Sofrerás de narcolepsia Luigi?

Sem quaisquer rodeios iniciais: é de senso comum que o patamar em que os sucessivos Mario & Luigi, (para GBA e DS) estão colocados é extremamente alto. Teve como origem o magistral Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars para a SNES, que bifurcou em duas séries distintas: Paper Mario, que tem vindo progressivamente a perder o seu encanto após o genial Paper Mario: The Thousand-Year Door para a Gamecube; e Mario & Luigi, a série de RPG que tem sido o equivalente em videojogo ao que Mário Jardel fez no futebol (e não nos referimos a mergulhar para grandes-áreas, nem ao facto que ele e o canalizador de bigodaça serem homónimos), cada tiro – cada golo. A contar já com três jogos na prateleira, Mario & Luigi habituou-nos à sua própria reinvenção em cada sequela, em adições de mecânicas e inovações que o fazem ser algo mais do que um RPG por turnos, sabendo aproveitar com muito humor, o que de melhor o universo da estrela da Nintendo tem para oferecer. Se em Mario & Luigi: Partners in Time para a DS, tínhamos de resolver puzzles e combater utilizando uma party de 4 elementos, e em Mario & Luigi: Bowser’s Inside Story jogarmos separadamente com os irmãos e no ecrã superior com o antagonista Bowser, Dream Team Bros mostra-nos um novo mundo a ser explorado: o dos sonhos.

De realçar que a versão jogada está totalmente traduzida em Português (de Portugal) ao contrário das versões de antevisão que experimentámos, que eram totalmente em Inglês. A minha reticência pessoal em jogar jogos traduzidos (em muito cimentada por dezenas de péssimas traduções de videojogos que já tive a oportunidade (?) de experimentar) foi destruída por completa pela boa qualidade da transposição do texto original em Inglês para a nossa Língua, e a capacidade com que se adaptaram diversas “camadas” de humor presente no jogo, sem nunca lhes perder o espírito original.

Apesar do fio condutor do jogo não diferir muito da maioria dos jogos de plataformas do Mario (Princesa Peach é raptada, os irmãos passam por uma série de peripécias e no final salvam a princesa derrotando o Bowser e mais outro vilão qualquer que apareça para jantar e não traga vinho para acompanhar) a equipa da Alpha Dream, com a habitual carta branca que recebe da Nintendo, acabou por criar um novo capítulo de personagens e cenários, adicionando-os ao mythos do Mario.

A história decorre numa escapadela de férias da Princesa Peach (de Verão, supomos, não tivesse o jogo sido lançado em Julho), que decide conhecer uma terra longínqua: a Ilha Travesseiro. Não criticaremos a qualidade da agência de viagens da Princesa, que a envia sempre para locais perigosos, quando por exemplo, o ensolarado Portugal tem terras tão bonitas como a Rinchoa ou a Brandoa. E estás más escolhas é claro que dão sempre no raptozinho da praxe, como apraz a qualquer vilão de primeira ou segunda categorias!

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Nunca te vejo a fazer nada! Ou estás nas palhas estendido, ou estás nas palhas deitado!

 

Ao contrário dos restantes jogos, e sendo este o “Ano do Luigi”, é de perceber a preponderância do irmão ligeiramente-menos-obeso da dupla como o elemento fulcral da narrativa e ponto-chave das mecânicas desta “Equipa de Sonho”. É ele quem tem o poder de interagir com os Travesseiros, a nova raça criada para este jogo e de, ao deitar a cabeça neles e adormecer, consegue abrir portais para um mundo paralelo de sonhos. A dicotomia apresentada no jogo é simples: as partes jogadas no mundo real desenrolam-se num plano quase picado típico da maior parte dos RPGs, e a jogabilidade do mundo Onírico desenrola-se em plataformas bidimensionais. Mario percorre estas dimensões oníricas sozinho. Aliás, quase sozinho. O Luigi Onírico, a personificação de Luigi nos seus próprios sonhos está lá sempre pronto para o ajudar. Se quase toda a acção durante todo o jogo se desenrola no ecrã superior, é curioso como a dicotomia mundo real – mundo onírico está presente inclusivamente na nossa consola na forma de apresentação da nossa consola. Quando Luigi adormece e transporta Mario para os seus sonhos, podemos interagir com ele no ecrã inferior, o mundo real, e veremos as consequências que a nossa interacção tem na sua contra-parte Onírica, e de que forma é que diversos poderes (ou interacções com o cenário) são activados no ecrã superior, o mundo Onírico onde Mario está. Esta é conceptualmente umas das melhores opções de exploração dos 2 ecrãs da 3DS, em linha de continuidade com a mecânica apresentada no seu antecessor, Bowser’s Inside Story, em que o ecrã inferior demonstrava a acção dos irmãos no interior do corpo de Bowser, e o superior as acções deste no mundo exterior.

