O ano de 2012 viu renascer a reconhecida serie XCOM após mais de uma década de silencio. XCOM: Enemy Unknown pela Fireaxis Games, não só deu nova roupagem a velha fórmula do combate por turnos estratégico da franquia, como o fez de forma competente e laureada pela comunidade de jogadores e crítica. Este ano a série regressa, e de forma bastante diferente.
É claro a partir dos primeiros minutos de jogo que The Bureau: XCOM Declassified é de um pedigree particular. Desenvolvido pela 2K Marin (e com uma perninha da Irrational Games) o jogo sofreu alterações desde o seu anuncio em 2010 como um 1st person shooter. O novo jogo da série é afinal, um shooter na terceira pessoa Squad Based, que é como quem diz, podemos dar ordens a NPC do nosso pequeno esquadrão. Com uma mistura de tiroteio em tempo real e um interface em pausa que permite atribuir essas ordens, The Bureau afasta-se radicalmente do combate por turnos mais ponderado do seu antecessor, com uma abordagem muito mais parecido com um Mass Effect, semelhanças essas que não se ficam pelo combate. The Bureau faz a cama da jogabilidade sobre um elemento narrativo de interface muito reconhecível, de escolhas de diálogo que procuram claramente dar mais ênfase ao desenvolvimento de uma personagem e do investimento do jogador sobre ela.
A acção passa-se nos anos 60, com uma súbita invasão alienígena a inverter as prioridades dos governos ocidentais, mudando o seu foco da ameaça vermelha, para a verde e azul. A estética da época dá muitos pontos ao jogo, principalmente a onda X-Files que procura estabelecer, com o agente da CIA William Carter a ser recrutado para o The Bureau ou XCOM, um departamento ultra-secreto de investigação e acção alienígena, e não me estou a referir aquelas pessoas que passam pela fronteira de forma menos legal. O setting resulta bem, com uma mistura sempre agradável de elementos clássicos com tecnologia futurista, à medida que os “Outsiders” cimentam a sua presença, e as forças humanas se apoderam dessa mesma tecnologia para combater o inimigo.
De um modo geral, a experiência de jogo é bastante diferente do anterior jogo da série, não só em termos narrativos, mas principalmente ao nível da jogabilidade. The Bureau: XCOM Declassified é na sua essência um jogo de acção na terceira pessoa, e mesmo com o elemento de acção táctica claramente presente, na versão de preview a que tivemos acesso nunca deixamos de ter essa sensação. A falta de melhor comparação, imaginem o seminal Cover-Based Shooter e terão um ideia muito clara de como controlamos Carter. Jogámos quase sempre com companheiros NPC, aos quais atribuímos ordens através de um interface em roda, com acções ou habilidades específicas para cada um, e igualmente para a personagem de Carter. De forma semelhante a XCOM: Enemy Unknown, também temos acesso a árvores de talentos através das quais podemos evoluir cada um dos personagens à medida que sobem de Rank. E se ao inicio as escolhas são lineares, à medida que progredimos iremos ter a oportunidade de especializar cada um dos elementos do esquadrão de acordo com determinadas tarefas e habilidades.
Um exemplo da forma táctica que um combate pode adquirir: perante um grande grupo de inimigos com um líder de esquadrão alienígena também presente, usar um taunt de um dos nossos companheiros para atrair a atenção desse líder, e ordenar a colocação de um Turret numa zona lateral do campo de batalha para atacar as forças inimigas, enquanto focamos as nossas balas sobre esse inimigo mais poderoso. Puxar a interface de ordens tácticas reduz a velocidade da acção sem nunca a parar completamente, o que implica que, apesar de termos a oportunidade de pensar mais pausadamente sobre a táctica a usar, não poderemos demorar uma eternidade a tomas decisões. Esse balanceamento é bem vindo e leva a que a acção se mantenha intensa, mesmo quando pausamos o jogo para dar ordens ao nosso esquadrão.
O coração de The Bureau parece ser exactamente esse departamento, onde acedemos ao mapa dos Estados Unidos da América para seguir missões, mediante o desenrolar dos eventos da história, da invasão alienígena. Existe um esforço narrativo claro por parte da 2K em dar envolvencia a tudo o que se passa, a dar personalidade ao mundo de jogo e aos seus habitantes. Esse esforço é visível nas habituais notas, gravações e outro tipo de veículos narrativos a que já nos habituamos. A mistura de épocas também contribui para que The Bureau tenha personalidade, e talvez seja esse o maior desafio que prevemos para o jogo, o de encontrar espaço num universos de jogos de acção com características semelhantes. Isto porque o jogo parece beber de muitas fontes, pegar em mecânicas que resultam mais ou menos bem, e adapta-las ao universo XCOM. Se conseguir apresentar afinação nos seus conteúdos, mesmo com alguma falta de originalidade no departamento funcional, poderá ainda assim resultar num título com pernas para andar.
A versão de preview a que tivemos acesso apresentava alguns soluços de polimento, mas nada que não nos permitisse uma visão clara da direcção do jogo. Para quem espera uma experiência de combate por turnos tradicional da série, fica o aviso de que The Bureau: XCOM Declassified está longe de ser esse jogo. É antes um shooter na terceira pessoa cover-based, e com mecânicas de controlo de esquadrão de NPCs. Talvez aquilo que possa ter mais manchado a nossa curta experiência tenha sido a visibilidade difícil no momentos tácticos. Em lugar de uma visão de baixo para cima que permite uma sensação de controlo claro sobre as nossas tropas e campo de batalha, em The Bureau a câmara coloca-se sobre uma perspectiva mais térrea que pode por vezes oferecer ângulos de visão menos funcionais. Pesou também o facto de facilmente os combates descambarem para o tiroteio desenfreado.
Em todo o caso, resta-nos esperar pela oportunidade de testar The Bureau: XCOM Declassified em toda a sua glória dourada, e ver até que ponto este conjunto de mecânicas já provadas consegue levar a narrativa do jogo a bom porto e fazer jus à herança da série, que é levada agora para território desconhecido.