguém nos vê, a não ser os outros fantasmas que passeiam pelo cenário, daí que no inicio estejamos a assistir à investigação que a polícia faz sobre o nosso homício e é aqui que aprendemos que éramos um detective que gostava de quebrar regras e que não era muito adorado pelo resto do corpo policial. Percebemos aqui também que um detective diz que este vai ser o caso dele, para sempre, e que esse detective é o nosso irmão.
Existe uma boa interacção narrativa entre os personagens e depois de assistirmos às primeiras suposições chega o momento de nós próprios começarmos a investigar a nossa própria morte. É certo que não podemos pegar em nada do que está no chão mas podemos por exemplo possuir o corpo de outras pessoas para olhar pelos seus olhos ou ouvir e controlar os seus pensamentos. É isso que fazemos para ver um bloco de notas escrito por um dos policias ou para influenciar a descrição de uma testemunha assustada. O interface de interacção é genial com palavras e frases a flutuar, e nas quais temos de ir escolhendo as opções na ordem certa. É desta forma que influenciamos o testemunho da mulher para que diga que viu o assassino no topo da janela.
Outras das nossas habilidades incluem poder ouvir o que as pessoas sussurram, ao estarmos perto delas sem que nos vejam, ou a aceder a impressões deixadas por objectos ou eventos trágicos. Sobre estas impressões de eventos trágicos não relacionados connosco ainda se falou pouco, mas sabemos que vão dar origem a várias missões secundárias.
O jogo onde atravessar paredes não é bug
Como fantasmas que somos podemos atravessar a maior parte dos objectos mas não podemos entrar dentro de qualquer edifício. Em Salem as pessoas estão habituadas a proteger as suas casas contra os espíritos daí que exista uma barreira sobrenatural que não nos deixa atravessar. É preciso que alguém vivo quebre essa barreira por exemplo abrindo uma porta mas mais à frente na aventura estas brechas vão ser mais complexas de abrir.
A partir do momento em que entramos no interior de uma casa podemos atravessar as paredes da mesma, mas o melhor é que podemos também brincar aos poltergeist e por exemplo interferir com as luzes, televisores ou com os bicos do fogão. Isto não é apenas divertimento pois terá influencia na resolução de puzzles ao longo do jogo. No interior do edifício onde está o nosso apartamento vemos outros fantasmas, a maior parte que não sabe que morreu ou que ainda não aceitou a sua morte por ter “assuntos por resolver”.
Um desses fantasmas, uma mulher que não sabe onde está o seu corpo, dá acesso a uma missão secundária. Para descobrirmos entramos dentro de um apartamento onde reside um casal de meia idade sinistro. Depois de possuirmos separadamente o homem e a mulher aprendemos através dos seus pensamentos que mataram a rapariga e o local onde deitaram o corpo.
Nem tudo são facilidades e pelo interior do prédio, enquanto vamos subindo os andares vamos descobrindo demónios que convém evitar a todo o custo. Encontrá-lo de frente é, como diziam os criadores a rir, morte certa pela segunda vez. Esta segunda morte é um desfazer do próprio espírito e é isso que podemos fazer aos demónios se nos aproximarmos de forma furtiva por detrás dos mesmos. Entramos dentro do corpo deles e fazêmo-los explodir de dentro para fora. Deliciosamente fantasmagórico. O facto de os podermos detectar através das paredes ajuda na estratégia de os apanhar desprevenidos.
CSI Paranormal
Quando chegamos finalmente ao quarto andar e ao nosso quarto, podemos aceder a memórias residuais de pessoas ou objectos que encontramos. Por exemplo, numa memória residual do próprio assassino conseguimos ver uma pequena sequência do momento em que ele entrou no quarto, e um taco de basebol dobrado no chão deixa-nos observar o momento em que nos tentámos defender dele.
Ao analisarmos a janela de onde fomos lançados podemos então começar a juntar as peças no interface de palavras com por exemplo: assassino, luta, atirar. Cada descoberta leva-nos a aceder a novas impressões no local e é desta forma que descobrimos que estava uma rapariga no quarto quando tudo aconteceu e ao juntarmos as palavras: assustada, escondida, acedemos ao momento em que ela fugiu. A partir então de uma fotografia no nosso quarto em que a rapariga está percebemos que costuma frequentar a igreja e começamos assim a juntar todas as peças.
É chegado o momento de fazer uma dedução: pela ordem correcta descrevemos e escolhemos as opções que montam toda a cena do crime e é então que vemos o filme completo de como tudo aconteceu. Percebemos então que lutámos contra alguém que tem uma força também ela sobrenatural mas cuja cara escondida não nos revela quem é. Quando somos novamente atirados pela janela na memória que acabámos de desbloquear a demonstração terminou.
Como já referi, Murdered: Soul Suspect foi a minha maior surpresa na E3 2013. A Square Enix traz-nos aqui um jogo diferente e original, um CSI do além, que promete muitas mecânicas fora do habitual enquanto tentamos desvendar a nossa própria morte. É uma pena que tenhamos que esperar pelo início de 2014. O jogo será lançado em PC, PlayStation 3 e Xbox 360, não havendo qualquer informação se irá ter lançamento nas consolas de nova geração.