Quando me sentei na Gamescom com Dave Cox da Konami, a minha primeira pergunta foi de onde vinha a confiança da sua afirmação de que Lords of Shadow 2 iria contar uma estória que ficaria para sempre na história dos videojogos. A sua responsta foi: “Vocês nunca viram o Dracula da forma que o vamos mostrar”.

Engane-se quem pensa que os jogos que são apresentados na Gamescom são repetições das apresentações da E3. Com o impressionante crescimento da feira europeia (o que também se reflecte num crescimento exponencial da cobertura dos media), as marcas concentram-se em revelar novos níveis, novos detalhes e, mais importante ainda, versões muito mais polidas daquelas que nos apresentaram uns meses antes. Castlevania: Lords of Shadow 2 foi disso um bom exemplo, com Dave Cox a apresentar-nos 15 minutos de jogabilidade dentro do castelo de Dracula e muitas das funcionalidades que ainda não conhecíamos da apresentação anterior da E3 sobre a qual escrevemos aqui.

Castlevania: Lords of Shadow 2

Three, four, better shut the door…

 

O Castelo de Dracula é parte integrante desta sequela narrativa de Belmont. Na demonstração que experimentámos Gabriel tinha já ultrapassado uma hora de jogo mas ainda não conseguira recuperar a Void Sword, a célebre espada que suga a vida aos inimigos. Gabriel está no entanto debilitado e o seu Castelo, pressentindo-o, rebela-se contra o seu amo tentando bloquear-lhe a progressão. Esta interacção entre Dracula e o seu castelo conduz a mecânicas curiosas que envolvem o sangue que corre nas pedras e paredes do cenário e que dá vida a estruturas, a roldanas, a armadilhas e outros objectos que ganham vida com o fluído, mas começa também já a abrir a porta à metáfora do sangue que Gabriel precisa mas que ao mesmo tempo é o seu inimigo. No entanto, o melhor do castelo de Gabriel são os fascinantes interiores que este proporciona.

Frequentemente nos esquecemos que Lords of Shadow 2 é um jogo da actual geração de consolas. Os interiores que se vão sucedendo são de uma magnitude épica com uma distância de desenho verdadeiramente impressionante. Grandes salões góticos com candelabros detalhados e estantes repletas de livros e outros cenários interiores, com grandes espaços trabalhados ao pormenor, fazem-nos pensar como é que a equipa da MercurySteam consegue colocar toda esta beleza gráfica em acção sem um único soluço na jogabilidade. O único problema do jogo ao nível do desempenho prende-se com as animações do sangue que envolvem sistemas de partículas o que é compreensível pois já está tudo completamente esgotado nos vastos cenários e no detalhe de Gabriel e inimigos para ainda estar a juntar mais peças.

O velha 2.0. O miúdo que parece uma velha também de frente.

O velha 2.0. O miúdo que parece uma velha também de frente.

 

Mas é também da jogabilidade que se faz esta sequela que soma em vez de reinventar. O polido combate hack’ n’ slash na terceira pessoa está de regresso mas desta vez acompanhado por uma câmara livre que podemos controlar, embora durante as sequências de combate a câmara possa fazer ajustes automáticos sempre que prendemos o ataque a um só inimigo. Os combos estão de regresso mas desta vez a Mercury desenvolveu uma mecânica de jogo que premeia a utilização eficaz de combinações e não apenas o pressionar desenfreado de botões. Cada vez que completamos uma combinação com sucesso vamos ganhando progressão de nível nesse ataque, que nos permitirá depois desbloquear melhoramentos para as armas ou comprar combinações mais poderosas. Cada arma tem os seus próprios combos e árvores de skill.

Para além deste sistema de Mastery das combinações, vamos também crescendo gradualmente o nosso nível de focus em cada golpe efectuado, que pode ser perdido gradualmente sempre que somos atingidos, e que serve para activar ataques de magia nos momentos mais necessários do combate.

Sangopatia. Gabriel vê sangue até dentro dos ossos.

Sangopatia. Gabriel vê sangue até dentro dos ossos.

 

De regresso está também a mecânica de plataformas que presta homenagem aos primórdios da série, mas aqui com escalada e saltos de uma velocidade, fluidez e agilidade incríveis, bem afinados do ponto de vista de controlo e acompanhados por animações de Gabriel que sendo extremamente rápido na progressão entre obstáculos o tornam muito distinto de personagens de outros jogos com estas capacidades. No entanto, algumas secções on-rails como aquela em que tivemos que fugir de uma secção em queda no interior do castelo levantaram alguns receios sobre a tendência de repetir experiências de outras propriedades.

No final da demonstração, depois de vários inimigos deixados pelo chão do castelo defrontamo-nos com um enorme Golem alimentado pelo sangue da nossa morada ao qual sugámos no final do combate o poder de congelar os inimigos e elementos do cenário. Esta nova capacidade mágica adquirida permitiu-nos congelar uma cascata que podemos então trepar. Dave Cox garantiu-nos que vão existir muitos mais destes poderes para irmos adquirindo ao longo do jogo.

Castlevania: Lords of Shadow 2

Raio da parede não pára quieta!

 

O Castelo de Dracula como entidade viva, com mãos feitas de sangue a saírem de poças no chão, com mecanismos e armadilhas a serem alimentados por este fluido, mas principalmente com interiores vastos e visualmente impressionantes foi o melhor desta demonstração de Castlevania: Lords of Shadow 2 que Dave Cox nos proporcionou na Gamescom. A componente que ainda não vimos em nenhuma das apresentações foi a do ambiente dos dias de hoje introduzido no jogo, embora a nossa insistência fizesse Dave abrir um pouco o jogo e revelar que vamos ter uma cidade com carros, lojas e neóns como qualquer metrópoles moderna a que estamos habituados, mas com muito gótico misturado e uma sensação que o enorme horizonte de prédios é também ele um gigante castelo. Com Dave Cox a afirmar que esta vai ser uma das melhores histórias de Dracula jamais contadas em qualquer formato, e com o aperfeiçoar de todas as mecânicas que já fizeram do primeiro um grande jogo, temos provavelmente em Lords of Shadow 2 um dos melhores de 2014, mesmo que esse seja um ano de novas gerações.