De geração para geração aumenta o número de críticas à Nintendo por estar constantemente a reciclar as suas propriedades e não criar novas ideias. Existe alguma verdade nesta acusação mas por também tem de ser assinalado que cada jogo de uma propriedade antiga é um enorme conjunto de inovações não só em relação ao anterior mas também ao próprio género.
O verdadeiro problema é que em algumas propriedades a Nintendo parece estar a adormecer um pouco. Isso até agora já se tinha verificado em New Super Mario e volta a sentir-se em Donkey Kong Country: Tropical Freeze. Repetir Donkey Kong Country Returns não é uma má opção; estamos a falar de um dos melhores jogos de plataformas de todos os tempos; mas gostava de ter visto mais inovação e mais risco neste novo jogo de Kong. O que temos aqui é realmente mais do mesmo, e a parte boa disso é que é muito mais do mesmo.
Tropical Freeze é belíssimo em HD, embora seja o título que menos surpresa causa graças a um genial trabalho que os jogos anteriores conseguiam em simular cenários deslumbrantes, desde os tempos da Super Nintendo quando se usavam elementos preparados em 3D de antemão como sprites no jogo 2D. No entanto, não deixa de ser graficamente magnífico ver as áreas mais movimentadas a 60 frames por segundo de Tropical Freeze, nomeadamente as zonas de vagões com um cenário extremamente detalhado a correr a uma enorme velocidade. A questão é que o salto não é assim tão grande como poderia ser, e ter criadores a aplaudirem o pêlo de Donkey em 3D em 2013 é no mínimo estranho, principalmente numa geração que permite multidões em tempo real.
Neste Donkey Kong, como é habitual, os inimigos são outros animais. Desta vez, comandados por uma morsa temos um bando de vikings compostos por pinguins (sempre os pinguins), focas, ursos polares e outros animais das terras altas e frias, que nos expulsam para bem longe e nos obrigam, para que nos possamos divertir, a atravessar cinco ilhas até regressarmos a Donkey Kong Island e reclamarmos de volta a ilha que é a nossa casa.
Tropical Freeze mantém a excelente jogabilidade de plataformas de Country Returns mas é como se tudo fosse somado ou multiplicado. Isto é, há muito mais elementos em movimento no cenário, sejam eles inimigos, plataformas ou cenários de fundo. A diferença entre o que está perto de nós e o que está à distância permite construções de uma enorme beleza e, como dantes, podemos alternar entre deslocarmo-nos em primeira plano ou em segundo plano em determinadas secções. A grande novidade desta vez assenta na nova câmara dinâmica que entra em acção nas sequências em que disparamos de barril em barril. Nestes momentos o jogo utiliza uma câmara em 3D total que roda ao longo dos cenários e que permite uma enorme dinâmica enquanto transitamos entre barris. Não é só um artificio de visualização, pois estes momentos possuem mecânicas em que temos que acertar nos timings e direcções certas para passar obstáculos. Visualmente é perfeito, mas mostra para onde a série poderia ir na totalidade em vez de ser uma mecânica passageira.
Como já referi há muito movimento no cenário e muitas dessas peças são as próprias plataformas em si. Caixas, flores, folhagem, peças de aviões, tudo pode subir, cair, desprender-se, ser esmurrado entre muitas outras interacções que provocam uma sensação de acção constante. O controlo por movimentos está de regresso e podemos voltar a bater com os comandos para que Kong esmurre o chão, atordoando inimigos ou desfazendo elementos do cenário. Na demonstração que experimentámos na E3 em Los Angeles jogámos com o binómio Wii Remote e Nunchuck, mas não nos foi dado o GamePad para as mãos. Esperemos que o comando tradicional da Wii U possa ser utilizado e que os sensores de movimento substituam o esmurrar de Kong, pois nem todas as consolas vêm equipadas com os outros comandos antigos. Será sempre preciso no entanto os comandos antigos caso queiramos jogar em modo cooperativo com dois jogadores.
Como sempre nesta série, os elementos, estruturas e inimigos são imaginativos e um dos melhores exemplos desse desenho apurado era a única boss fight que estava disponível, contra uma enorme foca num “half-pipe” que proporcionava uma enorme variedade de mecânicas numa só luta. Os níveis com vagões estão também de regresso e o que mais impressiona nestes é a velocidade.
A capacidade de puxar elementos do chão e uma câmara 3D em algumas sequências torna este Donkey Kong Country: Tropical Freeze um jogo preguiçoso no catálogo da Wii U. Está visualmente deslumbrante e repete mecânicas de plataformas que são das melhores de sempre mas a sensação é que estamos a jogar uma versão em alta-definição do jogo anterior. Mesmo assim, continuamos perante um dos grandes jogos de plataformas dos próximos tempos e uma boa alternativa ao também pouco arriscado New Super Mario U. Mas num salto de geração, Donkey Kong, Diddy Kong e Dixie Kong mereciam mais.