Aturem-me durante uns parágrafos enquanto eu começo por fazer um exercício de New Journalism com vocês e coloco-me a mim próprio no texto da notícia. Mas esta história pessoal serve como introdução perfeita para o texto que se segue.
No dia 7 de Abril deste ano no campo de treinos dos comandos na Carregueira, inscrevi-me na Comando Challenge, uma prova de 10kms com obstáculos de tropa. Quando contava isto às pessoas elas olhavam para mim e perguntavam se eu tinha enlouquecido. Na altura eu pesava 95 quilos e não corria há mais de 6 meses. Mas acreditei no desafio e como as pessoas dos livros de auto-ajuda com as suas histórias inspiradoras enfrentei a prova com coragem e determinação. Até aos dois quilómetros de distância.
A partir dos dois quilómetros e até aos 10 (que na realidade eram 12) eu vivi alguns dos momentos mais infelizes da minha vida, enquanto já só a andar atravessei lama, canos de esgoto, trepei estruturas metálicas e ultrapassei blocos de fardos de palha, enquanto só desejava que o meu martírio chegasse ao fim. Três horas depois cruzei a meta, olhei-me em casa ao espelho e hoje, cerca de 4 meses depois, peso 82 quilos e já corro muito mais à vontade.
Para que é que serviu este texto de introdução para além de gabar a minha perda de peso? Para falar sobre a Run for your Lives, uma corrida do mesmo género com 5 quilómetros de distância mas com uma pequena variação: Zombies. Para além dos habituais obstáculos que já por si dificultam a progressão, cada participante corre com várias fitas penduradas na cintura que são aquilo que os Zombies tentam apanhar. Se chegarmos à Safe Zone a 5 quilómetros de distância da partida ainda com alguma fita na cintura, então fazemos parte do lote dos sobreviventes. Caso a nossa chegada seja feita sem uma única fita todos nos vão olhar de lado porque estamos infectados, e é melhor estarmos constantemente a olhar por cima do ombro porque o Daryl Dixon andará de flecha apontada à nossa procura.
Para quem preferir, podem fazer parte não dos que fogem mas dos que perseguem. Podem inscrever-se na corrida como Zombies e tentar “morder” a maior parte das fitas. Ganham obviamente os melhores colecionadores de bocados de carne, miolos, ou vísceras em forma de pequena bandeirola. Mas o melhor prémio é uma transformação gratuita que nos fazem antes da corrida para que estejamos despidos para a ocasião, sem parte da nossa carne e pele.
A Microsoft foi inteligente e um dos patrocínios ao evento é de Dead Rising 3. No entanto, as regras especificam bem que o contacto corporal é proibido por isso escusam de ir para lá com uma mistura da vossa ventoinha de casa com uma caçadeira agarrada com fita adesiva, ou tentarem colar as facas todas de cozinha à parte frontal da vossa bicicleta. Há uma festa do Apocalipse para todos, há t-shirts, bebidas e muito campismo naquela que é a mais divertida perseguição de pessoas sem cérebro, que está a percorrer os Estados Unidos e que queremos que chegue ao nosso país. Uma certeza porém, tivesse sido em Abril e comiam-me o cérebro à vontade, sem qualquer resistência. Até agradecia pois não pensava mais no assunto.