Não é para menino(a)s

Há ideias que quando são boas, o são para sempre. E algumas delas são o Pipemania do Amiga e o Tube-It da Taito: puzzles games que jogam à volta da criação de sistemas de canalização com peças que são partes dessas mesmas canalizações. Um conceito simples, ainda totalmente viciante para alguns de nós e que soube ser trazido na perfeição para o Séc. XXI pela Nintendo.

Sem versão de venda no mercado retalhista, este Mario and Donkey Kong: Minis on the Move é um exclusivo da eShop da Nintendo 3DS e que rapidamente ganhou o seu próprio lugar ao sol na loja digital, não fosse o seu preço (9,99€) altamente justificado para o grande jogo que é.

Em tempo de armistício, em que as guerras reais vão causando demasiado impacto no nosso mundo, Mario e Donkey Kong apertam finalmente as mãos em paz. Depõem as armas e unem-se neste que é o quinto jogo da série Mario vs. Donkey Kong, o segundo a ser exclusivamente digital, e o primeiro que perde o versus e pacifica os dois protagonistas.

Não era para virar à direita no café do Barbosa?

Não era para virar à direita no café do Barbosa?

 

O espírito geral da série, o de conduzir miniaturas por entre puzzles labirínticos e/ou cheios de plataformas continua em força, mas na sua essência o jogo mudou e bastante. Já não há Pauline para salvar, o Donkey Kong parece ter tirado férias da sua carreira de raptor ou talvez esteja sob vigilância da Comissão de Apoio à Vítima, e apenas nos resta a (aparente) simples tarefa de conduzir brinquedos de corda até uma meta. Mas se nos habituámos à vista de perfil dos restantes jogos da série, que mesclava de forma exímia jogos de plataformas e puzzle game, onde Marios que se assemelham a Lemmings precisavam de ser conduzidos até ao objectivo, neste Minis on the Move a jogabilidade alterou-se completamente. À jogabilidade de Lemmings adicionemos o Pipemania e temos esta nova iteração. Mas em vez de peças de canalização, o que temos de construir são caminhos que levem o nosso brinquedo em segurança até à estrela, tendo pelo meio, para receber um Perfect, de recolher 3 moedas que estão sempre nos locais menos oportunos possível.

De base trata-se de um jogo longo. O Main Event (que é subdividido em 4 géneros diferentes) tem quase 200 níveis, todos eles progressivamente mais difíceis até caminharem para o ponto do desespero. E temos Shy Guys para contornar, buracos, trampolins, Donkey Kongs que nos projectam, passadeiras rolantes, interruptores, e mais uma panóplia de obstáculos que tornam este Minis on the Move um jogo extremamente desafiante e muito difícil de completar com um Perfect na sua totalidade. O último modo do Main Event, intitulado Giant Jungle, é a demonstração prática do sadismo dos level designers, que notoriamente metaforizaram alguns destes puzzles como verdadeiras cadeiras de tortura para os jogadores. É nas jogabilidades mais simples que as mecânicas mais sólidas se revelam: todo o jogo é controlado com a nossa caneta no touch screen, e é com ela que colocamos as peças dos caminhos, que controlamos os interruptores, e com os quais damos uns “piparotes” aos nossos Minis para que corram mais depressa. É que não bastava os puzzles serem completamente sádicos, e termos de criar caminhos e desvios para apanhar todas as moedas, como também temos um relógio a observar-nos de forma controladora, e que pouca margem nos dá para perdermos tempo a pensar. Mais do que tudo os Main Events são um exercício de reflexos, rapidez de avaliação e compreensão espacial.

Mario and Donkey Kong Minis on the Move 2

Anda cá e paga o que deves!

 

À medida que progredimos no Main Event vamos desbloqueando mini-jogos, que consistem em pescar Shy Guys voadores, destruir cubos com uma catapulta, entre outras mecânicas que usam o touch screen como base de funcionamento, mas que não são, de forma alguma, a razão de compra deste jogo. Ainda que, para o valor de custo, estes mini-jogos funcionem como valor adicionado pela confiança na compra do jogo.

E se como eu, quiserem obter um Perfect em todos os puzzles, acreditem que vão penar durante muitas horas, descarregar muitas baterias e ganhar muitas frustrações. Se em alguns puzzles o simples facto de querermos ir directamente para a meta é uma tarefa complicada, imaginem o que é estabelecer uma estratégia que nos permita chegar ao fim do nível e apanhar as moedas espalhadas no labirinto.

Mario, a Bala-de-Canhão-Humana, em qualquer Circo perto de si.

Mario, a Bala-de-Canhão-Humana, em qualquer Circo perto de si.

 

Mas uma das grandes surpresas deste jogo foi o seu sentido de comunidade. Munido de um editor de níveis e com a possibilidade de o partilhar gratuitamente com outros jogadores, Minis on the Move tem uma comunidade de jogadores que partilham novos níveis de uma dimensão considerável. O que por um lado aumenta quase-infinitamente a duração do jogo e por outro, o desafio. Se há algo pior que o sadismo natural de um level designer que decide incorporar em si mesmo o modo Nintendo-Hard, é o sadismo nato de um jogador. Muitos dos puzzles criados por jogadores e que estão nos tops como os mais votados, são verdadeiras odes ao sofrimento, como se anunciassem em alto e bom som: “Enxaqueca, receba grátis!”.

O melhor: a jogabilidade simples; o aproveitamento das mecânicas ao estilo Pipemania; a dificuldade e o desafio; a forte comunidade online.

O pior: raramente observamos o ecrã superior pela concentração no touch screen; a música é algo repetitiva.

Mario and Donkey Kong: Minis on the Move é mais uma iteração de uma série sólida e que nunca desiludiu. Correu o risco, de forma vencedora, de alterar quase todas as mecânicas e trazer algo novo aos seus jogadores, revitalizando a série e demonstrando que ainda há muito a dizer sobre os dois protagonistas, especialmente agora que vivem dias de paz. E que se enganem os mais cépticos sobre a viabilidade de um jogo que não terá versão física e que custa apenas 9,99€. O preço é uma benesse, estamos perante um dos gigantes da Nintendo 3DS.

8

Sobre as análises e sistema de classificação

Mario and Donkey Kong: Minis on the Move é um exclusivo Nintendo 3DS