A minha evolução e crescimento como jogador foi feita com centenas de jogos, mas um dos que mais me marcou a mim e a toda a minha geração foi Wolfenstein 3D. Habituados que estávamos ao ambiente bidimensional dos anos 80, este “primeiro” FPS em 3D falseado (mas muito enganador) deixou todos os jogadores boquiabertos. As disquetes voavam entre amigos na escola ou na rua, e quem tinha o jogo tratava de fazer cópias para todos os outros. Alguns, sortudos, podiam comprar uma AdLib, uma das primeiras placas de som do mercado e ouvir aquilo que na altura nos pareciam metralhadoras e pistolas reais. Para muitos de nós, mesmo depois de todos os Doom, Quake, Half-Life e Halo, é Wolf3D como carinhosamente lhe gostamos de chamar que ainda reside nas nossas memórias mais reconfortantes.

Desde esse primeiro título 3D da série várias sequelas se sucederam ao longo dos anos, algumas com imensa qualidade como Return to Castle Wolfenstein, outras como péssimas adaptações como o mais recente Wolfenstein de 2009. Na Gamescom podemos jogar cerca de 30 minutos do novo jogo da série, Wolfenstein: The New Order e infelizmente podemos dizer que para já o jogo está mais próximo do anterior título do que dos melhores momentos da série.

Wolfenstein: The New Order

 

Wolfenstein está polido, não o podemos negar. As animações dos personagens são complexas e fluidas, os rostos realistas e os ambientes detalhados, mas tudo o resto em redor é algo que já vimos, que já jogámos, que já experimentámos dezenas de vezes. Aquilo que mais falta faz a Wolfenstein são ideias novas. O jogo começa como todos os shooters blockbuster do momento, com uma sequência de acção recheada de bocados do cenário a cair. Os primeiros momentos fazem-se com a escalada de uma fachada de fortazela, cujo impedimento ao nosso avanço vai sendo alternadamente travado pelas janelas que abrem com inimigos, pelo inevitável avião que se despenha, pelas rochas que caem e pelos momentos em que escapamos por um triz e que já sabíamos que íamos escapar por um triz.

A partir do momento em que finalmente entramos na fortaleza temos a sensação de estar a regressar aos castelos dos jogos passados mas essa sensação rapidamente desaparece para dar lugar a salas e zonas desinspiradas. Espalhadas ao longo do nível estão as célebres caixas de madeira que podem ser destruídas à coronhada ou à facada e que fornecem a saúde e as munições para as armas que podemos utilizar em ambas as mãos ao mesmo tempo, cada uma com o seu gatilho de disparo. São recompensadoras quando disparadas, aquilo para onde as apontamos é que poderia ser mais desafiante.

Wolfenstein: The New Order

 

Entre as paredes e corredores alguns tijolos soltos podem ser retirados e podemos observar os inimigos do outro lado mas assim que atiramos o primeiro tiro denunciamos um comportamento demasiado desenhado. Por exemplo, numa das sequencias do castelo temos de atravessar uma grande zona de parede apoiados apenas numa pequena saliência. Por cima e por baixo de nós vão-se abrindo portadas de varandas e janelas, do interior das quais aparecem inimigos para tentarem impedir a nossa progressão. Caso morramos durante esse período e voltemos a recomeçar, o que fizemos para testar o comportamento dos inimigos, verificamos que o momento em que vão abrir as janelas é sempre o mesmo. Até já podemos estar a apontar para lá antes e a preparar o ataque.

Ao longo do nível vamos sendo acompanhados pelos nossos companheiros de pelotão que vão atirando as frases gastas nos momentos de narrativa previsível. Tudo isto até poderia ser suportável caso o pelotão não demorasse um tempo demorado a atravessar zonas que precisam de saltos, ou de outro tipo de ultrapassagem de obstáculos e que tenhamos de estar à espera para chegar a nossa vez. Esta primeira secção do jogo, passada em 1940 termina numa incineradora onde ficamos a conhecer o cientista louco da praxe e onde temos o nosso primeiro confronto com um inimigo maior que nós. Os indicadores visuais de combate ainda estão longe da perfeição e durante a batalha despejámos carregadores inteiros até o brutamontes cair, sem nunca perceber em que momento é que estávamos a aplicar dano.

O vilão General Deathshead, embora estereotipado, está bem desenhado e credível na sua extrema crueldade e insanidade, mas as sequências de diálogo demasiado longas acabam por tornar a narrativa demasiado expositiva e pouco subtil. Wolfenstein está claramente a apontar para um público mais novo, mais generalista e menos exigente.

Wolfenstein: The New Order

 

Quando passamos para 1960, após um longo período em coma (juramos que estamos a falar a sério), passamos a uma sequência de fuga de um hospício, onde de uma só vez percebemos que Deathshead está envolvido em testes com pacientes mentais; encontramos aquela que irá ser provavelmente o nosso interesse feminino no jogo; e descarregamos dezenas de carregadores em dezenas de inimigos similares.

Quando a demonstração de Wolfenstein: The New Order terminou, com o trailer e o logotipo do jogo a passarem no ecrã, pousei o comando e olhei para as minhas notas que tinha tirado ao longo do jogo, procurando desesperadamente por aspectos positivos que tenha escrito. A verdade é que este jogo deixou-me com algo mais grave do que furioso, ou indignado, ou desiludido pela utilização desta série. O jogo deixou-me aborrecido. Já vimos e já jogámos tudo isto e nem sequer foi nos melhores FPS, e mesmo que 30 minutos não nos possam mostrar como será o jogo completo, aquilo que jogámos não augura nada de bom. Até ver, é apenas mais um FPS igual a tantos outros.