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Fujam! São swaps tóxicos!

 

No mundo real os irmãos combatem lado a lado, com todas as características típicas da série, tais como os ataques serem potenciados pelo timing com que carregamos nos botões de ataque, assim como a nossa eficácia em desviar-nos de ataques inimigos depende desse mesmo timing, passando pelos tipicos ataques conjuntos (os Ataques Bros).  No mundo Onírico Mario luta quase sozinho. No início do combate a manifestação do Luigi Onírico incorpora o Mario, exponenciando todos os seus ataques. E os ataques especiais, chamados Luiginários, são normalmente invocações de múltiplos Luigi que utilizam poderes especiais para derrotar os seus adversários.

Apesar de não ser novidade, e relembrar a luta do Giant Bowser do seu antecessor, Dream Team Bros traz-nos uma espécie de inspiração nas séries Super Sentai (adaptadas no Ocidente como Mighty Morphin Power Rangers), em que para combater inimigos gigantescos, os heróis invocam um mecha para os auxiliar. À falta de mechas cabe ao Luigi Onírico crescer para um tamanho titânico e combater cara-a-cara com qualquer gigante de serviço, sendo que para estes combates temos de rodar a nossa 3DS 90º.

Outra nova mecânica apresentada é a da utilização de medalhas. Cada vez que o Mario e o Luigi atacam com sucesso um inimigo enchem um pouco a barra das medalhas. Ao enchê-la na totalidade, temos acesso a um poder especial (dependendo da combinação de medalhas que escolhemos) que pode ir entre curar os pontos de vida de ambos ou fazer um ataque a todos os inimigos. A componente RPG continua presente com o sistema de level up habitual, sendo que as características de ambos permanecem: Mario mais vocacionado para o Ataque e a Velocidade nos turnos, e Luigi mais indicado para a Defesa e a quantidade de pontos de Vida.

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MegaLuigizord: transmorfar!

 

O grande ponto negativo na experiência trazida por este jogo prende-se por questões de ritmo narrativo. Se a inclusão de um mythos completamente novo, com novos personagens secundários, como o Príncipe Oniriberto e o novo antagonista, o Conde Antasma, mantém a senda da série de proporcionar sempre inovações no seu elenco de jogo-para-jogo, a cadência rítmica em que a narrativa se desenrola está muito longe da fluidez irrepreensível dos seus antecessores. A longevidade do jogo, entre 40 a 50 horas são alongadas de forma forçada pelo ritmo excessivamente compassado e com quebras constantes dessa progressão, piorado e muito, pela exploração exaustiva dos mesmos mapas/dungeons.

O melhor: a insistência da Alpha Dream em manter um ar fresco a cada sequela da série; as novas mecânicas do mundo Onírico; o novo elenco; a qualidade do humor e as diversas camadas do mesmo, indicadas para públicos diferentes.

O pior: a longevidade forçada; os diálogos por vezes desnecessários; o ritmo excessivamente compassado e a consequente quebra de fluidez.

Mario & Luigi: Dream Team Bros é um excelente jogo, que só não está um patamar acima por não ter sabido refrear-se: o valor de um jogo não se mede pelas horas que o mesmo proporciona, e o forçar uma longevidade inexistente impede-o de atingir o seu verdadeiro potencial. Para os apreciadores da série é claro que o jogo deve ser saboreado e nunca apressado. Por um lado, apressar o jogo significa encontrarmos os bosses finais sub-nivelados para os combater. Por outro, perder as dezenas de subtilezas que o jogo nos traz, os pequenos apontamentos de humor que estão escondidas em trechos de diálogo ou em acções dos seus personagens. Dream Team Bros é um RPG por turnos obrigatório a todos os fãs do género, e que mantém a fasquia alta numa série que nunca desiludiu e que torna cada uma das suas sequelas verdadeiros jogos obrigatórios para cada consola onde são lançados.

8

Sobre as análises e sistema de classificação

Mario & Luigi: Dream Team Bros é um exclusivo Nintendo 3DS