“That DJ is such an Atari”

Andar a bater recordes de tempo em jogos de plataformas é desde há muito tempo uma prática comum daqueles gamers que, a determinada altura, perderam o interesse de fazer um nível explorando todas as suas possibilidades. Ainda que um jogo como Sonic the Edgehog exigisse que apanhássemos anéis a torto e a direito, a habilidade especial de Sonic (velocidade) inspirava-nos para correr e completar um nível o mais rapidmente possível, rebolando no ar. Qual artista de circo armado em Fittipaldi.

Rush Bros parece-me ter sido “rushed” para ver o seu lançamento e, a pressa é inimiga da perfeição, já a minha avó dizia. Tem todas as condições para proporcionar bons momentos aos jogadores, mas falha miseravelmente na orgânica de jogo, porque a variação que permite através do tipo de músicas que escolhemos como banda sonora é pouco relevante. O mote para o jogo é no mínimo confuso porque não se percebe se estes rapazinhos Dj´s estão zangados um com o outro ou se lutam através de uma corrida até à morte, contra um mal misterioso. É o verdadeiro molho de bróculos das corridas cronometradas.

Rush Bros_1

Wee!!!

 

Vib-Ribbon, da produtora NanaOn-Sha, era graficamente muito simples, chegando até às vezes a ser abstracto, mas os sons eram importantes elementos na orgânica do jogo. A música era relevante para o desenrolar da diversão. Em Rush Bros a sincronização entre esta e a movimentação dos vários obstáculos também devia ser irrepreensível, para dessa forma poder valorizar a relação entre o som e a jogabilidade. Infelizmente, estes dois elementos nem sempre estão lado a lado e o resultado descaracteriza a experiência pretendida.

Os backgrounds lembram a natureza, motivos florais e estão repletos de cor, formas e composições muitas vezes abstractas. Esta é provavelmente uma das áreas mais polidas e talvez aquela que mais se destaca no jogo, não ficando a dever nada aos jogos indies que mais sucesso tiveram nos últimos tempos.

O único senão que se pode apontar ao grafismo é o facto de não ser inteiramente compativel com a natureza electrónica da música de dança, pano de fundo deste jogo. As ilustrações são bonitas, já o disse anteriormente, mas desenquadradas uma vez que colocam-nos numa “realidade” pouco assente em locais que consigamos identificar. Ou então remete-nos para uma era de Dj´s da década de oitenta, com as suas cores shock e spandex a descer até ao joelho para acompanhar a festa. Parece um mish mash de bibliotecas de código e gráficos que os seus criadores foram desencantar dentro de um baú. Há beleza mas falta coesão, falta-lhe espírito diria mais…

What are you on dude!?

What are you on dude!?

 

A jogabilidade corresponde às expectativas de qualquer gamer. A inércia da personagem é adequada e está bem implementada. Pelo menos isso. Saltar, correr e escorregar são acções realizadas sem dificuldade e os vários itens que vão surgindo aqui e ali ao longo de um nível ajudam-nos a melhorar a nossa performance ou a reduzir o desempenho do nosso adversário. Também há aqueles que se tornam um presente envenenado, como é o caso da super velocidade.

Chegar primeiro a um ponto do nível, em que é necessário abrir uma porta, pode ser revoltante para quem é mais despachado. Porque quem chega depois pode simplesmente ficar à espera que o “trabalho sujo” seja feito e seguir viagem, assim que a passagem esteja livre. Criar frustação é um elemento necessário num jogo, mas é também muitas vezes caminhar no fio da navalha. Já chegam os obstáculos e o regresso exagerado ao ponto de partida cada vez que se morre (modo online). Às páginas tantas, mais vale ir em segundo e não ter pressa do que ir em primeiro e querer fazer tudo bem à primeira.

Uma coisa que nos deixa verdes de raiva é num duelo online: voltarmos ao princípio do nível sempre que morremos num dos vários mecanismos mortíferos dos níveis. Regressar a um ponto mais atrás no nível parece-me sensato e justo, voltar ao princípio roça o sadismo puro. Pode tornar-se doloroso e constrangedor convidar um amigo para jogar, porque passados 10 minutos ainda ninguém ganhou e o mais certo é um dos intervenientes desistir.

Defenições pré definidas...

Defenições pré-definidas…

 

Quiseram integrar a língua portuguesa mas falharam miseravelmente porque, das duas uma, ou faltam letras ou está mal escrito. “Subrevivência”, “lideres” e outros pontapés na língua portuguesa surgem aqui e ali e o jogo nem sequer é um beat´em up. Este erro faz lembrar-me quando não sabemos o nome de alguém e é melhor estarmos calados para não arriscar a chamá-lo de Zé quando se chama Bernardo.

Encontrar jogadores online foi muito difícil para não dizer impossível, pelo menos para já. A aposta será no online e aos bons momentos que uma corrida com obstáculos poderá proporcionar, ainda que isso não traga nada de novo ou seja interessante no panorama actual dos jogos.

Rush Bros_4

Música Milk dos Garbage, anyone?

 

O melhor: gráficos polidos, possibilidade de desfrutar do jogo com uma banda sonora ao nosso gosto.

O pior: modo single player pouco interessante e variado. Multiplayer pouco compensador para o jogador. Foi algo difícil encontrar jogadores online para jogar.

Rush Bros é um jogo tecnicamente bem conseguido que pouco fica a dever ao género de plataformas no que diz respeito à parte técnica, uma vez que, na verdade, é um jogo de corridas. Os gráficos estão polidos, apesar do uso desmesurado da aberração cromática, mas a forma como movimentamos o nosso personagem adequa-se aos standarts exigidos para um jogo de plataformas. Pega num conceito utilizado no passado sem que consiga afirmar-se verdadeiramente como um novo género. Para o conseguir, teria sido essencial uma maior preocupação na sincronização e variação proporcionada pela música nos níveis de jogo e os seus criadores terem uma preocupação maior no factor de diversão competitiva, compensando aqueles jogadores que jogam para ganhar em vez de favorecer os mais “espertos”.

Versão analisada: PC. Também em Mac.