Vou aborrecê-los todos!
Este é um ano em que toda a comunidade Poké-fan aguarda ansiosamente o surgimento da nova geração de Pokemon, dos quais fomos tendo algumas informações nesta última E3, e pela primeira vez na 3DS. E se todas as pequenas novidades sobre Pokemon X e Y deixam antever que esta possa ser um dos melhores (senão o melhor) jogo da série principal de Pokemon, este novo jogo do spinoff Pokemon Mystery Dungeon serve como aquecimento, como aperitivo, como lembrete à comunidade de que Pokemon ainda existe e é uma das grandes engrenagens que fazem o motor da Nintendo funcionar.
Pokemon Mystery Dungeon: Gates to Infinity não é, de longe, um mau jogo. Tem muitos problemas que serão dissecados. Leia-se o jogo, não o Pokemon, por 2 razões: por um lado não tenho formação em biologia, e como tal ser-me-ia difícil de conseguir fazê-lo com eficácia e talento, e por outro, entrando os Pokemons na área de estudo da criptologia, o acesso a um exemplar vivo ou morto, é perfeitamente impossível.
Mystery Dungeon não se passa no mesmo universo da série principal. Tem o seu próprio setting e as suas próprias regras, tais como os humanos serem apenas mitos e lendas contadas às crianças Pokemon, e o facto de que toda a sociedade existente, dentro dos seus substractos e necessidades sócio-laborais serem efectuados exclusivamente por Pokemons. Ao contrário da série principal em que estas criaturas são, regra geral, irracionais, em Mystery Dungeon cada um tem a sua própria personalidade e as suas próprias idiossincrasias. E é por isso que Gates to Infinity se assemelha a muitos outros JRPGs na fórmula NPCs-vendedores-prestadores de serviços nas cidades. A diferença é que cada um destes vendors são espécies diferentes de Pokemons como se, ao contrário da espécie principal, a diferença de tipo seja uma marca de individualidade, o que justifica os personagens serem tratados pelo nome da sua espécie de Pokemon, e não por qualquer outra nomenclatura.
Este é o quinto jogo da série que unificou dois franchises distintos, por um lado Pokemon e por outro Mystery Dungeon. O conceito e grande parte da jogabilidade, são os básicos de um roguelike ou dungeon crawler: entramos em masmorras e temos de percorrer X pisos até alcançar o nosso objectivo. Estas quests têm sempre 1 de 3 objectivos: derrotar ou salvar um Pokemon ou encontrar um item pelo mapa. Esta curta lista de objectivos é uma das monotonias do jogo. A outra óbvia, é o texto. E não me refiro à narrativa ou à história que são relativamente bem apuradas: somos um humano que acorda um dia transformado num Pokemon, até sermos acordados por aquele que será o nosso companheiro pelo resto do jogo, e quem tem como sonho de vida construir um Paraíso de Pokemons: uma espécie de porto-seguro que iremos expandir com as recompensas que ganhamos nas quests. Isto em paralelo com a salvação do mundo, lá está. Mas o texto…o texto! Grande parte dos diálogos são excessivos e inócuos e em nada adiantam ao jogo. O texto de Gates to Infinity é aquele nosso amigo chato que os obriga a ler de fio-a-pavio o que escreve, mesmo que nós saibamos que ele é um escritor medíocre, ou os diálogos de um anime enfadonho que nos aborrece desde o primeiro minuto.
O texto é lento a seguir e não é nem acelerável, nem ultrapassável: temos de ler palavra por palavra com extrema lentidão. Para um jogo que intenta (e tenta) ser uma espécie de RPG mais táctico, Gates to Infinity permite muito pouco espaço para a estratégia. A começar pela configuração das próprias masmorras: são essencialmente longos corredores que permitem pouco posicionamento, constituídas por passagens estreitas que permitem apenas a um personagem caber na largura existente, o que leva o nosso Pokemon, de uma party de 4, a ser quase sempre o único que dá e recebe dano. O vislumbre de uma componente mais táctica remete-se para o combate com os bosses, que normalmente estão localizadas em grandes salas.
Porém, pelo meio de algumas monotonias, não deixam de haver 3 pontos que apelam a jogadores com Perturbação Obsessivo-Compulsiva: por um lado as dezenas, senão centenas de quests que temos à nossa disposição (apesar de MUITO repetitivas); por outro a possibilidade de “apanharmos” Pokemons para a nossa equipa. As devidas aspas, porque na realidade as criaturas com quem nos defrontamos, depois de levarem uma grande sova, perguntam-nos se se podem a nós. Notoriamente os inimigos sabem quem é que manda aqui e põem-se a piar fininho; por fim, as recompensas que nos permitem construir novos edifícios e serviços no nosso Paraíso. Algumas características deste Gates to Infinity deveriam ser transportadas para a série principal. E uma delas é a capacidade dos Pokemons que não participam nas quests de receberem experiência e evoluírem. Num momento em que a quantidade de Pokemons se aproxima dos 700, é chegada a altura de adicionar a transversalidade dos pontos de experiência a extra-membros do grupo com quem jogamos.
O Modo de Companhia vem responder a outra necessidade básica de muitos RPGs por turnos: por vezes é-nos possível perceber que não estamos suficientemente fortes para suceder na missão X ou Y. Numa demonstração inovadora de persistência de existência, podemos controlar quaisquer outros quatro Pokemons que não estão na nossa equipa principal e levá-los a fazerem quests por si mesmos. Traz-nos a resposta à pergunta que muitas vezes questionamos em muitos jogos: “o que fazem os restantes personagens enquanto o nosso, o principal, age?”
Pokemon Mystery Dungeon: Gates to Infinity tem também uma superficial demonstração de envolvência com o meio real que nos circunda e explorar o tão presente conceito de Realidade Aumentada na 3DS: podemos procurar pela nossa casa pequenas circunferências e através delas ingressar em Magnagates – portais especiais para dungeons, onde encontramos recursos para a nossa main story.
O melhor: a sociedade exclusivamente Pokemon; o Modo de Companhia; a transversalidade dos pontos de experiências; a história relativamente envolvente.
O pior: a extrema monotonia: nos diálogos, nas quests e nos combates.
Pokemon Mystery Dungeon: Gates to Infinity cai no erro de ser quase exclusivamente apelativo a fãs de Pokemon. Utiliza uma fórmula de dungeon crawlers que podia e devia ser melhor explorada, impedindo a repetição extrema e o consequente aborrecimento dos jogadores, perante uma progressão pouco imaginativa no jogo, mascarada de verdadeira evolução no enredo. Deverá, mais do que tudo, ser tomado de preferência antes do prato principal, especialmente se este for Pokemon X e Y.
Pokemon Mystery Dungeon: Gates to Infinity é um exclusivo Nintendo 3DS
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