O bom, o mau e o vilão.
Se para muitos Wario é apenas o vilão do Mario, introduzido no magistral Super Mario Land 2: 6 Golden Coins, então isso significa que esses mesmos muitos perderam os maiores exemplos da criatividade e pensamento sem limites que a Nintendo apresentou ao mundo na década anterior.
A aclamada série Warioware surpreendeu toda a gente com a sua apresentação única e inovadora: os seus jogos desenrolam-se numa sucessão de mini-jogos instantâneos de 3-4 segundos cada e que não só revelavam uma grande criatividade dos game designers japoneses, como arrancavam, com a facilidade com a qual se tira um doce de uma criança, um exalado WTF! Aos jogadores. Entre acertar com dedos no nariz e fazer elevações, estes jogos instantâneos vivem do seu imediatismo e da sua efemeridade, e de uma grande capacidade de não se levarem excessivamente a sério. Quando muitos destes mini-jogos soavam a um ambiente pueril, surreal, de piada seca sussurrada ao colega de carteira, também traziam consigo o arrojo, a ideia inovadora que não tem dimensão de produção isolada, mas que tem o bafejo da inovação suportada pela simplicidade que as melhores ideias – e as mais genuínas – têm.
E em toda a série temos, é claro, Wario como peça central. Ao perceber a rentabilidade que os videojogos podem trazer, Wario decide criar a sua própria companhia, a WarioWare inc., e, com o sonho de riqueza quase-instantânea, lançar para o mercado uma série de aplicações simples. O elenco dos diversos WarioWare conta com personagens inéditos e que têm seguido o protagonista em quase todas as iterações.
Estas diversas camadas que WarioWare trouxe ao mercado são únicas: o desenvolvimento do conceito base pode ser um paralelismo com algumas situações reais do mercado. Acredito, e cogito, que inicialmente a própria série pudesse ser uma espécie de inside joke da equipa que o desenvolveu, e que estaria, metaforicamente, a fazer uma representação do mercado em forma de videojogo. E se tudo nos é apresentado de forma cómica, quase em jeito de paródia, então a ligeireza do conteúdo abraça ainda mais esta simplicidade de apresentação.
Toda a história por trás deste jogo é em si mesma, uma magnífica manobra de marketing. Numa notória paródia à plataforma Kickstarter, a Nintendo criou um site semelhante para promover Game & Wario chamado Crowdfarter. Como moeda de troca, ou de financiamento de jogo, cada partilha nas redes sociais convertia-se em moedas, e à medida que as moedas aumentavam, mais conteúdo do jogo foi revelado. Ao atingirem a módica quantia de 100 bajiliões de moedas, o trailer oficial do jogo foi lançado. É esta postura inovadora e de alguma forma auto-risível, que cimenta a ideia de que toda a série é, sem sombra de dúvida, um reflexo humorístico do mercado dos videjogos.
Mas mesmo contendo o elenco da série original, e o conceito base ser idêntico, a realidade é que Game & Wario não é bem um WarioWare, na sua concepção prática. No início do jogo vemos Wario a ficar surpreendido com uma nova consola que tem um controlador com ecrã (onde é que já vimos uma consola assim?) e decide voltar à carga na sua vontade de enriquecer, programando jogos para esta nova consola. Só que o grande ponto que difere este Game & Wario dos seus geniais antecessores é que a fórmula dos micro-jogos de 3-5 segundos, uma espécie de lusco-fusco do entretenimento electrónico, passou a mini-jogos, em que grande parte deles não apresentam a genialidade, diversidade e a inovação que caracteriza a série de WarioWare.
As jóias da coroa deste Game & Wario, e que inflacionam a sua avaliação, são sem qualquer dúvida Gamer (o elemento de verdadeira genialidade do jogo), Shutter, Taxi, Fruits e Islands.
