Onde há fumo há fogo.
Quando um jogo recebe cerca de 60 prémios da crítica, não podem estar todos errados. Titanfall era um dos jogos mais falado nos corredores da E3 depois de ter sido uma das maiores curiosidades da indústria nos últimos três anos, pois antes de mais Titanfall é uma história de bastidores que começou quando Jason West e Vince Zampella, posições de topo da Infinity Ward, foram despedidos pela Activision naquela que parece ter sido uma batalha pelo controlo criativo da propriedade de Call of Duty.
Como seria de esperar criou-se na indústria uma “mitologia” de que tinha sido o capital a obrigar a criatividade a dobrar-se sobre ele (é certo que desde o primeiro Modern Warfare a série nunca mais primou pela originalidade e surpresa), daí que quando Jason e Vince formaram a Respawn Entertainment e com eles levaram quase toda a equipa de Modern Warfare passaram a ser os bons rebeldes. No entanto, os heróis de hoje são os vilões de amanhã e a Respawn tinha de responder ao hype criado em seu redor com algo muito sólido. A resposta foi o impressionante Titanfall.
A maior curiosidade no facto de eu ter atribuído o título de melhor jogo da Gamescom a Titanfall é a minha aversão aos jogos multiplayer, independentemente do género, devidamente explicada em tempos neste artigo. Daí que quando soube que Titanfall era uma experiência exclusivamente multijogador, torci automaticamente o nariz. Já diz a expressão popular “Nunca digas desta água não beberei”, e quando me colocaram o comando nas mãos e me lançaram num mapa recheado de outros jogadores o meu espanto foi crescendo a cada momento que morria e, finalmente, matava!
Titanfall é o relógio suíço dos FPS multiplayer. Todas as mecânicas de jogo e todo o desenho de nível estão planeados e edificado para que exista um equilíbrio perfeito entre as várias abordagens ao jogo e entre os vários tipos de jogador. Os algoritmos actuais de matchmaking já fazem um excelente trabalho e aqui vão certamente evoluir esse patamar, mas acredito que mesmo que juntem jogadores muito experientes com novatos, estes últimos vão ter também a sua hipótese de brilhar. A forma como o mapa é desenhado faz com que nunca consigamos estar fora do raio de visibilidade dos outros durante muito tempo, mas ao mesmo tempo permite transitar rapidamente entre esconderijos que o podem ser durante alguns segundos, o suficiente para abater outro jogador ou jogadora.
Por outro lado, a forma como transitamos entre o chão, os telhados e até as caves faz com que a estratégia deixe apenas de ser horizontal mas adicione uma enorme e fluída estratégia de combate vertical. Esta fluidez é possível pela inclusão e mistura de mecânicas Parkour com Jetpacks que permitem uma deslocação pelo mapa antes de mais divertida, mas também funcional. Correr, saltar, usar o jetpack, correr na parede, saltar, voltar a usar o jetpack e assim sucessivamente permitem uma forma de locomoção que vai certamente introduzir algo novo no género e que proporcionará muitos vídeos deliciosos no youtube. Estas mecânicas estão tão bem afinadas que se aterrarmos perto do beiral de um telhado ou outra estrutura, o nosso piloto agarra-se e iça-se para o topo.
Mas o melhor de Titanfall são os enormes Titãs que lhe dão o nome, Mechs de 7 metros de altura que podemos pilotar e que se tornam gigantes e poderosas máquinas de combate em primeira pessoa, para além de ágeis tendo em consideração o seu peso. É necessário verem o vosso Mech a aterrar (ou a Titanfallar) a primeira vez para perceberem a excitação que se apodera de vocês e, quando entrarem para o seu interior e se ligarem as câmaras que vos permitem ver o cenário de batalha, até o mais noob dos jogadores vai sentir-se poderosíssimo.
O primeiro pensamento das jogadoras e jogadores será certamente: então passo o jogo todo a jogar com o Titã. A Respawn também pensou nisso. É por isso que os Mech têm um sistema de cooldown. Isto é, todos nós começamos no mapa como pilotos caminhado a pé (ou de jetpack). A certo momento o jogo avisa-nos que faltam 60 segundos para o nosso Titã ser entregue e assim sucessivamente até chegar o momento. Quando o nosso Titã cai, nunca o faz em cima de nós, e os segundos em que temos de correr para ele são momentos arriscados em que nos colocamos em campo aberto. Uma vez no interior do Mech temos obviamente energia ilimitada e se por um lado temos um poder de fogo devastador, por outro lado estamos muito mais expostos ao fogo inimigo seja de pilotos ou de outros Mechs. Eventualmente, até pelo próprio constrangimento de locomoção dos Mechs, em um ou dois minutos vamos acabar por explodir, e é nesse momento que nos ejectamos no ar, de onde podemos tentar acertar em alguém ou aterrar no topo de um Mech inimigo.
A partir desse momento em que o nosso Titã se esvai em destroços e chamas, teremos que esperar cerca de 2 minutos até que possamos usar outro. É então que descobrimos o gozo de andar a pé como pilotos, pois todos possuem também armas anti-Titã, e nada melhor que tentar deitar um deles abaixo num autêntico duelo de David contra Golias. A primeira vez que conseguimos abater um Titã com uma metralhadora de alto calibre e em que observando o piloto a ejectar-se matamos este no ar, fica connosco na memória um dos melhores momentos de jogo de sempre.
Vamos ter três classes de pilotos e três classes de Titãs e para além das armas vamos poder escolher no loadout qual o Titã que preferimos. Temos Titãs mais móveis e de assalto, temos outros com artilharia pesada, e ainda Titãs com explosivos. Atirar um rocket de um Titã é assustador para qualquer piloto no terreno, e excitante para qualquer piloto no interior. Mas os pilotos também possuem várias armas e a Respwan assegurou a criação de algumas das armas mais criativas de sempre, como uma pistola que marca cinco alvos ao mesmo tempo com linhas laser em curva e que de seguida dispara os projécteis nessas cinco direcções. Ou se quiserem, podem sempre recorrer à tradicional bomba de fumo eléctrico que coloca o feedback visual de um Titã digno dos problemas de emissão nas televisões dos anos 80.
Titanfall prepara-se para se afirmar como uma das melhores experiências multiplayer de todos os tempos e uma que pode até convencer os mais céticos que gostam de jogar sozinhos. Com mecânicas e um desenho de mapa equilibrados e afinados como um relógio suíço este é um jogo que proporciona oportunidade ao novato e desafio ao mestre. Prometidas estão experiências dignas de uma campanha tradicional misturadas no multiplayer mas apenas tivemos acesso a um pequeno apontamento em que existia a necessidade de a equipa derrotada de fugir para uma nave de evacuação. Os cenários são extremamente vastos e trabalhados, com uma iluminação que grita próxima geração em todas as esquinas por onde espreitamos. Obrigatório na Xbox One, embora também disponível na Xbox 360, se bem que menos titânico. Titanfall numa frase? Respawn, you’re doing it right.