A grande surpresa foram os animais

No dia anterior ao arranque da Gamescom 2013, a Microsoft organizou um evento mais intimista no qual o Rubber Chicken esteve presente, longe das enormes conferências, onde Phil Harrison e companhia explicaram a cerca de 200 jornalistas internacionais algumas das estratégias da marca e lançaram alguns exclusivos. No entanto, o melhor desse evento à porta fechada foram as três horas seguintes em que nos foi possível experimentar todo o alinhamento de jogos Xbox One publicados pela Microsoft. Curiosamente, no meio de corridas, batalhas e zombies de próxima geração, a maior surpresa estava reservada para o regresso de Zoo Tycoon, agora como exclusivo Xbox One e Xbox 360.

Zoo Tycoon começou por ser um jogo de gestão e estratégia do inicio da década de 2000 que embora tenha recebido críticas díspares acabou por reunir uma sólida base de jogadores, o que conduziu a expansões e sequelas. Em 2008 a Frontier Developments foi abordada por parte da Microsoft para continuar esta propriedade, graças ao bom trabalho que tinham conseguido com os últimos RollerCoaster Tycoon. O projecto foi então baptizado como Zoo Tycoon Next. No entanto, durante as primeiras fases de desenvolvimento, a Microsoft preparou-se para lançar uma nova tecnologia que precisava de promover: o Kinect. Foi então pedido ao estúdio que desenvolvesse um jogo em que as jogadoras e os jogadores interagissem com os animais.

Zoo Tycoon

 

O responsável da Frontier ria-se enquanto nos relatava este início atribulado. “Mas como interagir com crocodilos, ou com uma avestruz?” – perguntava ele divertido, manifestando os dilemas criativos que a equipa tinha encontrado. Foi então que surgiu a ideia de isolar os “gatos” num jogo separado e criar o Kinectimals, um dos jogos que mais ajudaram a levar o Kinect às crianças. Após Kinectimals o estúdio regressou a Tycoon mas apenas para pararem novamente ao serem abordados pela Disney que lhes sugeriu transportarem a experiência de manuseamento de tigres a todo o universo dos parques Disneyland. Foi assim que Kinect Disneyland Adventures tomou forma, possivelmente aquele que foi um dos melhores jogos Kinect. Quando perguntei porque razão um jogo tão bem elaborado tinha passado tão despercebido, o produtor da Frontier corrigiu-me com as mais de 2 milhões de unidades que o jogo conseguiu colocar no mercado, o que é considerável para um nicho.

Passados estes projectos a equipa regressou a Zoo Tycoon, desta vez retirando o Next do nome, e com uma grande lição dos jogos anteriores. “Se vais fazer um jogo com Kinect, proporciona também às pessoas a opção de jogarem com um comando tradicional”. Daí que este Zoo Tycoon permita um experiência de jogo apenas com o comando que dá acesso a todas as funcionalidades do jogo, embora muitas delas possam ser também enriquecidas com as câmaras da Xbox. Um exemplo é quando chegamos pela primeira vez ao nosso parque e somos recebidos por uma ajudante do Zoo que traz um lémure no ombro. Para além de com o comando tradicional podermos interagir com o lémure e saber uma vasta informação sobre a espécie, podemos usar também o Kinect para interagir com este com as nossas mãos. É um extra, não uma obrigatoriedade.

ZooTycoon02

 

No entanto o que mais nos surpreendeu neste jogo foi o interface. A Frontier conseguiu alcançar um dos melhores interfaces de sempre, não só de um jogo de estratégia como de qualquer jogo. O esquema de controlo de Zoo Tycoon assemelha-se ao Dashboard da própria consola, mas vai ainda mais longe na facilidade de compreensão e utilização do que os próprios interfaces da Microsoft. É rápido, intuitivo, agradável e visualmente genial. Aquilo que sempre foi o maior problema dos jogos de estratégia numa consola foi aqui resolvido com enorme mestria, tornando-se fácil para uma criança, mas com um gigantesco número de opções para um adulto.

Zoo Tycoon foi também afinado para todas as idades e destrezas. O jogo possui formas quase automáticas de construir habitats, comprar animais, proporcionar funcionalidades aos visitantes ou servir as necessidades das várias espécies, mas permite também uma micro-gestão e personalização de todas as características e funcionalidades. Isto faz com que uma criança de 10 anos consiga facilmente construir um Zoo funcional, mas permite também que os pais “gamers” possam afinar todos os pormenores dessa criação.

A mecânica principal de jogo baseia-se na satisfação, tanto de animais como de humanos. Por exemplo, numa missão que jogámos, a girafa estava triste por diversos factores. Construímos então uma estação de alimentação e uma estação de banho no seu habitat (podemos mais tarde interagir com estas na primeira pessoa usando o comando ou o Kinect, para lavar ou alimentar à mão os animais). Seguidamente comprámos uma girafa fêmea para companhia (que rapidamente chegou transportada de helicóptero) mas mesmo assim a nossa girafa não estava satisfeita. Faltava-lhe a presença da Savana e dos felinos por perto. Foi isso então que fizemos: construímos um habitat com grandes felinos e com tudo o que era necessário. Deixámos assim uma girafa feliz.

Zoo Tycoon

 

Esta foi uma de muitas missões de uma campanha de cerca de 15 horas que estará disponível. Perguntei o que aconteceria então se tivéssemos colocado o leão no habitat da girafa. Este iria comer o outro animal? “Não”, respondeu o produtor, “o que aconteceria é que ficariam ambos os animais tristes”. Esta tristeza, quando a vamos consultar, pode dar-nos mais informações e é aí que aprendemos que juntámos um predador com uma presa. “Não queremos criar um jogo violento, mas queremos que as crianças tenham a informação real necessária”.

Para além da campanha o jogo possui um modo Sandbox em que os nossos fundos financeiros são ilimitados (dispensando a utilização de cheats), para além de challenge modes de 20 a 30 minutos que proporcionam sessões de jogo mais curtas, e também um modo cooperativo com dois jogadores no parque, para o qual ainda não há informação disponibilizada.

Uma grande ideia no entanto é a forma como a Frontier está a incluir o online no jogo e a utilização da comunidade Xbox Live, que vai muito além de Leaderboards. O jogo está constantemente a ser actualizado com notícias do mundo real. Por exemplo, recentemente caçadores de prémios mataram ilegalmente vários rinocerontes no Quénia. A Microsoft lança então um desafio à comunidade para que esta faça a criação conjunta de 1000 rinocerontes virtuais nos seus parques e os libertem no mundo “real”. Quando este número for atingido a Microsoft faz doações a fundações que combatem este flagelo. “Esta é uma forma maravilhosa de criar achievements. Em vez de um logotipo os jogadores ganham o conforto de terem ajudado uma causa”, afirmou com orgulho o responsável da Frontier.

Zoo Tycoon

 

Com um motor de jogo extremamente polido que proporciona animais fantásticos, a maior surpresa de Zoo Tycoon é o seu interface de jogo funcional e equilibrado ao pormenor que torna o jogo perfeitamente adaptado a um comando. Com o Kinect como extra em vez de obrigatoriedade, com ferramentas de criação e gestão que podem ser automatizadas ou geridas ao detalhe, este exclusivo Xbox One e Xbox 360 promete ser um dos melhores jogos de estratégia e gestão numa consola. No meio de zombies, corridas e combates da próxima geração, foi a experiência de tentar fazer uma girafa feliz que acabou por nos surpreender. Disponível no dia de lançamento da Xbox One.