Gamer é pura e simplesmente o jogo que toda a gente irá falar por muitos e muitos anos, e aquele que virá à memória de qualquer um quando as palavras Game & Wario forem proferidas. Como cada um dos 12 jogos single player e os 4 multiplayer são dedicados a um personagem do elenco de WarioWare, neste jogamos no papel de 9-Volt, o Nintendo fanboy que deveria estar a dormir mas que tenta destronar o score da sua mãe no jogo de Baloon Fighter. E a grande genialidade, pela ideia e pelo aproveitamento das características da WiiU, é o facto de que estamos a jogar um jogo dentro do jogo ou seja, no WiiU Pad estamos a jogar uma série de jogos à la Warioware, e na nossa TV temos de estar atentos para não sermos apanhados a jogar pela mãe de 9-Volt, e escondermo-nos debaixo dos lençóis para que ela não perceba que ainda estamos acordados. Nesta espécie de Gameception, um jogo dentro de um jogo, Gamer é o mais inventivo dos jogos de Game & Wario e simultaneamente o mais difícil. Shutter, apresenta também um bom aproveitamento do periférico da WiiU, em que este é uma câmara fotográfica, e a nossa missão é encontrar e fotografar uma série de alvos. Uma jogabilidade a lembrar Pokemon Snap, e que pode dar ideias à Gamefreak de revitalizar a série para a nova consola da Nintendo. Em Taxi, o Pad é utilizado para termos uma visão na primeira pessoa da condução do nosso táxi, enquanto salvamos vacas e galinhas de serem abduzidas por invasores alienígenas. Os 4 multiplayers disponíveis deixam alguma sede a quem joga: o divertimento que alguns deles trazem anseiam a que mais multi-jogadores fossem incluídos em Game & Wario. E de certeza que Fruits, onde um jogador tem que se misturar com a multidão e roubar peças de fruto, enquanto os restantes têm de o identificar, será um dos jogos mais jogados desta compilação.
Muitos dos jogos são reutilizações de experiências de interacção que foram trazidas a público aquando da apresentação da WiiU. Aliás, alguns destes jogos foram pensados como pré-instalados tanto na WiiU como na Nintendo 3DS, mas acabaram por ser desenvolvidos para Game & Wario. Apesar de não ser o party game que muitos ansiavam que destronasse Nintendoland como o melhor jogo do género para a WiiU. Mas a solidez, inovação e rejogabilidade de alguns dos jogos acabam por empurrar este título para uma zona em que, a ter uma qualidade diametral do mini-jogo Gamer, e este seria um dos títulos obrigatórios da Nintendo. Mesmo com uma vasta colecção de itens desbloqueáveis, em que muitos deles são verdadeiras pérolas da imaginação e do WTF!, apenas um jogador com TOC repetirá os diversos mini-jogos até destrancar todos estes itens. Aproveitamos, porém, em nome da Galinha de Borracha, para enviar um grande olá à Galinha Mecânica que nos dá os ovos com os itens coleccionáveis. A amabilidade galinácea não pode ser esquecida e tem de ser incentivada!
Há que salientar uma preocupação da equipa de desenvolvimento da Intelligent Systems: todos os jogos, sejam single ou multi-player são jogados usando unica e exclusivamente o WiiU Pad, ao contrário de outros jogos do género da WiiU que exige um maior número de periféricos para o seu total aproveitamento.
Cada um dos jogos, quando escolhidos apresenta também uma pequena subtileza: a ilustração da capa de cada um é uma notória homenagem à primeira geração de jogos – em que as capas denotavam um visual quase realista e altamente épico – que em nada se assemelhavam ao conteúdo in-game.
O melhor: a genialidade de alguns jogos, o aproveitamento real das potencialidades da WiiU e do WiiU Pad, o humor, a necessidade de ter apenas um periférico para toda a jogabilidade
O pior: a falta de inspiração de alguns jogos, os poucos multi-players, o pouco valor de rejogabilidade, não ser o jogo de WarioWare que todos esperavam.
Game & Wario perdeu a oportunidade de ser um verdadeiro marco dos videojogos, se apresentasse uma colectânea de mini-jogos à altura de Gamer. Não sendo o party game, ou mesmo o WarioWare que todos esperavam, o seu preço de lançamento (39,99€) acaba por justificar o seu formato: uma antologia de videojogos em que uma pequena parte deles justifica a sua aquisição. Em especial o Gamer. Joguem o Gamer. E não me canso de falar do Gamer.
Game & Wario é um exclusivo Wii U.
Comments (3)
[…] U seja “mas qual será O grande party game da consola”? Depois das análises de Rabbids Land, Game & Wario e Spin the Bottle: Bumpie’s Party, e a percepção que fomos tendo de qual deveria ser o jogo de […]
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