Como já referimos em análises a outros jogos do catálogo da LEGO, existe algo nestes títulos da TT Games que nos desperta o instinto primitivo de caçadores-recolectores assim que somos deixados nos cenários digitais feitos de peças desmontáveis. Escusamos também de pensar que isto é um defeito nosso, que os outros jogadores conseguem resistir a esse chamamento de destruição, mas na Gamescom algo nos confortou definitivamente. Arthur Parsons, o director de jogo de LEGO Marvel Super Heroes foi o responsável pela condução da apresentação à porta fechada do jogo. A primeira coisa que ele fez assim que o nível começou foi desatar a partir coisas, o que não era necessário à progressão mas porque foi um instinto automático.
A apresentação da Gamescom trouxe muito mais áreas de jogo e personagens e um dos focos principais foram as Big Figs, a versão gigante das figuras tradicionais da LEGO, tornadas possíveis pela inclusão de heróis de peso da Marvel como Hulk, Coisa, mas também o menos conhecido Blob. Isto mostra que o universo da Marvel está aqui representado de uma forma fascinante não só com os heróis habituais mas também com aqueles menos conhecidos dos fãs menos dedicados. É aliás aqui que Super Heroes se destaca de todos os outros jogos da LEGO e que leva muito mais longe a lista de personagens jogáveis.
LEGO Marvel Super Heroes é o maior título da série no qual a TT já trabalhou. É frequente os jogos da LEGO possuírem centenas de personagens mas não é assim tão frequente que cada uma possua um variado conjunto de mecânicas de jogo distintas. Podíamos escrever um longo texto só descrevendo as personagens que nos mostraram durante esta apresentação, mas a quantidade de jogabilidade diferente que vimos mostrou a enorme ambição (e horas de trabalho) da equipa do jogo.
Na antevisão da E3 já tínhamos referido a deliciosa transformação de Hulk em Bruce Banner e vice-versa, assim como as fantásticas mecânicas do Aranha e do Homem de Ferro. Na Gamescom o maior destaque foi para Sr. Fantástico e para as suas capacidades de se transformar em vários objectos graças ao poder da elasticidade. Reed Richards é um mágico da transformação podendo “teleportar-se” entre locais, passando literalmente “de fininho” por entre estruturas; transformando-se num enorme alicate de corte para vencer obstáculos como correntes e cadeados; ou assumindo a forma de uma enorme chave de fendas para abrir estruturas e passagens. Escusado será dizer que os seus braços e pernas extensíveis são de uma eficácia tremenda no derrube de inimigos. Como curiosidade, Fantástico pode ainda transformar-se em “fantásticos” objectos como um bule de chá que nada servem para a jogabilidade, mas têm a sua graça.
Mas cada personagem aproveita o seu poder principal para o transformar em mecânica: o escudo do Capitão América consegue reflectir e dirigir raios laser para locais mais aconselhados à progressão; o Iceman pode projectar um tapete de gelo que o permite deslizar no ar ao longo do cenário; a Squirrel Girl pode planar ou então envolver o inimigo em esquilos até este explodir em peças; o Dr. Octopus desloca-se com todos os seus tentáculos que podem servir também de arma; e se referirmos os nomes de Jean Grey, Ghost Rider, Cyclops, Dr. Doom, Wolverine, Green Goblin ou do mítico Stan Lee (que agrega quase todos os poderes, não fosse ele a ter idealizado grande parte deles) podem começar decerto a imaginar as centenas de possibilidades de jogo que vão ter à vossa disposição. Existe até lugar para Howard the Duck ou um Stan Lee Hulk que ao crescer mantém tanto o cabelo branco como os óculos, para além de todas as versões de fatos do Homem de Ferro incluindo o Heavy Duty Brute que dá aqui origem a uma Big Fig. Com artistas como Nolan North, Troy Baker ou Steve Bloom a emprestarem a voz a algumas destas figuras LEGO (North é Deadpool) está lançado o tapete para um desfile de personagens memoráveis.
As animações de cada figura estão de um enorme detalhe e trabalho, conduzindo a pormenores fantásticos como as animações de movimentos de Venom, mas foi o facto de LEGO Marvel Super Heroes estar a correr numa PS4 que fez notar o enorme salto na qualidade gráfica relativamente a jogos anteriores. O brilho e a cor das peças é muito mais vivo e realçado, e o facto da resolução aumentar para os 1080p faz com que todos os studs das placas no chão se tornem visíveis sem arestas rijas. A profundidade de campo e a iluminação de Nova Iorque é também uma mostra de próxima geração mas infelizmente as secções interiores continuam a não nos deixar controlar livremente a câmara.
A promessa de melhores mecânicas de condução de dezenas de veículos aéreos, aquáticos, espaciais ou de estrada de toda a história do universo Marvel, de uma Nova Iorque em mundo aberto, para além de outros cenários míticos como o porta-aviões aéreo da S.H.I.E.L.D., juntam-se em LEGO Marvel Super Heroes a um fascinante desfilar de personagens jogáveis, cada uma com as suas mecânicas de jogo específicas. Este é o jogo mais ambicioso até hoje da TT Games e isso nota-se em cada uma das excelentes animações e num jogo extremamente polido com gráficos de nova geração. Mais uma vez, um jogo tanto para crianças como para adultos mas que graças a uma sincera homenagem a toda a história da LEGO agradará certamente ainda mais aos últimos.