O Norte da América está neste momento assente, em parte, numa cultura de medo. Desde o 11 de Setembro, acompanhado pela administração Bush e das mentiras sobre o Iraque, os Estados Unidos aplicaram leis rígidas para combater o terrorismo, que é por factos conhecidos também fomentado por eles. Mas não me vou alongar nesse sentido.

A cultura Norte Americana tem tanto de mau como de bom, e por ter tão vasto território, é natural haver um pouco de tudo. Nesta propositada cultura de medo, vemos aplicarem uma segurança reforçada: nos aeroportos, nas prisões, nas redes, com a NSA, FBI, CIA, CSI, Avengers, etc. Eles próprios criaram em parte um problema e têm de ter mecanismos para resolver e defender-se. É natural. A questão colocada é quando a linha do impensável é ultrapassada. Quando percebemos que já não se trata apenas de medo, mas sim de uma absurda e confusa condição em combater esse medo. E não estou a referir-me à prisão de Guantánamo. Refiro-me à prisão de Justin Carter, um rapaz de 19 anos que jogava League of Legends, um caso acompanhado pela comunidade gaming e não só, em forma de protesto solidário.

Justin Carter

 

League of Legends 2Justin escreveu um comentário no facebook que alertou as autoridades, que levam estas coisas do terrorismo muito à sério depois do massacre de Sandy Hook. Principalmente quando se trata de quem joga videojogos, aparentemente. Justin escreveu: “I’m going to go shoot up a school full of kids and eat their still beating hearts jk lol” (Vou dar tiros numa escola cheia de miúdos e comer os seus corações ainda a bater) adicionando “jk”: Just Kiding (a brincar) e “lol”. Há quem não entenda uma brincadeira, por maior mau gosto que tenha. Como disse, as autoridades levam estes comentários muito a sério, não será este rapaz um potencial terrorista, capaz de comprar uma arma no Walmart.

Justin foi preso em Fevereiro e encontra-se neste momento na solitária, vulgarmente conhecido como “The hole” (o buraco), para evitar o suicídio. De acordo com o pai de Justin, este está “muito deprimido, muito assustado e preocupado que não irá sair mais”. Enfrenta 8 anos de prisão. É dramático, podem achar. E a vida deste rapaz nunca mais será a mesma, provavelmente.

Justin Carter2

 

A questão que também se coloca é se haverá aproveitamento deste caso para reafirmar que os jogos moldam gente perigosa. “The kid said that kind of stuff and he was a gamer. It’s a Menace!” poderá dizer a NRA, seguindo-se alguns jornalistas em todo o mundo e inclusive no nosso País. Porque queiramos quer não, somos influenciados por esta cultura de medo, como quem era influenciado pela bebida Snappy (lembram-se do vídeo promocional “In America, Snappy”?) que é na verdade uma bebida 100% nacional. Até na própria Dica da Semana tem uma imagem da estátua da liberdade a dizer “O que é americano é bom”. Não deveríamos promover o que é nacional nestes tempos de dificuldade financeira?

 

Voltando ao assunto, o comentário foi proferido durante um jogo de League of Legends, e que num tom sarcástico, dois amigos (entre eles Justin) troçavam do facto de estar a jogar e por consequência estar “confuso da cabeça”. Daí a adição do comentário sarcástico de Justin, que o levaria a ser transportado para trás das grades.

Teremos opiniões diferentes em indicar quem está “confuso da cabeça”. Se este rapaz de 19 anos ou se aqueles que, mesmo depois de um choque social por vários massacres em escolas, se vêem a ultrapassar o limite do razoável. Este é mais um exemplo, um dos maiores, daquilo que acontece nos Estados Unidos em relação a casos ligados a Videojogos. Não é uma boa influência. Não é correcto. Não deveria ser permissível. Contudo, a cultura do medo consegue afectar muita gente.