Quando me encontrava a fechar, com os representantes das várias editoras, mais de cinco dezenas de marcações antes de viajar para a Gamescom 2013 recebi um curioso press release no email anunciando um simulador de ski free-to-play a correr no CryENGINE 3, com uma enorme montanha em mundo aberto para explorar. Isto talvez não fosse suficiente para algo mais do que enviar para a pasta “a ver”, mas algo no texto prendeu a minha atenção: uma equipa de apenas três pessoas.

Rapidamente contactei o micro-estúdio na tentativa de perceber se por alguma sorte estariam na Gamescom, sinceramente não acreditando na capacidade financeira de uma equipa de três pessoas levar o jogo ao evento. Disseram-me que sim. Marcámos um dia e uma hora num dos raros buracos do calendário. Depois perguntei-lhes onde os encontrar. Responderam: no stand da Crytek.

SNOW

 

Quando cheguei à Crytek para conversar com os suecos Alexander Bergendahl, CEO da Poppermost Productions, e com Filip Lundgren, director técnico do estúdio, não podia ter encontrado uma combinação de equipa mais caricata. Alexander é o típico nórdico, de pele muito branca, cabelo quase dourado, mais de 1,90 de altura e um comunicador nato. Já Filip é muito baixo, tez e cabelo escuros e muito menos falador. Mas ambos partilham semelhanças que os unem aqui, como criadores de jogos e amantes de ski. Foi isto que os juntou com mais um elemento e os levou a criar SNOW que começou como projecto académico e acabou por crescer para modelo de negócio e razão de ser e existir do próprio estúdio.

Existe algo de excitante quando os pequenos criadores correm as suas alpha builds num televisor a partir do portátil do programador. Longe dos grandes banners de jogo das grandes editoras (a Rockstar forrou até a zona de negócios com GTA V ao longo de todas as paredes) e da mensagem pré-aprovada pelo marketing, nestas pequenas apresentações encontramos o cerne da criação, a sinceridade sobre o produto que está a ser trabalhado e que estamos ainda a observar no seu estado mais bruto e menos maturado.

SNOW

 

No entanto, mesmo a caminho de alpha, SNOW já começa a dar mostras de um jogo sólido. O melhor é mesmo o ambiente de montanha que esta micro-equipa conseguiu criar, com uma profundidade de campo lindíssima e uma sábia utilização dos vários elementos do motor de jogo. A montanha é gigantesca, e foi trabalhada e esculpida manualmente para que pudesse proporcionar vários trajectos naturais tão realistas como divertidos. Notamos ao longo da descida que não estamos perante um gerador automático de geometria, mas que cada pedra, cada declive, cada queda estão colocadas como se tivessem sido elaboradas por um construtor de maquetes.

A Poppermost não quer que SNOW seja um simulador exacto do acto de esquiar, de forma a tornar o jogo divertido, mas por outro lado também não quer repetir as liberdades exageradas de jogos como SSX. Aquilo que tenta atingir é um bom equilíbrio embora aquilo que o jogo me proporcionou foi muito mais próximo de uma experiência realista do que divertida. Porém, para quem já praticou Ski este vai ser o título que mais fielmente irá reproduzir a experiência de cravar os skis em neve fofa fora de pista, em zonas de gelo ou em neve alisada, com os criadores a garantirem que o grau de diversão e recompensa vai aumentar gradualmente ao longo das próximas fases de desenvolvimento.

SNOW02

 

SNOW vai ser um free-to-play com um modelo de negócio baseado na compra de elementos estéticos. É impressionante o que uma equipa de três pessoas já conseguiu fechar ao nível de contratos, pois a versão que experimentei contava já com algumas centenas de peças de vestuário e de skis de marcas bem famosas entre os praticantes. Aquilo que já está no jogo são elementos autorizados e oficiais do catálogo da próxima temporada, mostrando a confiança que as marcas estão a depositar no estúdio.

O jogo poderá ser jogado em modo de um jogador ou em multiplayer, em terceira ou em primeira pessoa (este último modo ainda está muito tosco) com vários desafios e corridas para participar, ou simplesmente em descida livre a começar nos cumes despidos e a terminar nas casas e outras edificações que surgem à medida que vamos chegando à base.

SNOW

 

Com um ciclo de dia e de noite, com versões diferentes de fricção conforme o tipo de solo, com a promessa de Snowboard e de suporte para Oculus VR no futuro e, principalmente, com uma montanha gigantesca para esquiar, SNOW é um dos jogos independentes a estar mais atentos, especialmente se formos fãs destas actividades. Para já, resta-nos aplaudir o que três esquiadores com a paixão pelos jogos conseguiram alcançar.