Maior poder de processamento proporcionado por uma nova geração de consolas é quase sempre uma vantagem para a maioria dos jogos que vão utilizar essas novas especificações, porém existe um perigo enorme sempre à espreita na esquina de uma nova geração: o de tornar o jogo numa demonstração tecnológica esquecendo que o mais importante é a jogabilidade.
Quando na Gamescom nos colocaram o comando da Xbox One nas mãos para experimentarmos um dos 4 distritos presentes no jogo, a primeira explicação que o responsável da Capcom se apressou em informar foi o facto de não existir qualquer loading entre as áreas em mundo aberto. Esta particularidade iria ser referida várias vezes ao longo da demonstração o que aumentou os nossos receios do estúdio estar a dar demasiado enfoque às capacidades e menos à jogabilidade.
Dead Rising 3 mostra logo nos primeiros momentos que é um jogo de próxima geração ao colocar-nos centenas de zombies, literalmente, em nosso redor. É realmente impressionante que o jogo consiga juntar este absurdo número de personagens sem cérebro à nossa volta mas isso cedo conduz a várias frustrações. A primeira é toda e qualquer tentativa de nos deslocarmos no chão.
O meu primeiro instinto, tratando-se de Dead Rising, foi apanhar o primeiro objecto que encontrasse à mão para me defender da sede de miolos que se apoderou de todas as pessoas no jogo. Uma grade de protecção foi a primeira escolha não por estratégia mas por necessidade e conveniência. Assim que me envolveram os primeiros zombies isto despenteou imediatamente uma série de defesas em Quicktime Events, pois era impossível defender-me de tamanha multidão com um gradeamento. Por isso, um taco foi a minha segunda escolha, pensando que desta forma a agilidade me salvaria mas isto só me conduziu a ser novamente engolido na multidão e a tocar nos botões que os QTE’s me indicavam a fim de me soltar.
O responsável pela apresentação aconselhou-me a subir para cima de um veículo e uma vez que me viu a salvo explicou-me o sistema de crafting onde dentro de menus podemos combinar as nossas armas para elaborar configurações mais ameaçadoras. Para além do habitual crafting que continua o que se fez em Dead Rising 2, agora podemos contar com um sistema de leveling que nos permite progredir na criação sem precisar de encontrar tantos elementos. Isto é, se eu subir as capacidades de construir objectos electricos posso utilizar qualquer elemento electrónico ou eléctrico para criar uma combinação com, por exemplo, um martelo. Em caso contrário, se o meu nível for demasiado baixo tenho obrigatoriamente de encontrar um martelo e uma bateria, não servindo um simples micro-ondas. No entanto, eu não pretendia saber como fazer um martelo eléctrico mas apenas que me explicassem como se evita uma turba daquelas dimensões. As minhas expectativas saíram goradas embora mais tarde tenha tentado com caçadeiras, malas de viagem, ou tijolos, obtendo sempre o mesmo resultado, neste caso a ausência de sucesso.
Bem melhor está a utilização de veículos e as combinações que podemos fazer com eles. Juntar um cilindro das obras a uma mota dá origem a um veículo de duas rodas com a uma roda dianteira muito avantajada, e convenientemente feita de aço. Para ajudar à festa, todos os veículos possuem ataques adicionais e esta nossa configuração tinha não só a capacidade de transformar os zombies em sopa com também de lançar enormes chamas para a frente. O problema aqui é mais uma vez o exagerado número de zombies, pois quando se juntam em redor de um veículo provocam uma enorme fricção e é difícil ultrapassarmos essa massa. O que deveria ser divertido torna-se aborrecido e até irritante. Olhando pelo lado positivo, podemos apanhar uma retroescavadora.
Fora este número desmesurado de zombies no ecrã e da ausência de carregamentos, nada em Dead Rising 3 clama por uma nova geração. O motor gráfico parece-nos saído da actual geração de consolas, com animações de física e de colisões com os veículos muito toscas e com os litros de sangue com um aspecto terrível de textura mal amanhada. A habitual integração de tecnologia Smartglass em jogos Xbox One proporciona apenas ataques aéreos e a localização de pontos no mapa, o que para já não motiva especialmente o seu uso. Do catálogo de exclusivos de lançamento, Dead Rising 3 está a configurar-se como um dos menos desejáveis.
Dead Rising 3 perde-se na capacidade tecnológica de colocar centenas de zombies ao mesmo tempo no ecrã, só que esquece-se de ser também um jogo divertido com esse enorme número de zombies. A densidade populacional conduz quase sempre ao combate corpo a corpo recheado de QTE’s ou ao abrandamento dos nossos veículos quando os zombies nos saltam em cima. Esta demonstração tecnológica de física de objectos acaba por reflectir-se num jogo que rapidamente aborrece. Mesmo com as centenas de armas mundanas e improváveis, mesmo com a combinação destas armas ou com a divertida mistura de veículos uns nos outros, a Capcom precisa de afinar a jogabilidade com o número de zombies ou corre o enorme risco de lançar apenas mais um jogo de zombies. Num momento em que o género já sofre irritabilidade dos jogadores por estar saturado, não trazer novidade pode ser mortal.