De todas as conferências que antecederam a Gamescom, a da Microsoft era aquela que mais necessitava de transmitir uma mensagem sólida. Os últimos três meses não têm sido fáceis para a marca Americana que provavelmente acreditou que iria transmitir um produto que iria deixar o mundo espantado, só não esperava que fosse pela negativa.
Para além de uma E3 que mesmo recheada de jogos continuou a não convencer, pois a marca continuava a não esclarecer as suas políticas e a lançar mensagens divergentes, seguiu-se o comboio de queda de politicas em série. Obrigatoriedade de estar online; obrigatoriedade de ligação ao Kinect; Impedimento aos jogos usados; todas estas características planeadas foram caindo e isto, embora possa ter agradado alguns dos jogadores, confundiu e baralhou ainda mais a mensagem. Se as melhores e mais inovadoras funcionalidades da Xbox One eram possíveis graças às politicas agora abandonadas, então com o que ficamos na sala?
A Microsoft optou por desta vez não fazer uma grande conferência, mas sim um pequeno media showcase com cerca de duas centenas de jornalistas, talvez por forma a manter uma maior proximidade e sentido de empatia, mas muito provavelmente para evitar mais um streaming ou o ruído da assistência em desagrado. Mas a melhor estratégia da Microsoft neste evento para o qual a divisão portuguesa da marca gentilmente nos convidou, foi a de ter todos os jogos Xbox One de lançamento disponíveis para a imprensa jogar, durante cerca de 3 horas com os criadores presentes, e desta forma manter exclusivamente o foco naquilo que é importante para os jogadores.
No entanto, durante 30 minutos, Phil Harrison e companhia revelaram algumas novidades e quiseram passar três mensagens principais, as quais não só abriram como voltaram no final a fechar a apresentação. A primeira é que este é o melhor alinhamento de sempre de lançamento de uma consola, não só da Microsoft, mas de qualquer consola. A segunda é que o Futebol tem na Xbox um novo estádio (e aqui têm toda a razão e já lá vamos). A terceira foi o programa de desenvolvimento para criadores independentes.
Comecemos pela terceira. Das muitas guerras que a Sony tem ganho à Microsoft, uma delas têm sido a de que os criadores independentes preferem criar para a nova consola da PlayStation, não só por questões de arquitectura mas também por razões empresariais de relações facilitadas com a Sony, e com o corte das burocracias, impedimentos ou barreiras a ultrapassar. Num momento em que os indies já só são indies na postura, pois os resultados comerciais há muito que deixaram de ser “independentes”, e em que estes atraem milhões de jogadores, é importante para uma marca gigante passar a mensagem que se “dá bem com os pequeninos, com os underdogs”, quase como se quisessem também provar o seu lado de rebeldia criativa.
A Microsoft percebeu que rapidamente tinha de inverter a mensagem de que a Xbox One seria uma plataforma de difícil acesso aos criadores, e que a relação com a marca estava recheada de fita amarela pelo meio, e foi isso que fez nesta apresentação. São quatro os pilares nos quais se baseia este novo tipo de “entendimento”: Dois dev kits dados sem qualquer custo aos criadores que sejam aceites no programa de desenvolvimento; Disponibilização de todas as ferramentas de criação Microsoft e de todos os recursos de suporte; Nenhuma subscrição, taxa ou pagamento por qualquer destes serviços ou publicação dos jogos; promessa de sistemas de visibilidade na loja digital muito mais equilibrados entre os indies e os AAA, baseado nas novas funcionalidades de trending, nas recomendações, e principalmente no facto de os nossos amigos poderem exportar vídeo de jogabilidade dos jogos que andam a experimentar, nos quais vão estar certamente alguns indies.
Chris Charla, um dos fundadores do IGN e que nos últimos anos tem sido um dos responsáveis por gerir o catálogo de ofertas digitais do Xbox Live Arcade, vai dirigir este novo programa de apoio aos criadores.
A Microsoft aproveitou também para apresentar três novos exclusivos, nenhum deles ainda com jogabilidade a acompanhar os trailers. O primeiro foi Fable Legends, uma abordagem diferente que a Lionhead preparou para a série e da qual iremos publicar uma antevisão durante os próximos dias. O jogo foi orientado para uma componente muito mais multiplayer com jogabilidade cooperativa e competitiva online, na qual podemos escolher ser o herói ou ser o vilão.
Da Ubisoft, a Microsoft anunciou Warrior Within, um título de luta para o novo Kinect da Xbox One. É inacreditável o número de narizes a torcer e movimentos de desconforto cada vez que as palavras “jogo” e “kinect” são ditas na mesma frase. De um estúdio da ponta oposta, neste caso o Mojang, foi anunciado Cobalt, um multiplayer side-scroller shooter que terá um lançamento exclusivo na nova consola da marca.
