Horas após o anúncio mundial do lançamento desta nova consola portátil, tivemos a possibilidade de a experimentar no showroom da Nintendo. Admito que desde a revelação da 2DS, e das informações que foram divulgadas, cresceu em mim uma grande reticência sobre a viabilidade/qualidade desta nova aposta da gigante nipónica. Mais do que tudo por considerar que tanto a 3DS original como a sua versão XL são consolas extremamente sólidas e viáveis, e que vêm em linha de continuidade com uma política de desenvolvimento da empresa desde o GBA SP.

A primeira informação – e a mais visível – era a de que esta consola não é mais do que uma 3DS sem o ecrã em 3D. Passei automaticamente a imaginar que para esta decisão o sr. Iwata poderia ter tido o Pedro Abrunhosa como mente-criativa (a “Uma garrafa vazia/Um cinzeiro apagado” apetecia adicionar “Uma 3DS sem 3D”) mas rapidamente percebi que mais do que tudo, numa senda de poupança de materiais, a Nintendo poderia estar a abrir um precedente terrível. O que se seguiria? Uma Wii U sem o WiiU Pad? O WiiFit sem o Board? Um jogo do Mario sem o Mario?

Nintendo 2DS

 

Com um preço de lançamento a rondar os 130$ (convertidos para 130€ na Europa?), a questão económica parece ser o único, e realço, o ÚNICO argumento de venda válido para a consola. Com um dia de lançamento mundial a 12 de Outubro (coincidindo com o lançamento de Pokémon X & Y) a aritmética apresentada é possivelmente o grande factor que fará a 2DS vender. O valor actual da 3DS são 170€. Adicionando os 49,99€ previstos do lançamento do Pokémon chegamos aos 220€. Colocando-nos na situação de alguém que deseja comprar a consola especificamente pelo jogo, é fácil perceber que os (previstos) 130€ de lançamento da 2DS quase que permitem levar o novo Pokémon por 9,99€.

A validade pragmática do lançamento da 2DS termina aqui, na minha opinião, com a possibilidade de recuperar jogadores da DS que não fizeram a transição para a 3DS. Isso é um factor funcional que está bem estudado no novo design da consola: ambos os triggers são ligeiramente maiores do que os das suas contrapartes 3DS, com uma concavidade que torna a sua utilização ergonomicamente mais eficaz.

Nintendo2DS Blue Back

Em relação ao design da própria consola há muito que me é possível analisar, e fá-lo-ei não apenas como ávido jogador da 3DS, mas também com a racionalidade inerente à minha formação/prática de Designer e professor de Design: a 2DS é extemporânea e mais do que tudo, deita ao chão toda a classe e definições estéticas conquistadas com a DS e 3DS. O material utilizado é um plástico que aproxima a 2DS de uma cópia chinesa de uma consola “verdadeira”, ou de um brinquedo do Toys’R’Us. E o argumento de que isto se ajusta na perfeição ao público-alvo: as crianças, acaba por ser falacioso, assim como a eventual comparação com o caso GBA-GBA SP.

O GBA tinha um aspecto frágil (altamente comprovado pela passagem do tempo, basta verificarem quantas consolas em segunda mão são vendidas sem a tampa das pilhas) e mais do que tudo, barato. O lançamento do GBA SP trouxe outra robustez à consola, com materiais mais resistentes, e reintroduziu o conceito de consola-concha (como os saudosos Game & Watch) e que são a grande imagem de marca da Nintendo. Esta aura de que uma consola portátil não é só indicada para crianças foi criada, do ponto de vista de estudo de Marketing, com o GBA SP, e solidificada pela DS.

O outro factor, o não-estético, mas funcional, é que o formato em concha da DS é a grande razão pela qual ainda hoje conseguimos conservar os nossos ecrãs sem riscos ou quaisquer outros danos aos botões e restantes componentes. É que o chassis da própria consola serve da sua protecção primária, e impede que a portabilidade da mesma seja um sinónimo de danos à consola. A extemporaneidade da 2DS, por outro lado, incide na grande sensação de downgrade de uma versão para outra, ou seja, que para obter o preço-meta foi necessário sacrificar o equilíbrio optimizado com a 3DS entre portabilidade/solidez/jogabilidade, para ter uma consola excessivamente demarcada para um nicho de mercado específico, que me parece, à excepção da questão financeira, funcionalmente abrangido pela 3DS.

Comparação entre os tamanhos da 2DS e da 3DS XL.

Comparação entre os tamanhos da 2DS e da 3DS XL.

 

Admitindo que grande parte dos jogadores de 3DS que conheço não utilizam o 3D, terá a Nintendo percebido que esta mais-valia é afinal, um prejuízo de produção? E ter como grande resposta à criação de uma versão “barata” da consola a retirada daquele que é O grande argumento de venda e de inovação da 3DS: o ecrã em 3D sem a necessidade adicional de óculos?

Percebe-se porém, após analisar o mercado, que após estes 2 anos e meio de existência, o grande factor de venda da consola não é o 3D, mas sim a qualidade dos seus jogos. E se a criação de uma consola de menor qualidade é a única resposta para tornar acessíveis os softwares exclusivos a mais gente, então que se pague o preço desta quasi-democratização. Apesar de acreditar que o aspecto banal da consola poderia ter sido sacrificado a par do 3D.