Os jogos exclusivos por plataforma proporcionam duas grandes batalhas. A primeira delas é travada pelas fangirls e pelos fanboys das marcas. A segunda é travada por todas aquelas e todos aqueles que gostam de jogos.
Na primeira batalha trava-se a guerra da galinha da vizinha é muito menos gorda do que a minha. Os fãs da Microsoft enchem as trincheiras e tentam convencer o mundo que o Halo deixa o Uncharted a um canto. Em resposta, meninas e meninos, senhoras e senhores adoradores da consola japonesa da Sony, vaticinam a superioridade moral de Gran Turismo e God of War para com os miseráveis e inúteis Gears of War ou Forza. Depois lá sai um DLC de de Call of Duty primeiro numa máquina e os soldados atiram as suas línguas para fora, ou Assassin’s Creed proporciona uma hora de jogo diferente na outra máquina e aí estão as turbas fanáticas a apontar o dedo ao próximo. Esta batalha trava-se com suor, geralmente sem sangue, anéis da morte vermelho ou luzes da morte amarelas, e milhões de palavras disparadas nos comentários e fóruns da internet.
A segunda batalha é travada por todas as pessoas que gostam de jogos, ponto. E essa é uma batalha com a carteira, pois o que lhes interessa são os bons jogos, com estas pessoas a acabarem por ter de comprar três ou mais consolas, para conseguirem desfrutar de tudo o que de melhor a indústria tem para oferecer.
A E3 2013 foi uma autêntica fábrica de munições para ambas as guerras e um dos que vai causar mais gargantas apertadas de um lado da batalha e menos saídas à noite do outro é The Order: 1886, o exclusivo PS4 da Ready at Dawn apresentado na conferência da Sony.
A Ready at Dawn já merecia. O estúdio Californiano tem sido responsável pelas adaptações de alguns dos melhores títulos da Sony às portáteis da marca. Daxter e ambos os God of War da PSP foram jogos que falaram por si só, que se colocaram de bicos de pés nos ombros dos gigantes. Agora, na PS4 (e depois de uma remasterização dos jogos da PSP na PS3) foi dada carta branca à produtora para criar a sua propriedade original e a sua visão. Deve ter dado um certo gozo para a Ready at Dawn, a jogar em casa e associada ao estúdio Santa Monica, apresentar ao mundo aquilo em que tem trabalhado nos últimos dois anos.
Mais do que os prometidos gráficos de próxima geração a correrem em tempo real, o que prendeu a atenção de todos foi a mistura de elementos de diversos períodos históricos distintos. Numa Londres da Revolução Industrial misturada com tecnologia moderna, o embate de estilos, épocas e tecnologia parece ainda maior do que em Dishonored e Bioshock Infinite que já deram grandes passos nessa direcção. Muito mais negro, com uma boa dose de sobrenatural misturada aos primeiros inimigos revelados, podemos talvez dizer que The Order já não é apenas Steampunk mas que já começa a roçar o Retro Sci-Fi, cuja literatura é já muito vasta.
Os criadores afirmaram numa entrevista ao blog oficial da PlayStation que o jogo será uma aventura na terceira pessoa com mecânicas de shooter e que é um jogo linear que pretende contar uma boa história. Mais uma vez, volto a trazer Infinite à baila. Ken Levine subiu a fasquia e a partir do último Bioshock os shooters arriscam-se a ser simplesmente aborrecidos. Com Weerasuriya a falar na relação entre o cinema e os jogos, e na “imersão fílmica” começam logo a arrepiar-se os nossos pelos da nuca, no mau sentido (num sentido Cage Emotions). Mas vamos esperar e desejar que The Order faça jus à visão que promete, e que as detalhadas animações em tempo real contaminem toda a cidade decadente e negra, numa enorme Londres baseada em locais reais mas recheada de conceitos novos. O mais provável é que tenhamos de esperar até meados ou finais de 2014. Esperemos.
http://youtu.be/Z7YtC6BdFM4