O momento mais curioso da apresentação aos media estava no entanto reservado para o mais inesperado. Smartglass. Esta tecnologia que permite ligar os tablets a correrem Windows 8 à Xbox One provoca o mesmo desconforto quando começa a ser falada como o Kinect. Ao meu lado alguém comentou imediatamente: “lá vão eles outra vez”.
Mas desta vez, numa demonstração de The Division (Ubisoft) a tecnologia conseguiu convencer-nos da sua utilidade. Imaginem que com o vosso tablet vão dar assistência aos jogadores no terreno, uma vez que a vossa vista aérea da área permite uma visualização rápida de toda a zona de intervenção. Podemos, por exemplo, tocar nos inimigos ficando este com um halo de uma cor que os destaca visualmente aos jogadores no terreno; ou podemos também curar jogadores no campo de batalha; ou ainda arrasar o mesmo com bombardeamentos. A Microsoft deu a entender que isto é só a ponta do véu e, pela primeira vez, deixou-nos com uma séria vontade de experimentar a integração Smartglass. “Assimetric Companion Gaming” foi o nome pomposo que a marca arranjou.
A grande surpresa deste media showcase estava no entanto reservada para a exclusividade de estreias de conteúdo na nova consola da Microsoft. A surpresa não foi certamente o reafirmar que o conteúdo de Call of Duty: Ghosts aparecerá primeiro na One. Embora não esperado, também não foi o anúncio de que os jogos da PopCap (Peggle 2 e Plants vz Zombies Garden Warfare) vão ter estreia na Xbox em primeiro lugar. O que foi verdadeiramente surpreendente foi o anúncio de FIFA Ultimate Legends, não por ser uma estreia antecipada mas por ser um total exclusivo Xbox que não irá sair nas outras consolas.
Ora, Ultimate Team é uma das características preferidas pelos milhões e milhões de jogadores de FIFA. Ultimate Legends adiciona as lendas do futebol ao jogo. Rudd Gullit foi uma dessas lendas que subiu ao palco (Matthaus subiria mais tarde ao palco da Electronic Arts) e no alinhamento podemos ver muitas estrelas do passado, incluindo os nossos Pauleta e Futre. Isto não é apenas mais uma pequena funcionalidade, isto é uma novidade que faz vender jogos. E se é apenas exclusiva numa consola, ou numa marca de consolas, então esta funcionalidade faz também vender máquinas. Não sabemos qual foi o valor do cheque passado, mas este foi o melhor e provavelmente o maior anúncio que a Microsoft terá na Gamescom inteira.
No final Phil Harrison voltou a reafirmar as três mensagens com que abriu: O melhor alinhamento (que ficou logo de seguida à nossa disposição), um novo estádio para FIFA (o das lendas), e uma iniciativa de desenvolvimento para independentes (facilitando-lhes o processo, incentivando-os, e permitindo que estes publiquem sem qualquer taxa). Não foi ainda desta que a marca passou uma mensagem clara sobre qual é a verdadeira estratégia da Xbox One, mas acreditamos que a própria Microsoft ainda estará a tentar perceber qual será. Por vezes, antes do One, é preciso começar do Zero.
Comments (1)
Boas
Eu vejo as conferencias da microsoft sempre na esperança de que finalmente façam algo que os consiga tirar do buraco fundo onde se enterram desde a E3 mas a cada conferencia ou anuncio que dão, parece que fica sempre um vazio por preencher e que apesar das mundanças às estrategias originais fica sempre aquele gosto amargo… Mas aquilo que me esta mesmo a assustar cada vez mais é em cada jogo novo que anunciam, seja exclusivo(principalmente estes) ou nao, o foco é basicamente o mesmo… Multiplayer… quando o foco maior e dado ao multiplayer muitas vezes faz com que grandes titulos se tornem em jogos banais como foi o caso do spin-off do Gears of War, com um campanha singleplayer completamente desinspirada e com ar de feita a pressa, lost planet por exemplo… o 1º foi um bom jogo como um campanha razoavel, já o 2º nem sequer jogo merece ser chamado na minha opiniao… e agora temo o mesmo sera feito com a saga fable…
Sei que é apenas a minha opiniao mas eu sou daqueles jogadores que gosta de narrativas solidas, de um jogo construido com algum sentido sem que esse seja meter nao sei quantos marmejos dentro de um mapa à estalada uns aos outros… um jogo que tente transmitir algo ao jogadores sem que seja a vontade de repetir o mesmo mapa com configuraçoes ou armas diferentes…