Dizer que algo não é sustentável pode ser considerado masoquista. Na verdade, masoquismo é sustentar algo insustentável. Por mais que possa doer, ao sermos masoquistas, gostamos que essa dor prevaleça. Porque é bom! Quando não somos masoquistas, temos um limite para apreciar ou aguentar a dor. Porque não é bom! Explicado o que é ser masoquista, de forma simples, percebemos o que isso pode significar numa economia.

Nos últimos dias voltei às ilhas de Tropico (4), um jogo de estratégia onde gera-se Países insulares paradisíacos. Um pouco como o aquipélago dos Açores ou da Madeira, com dependência suficiente para agradar de Comunistas a Capitalistas. Em Tropico, a sustentabilidade da economia também pode ser considerada masoquista, dependendo como gerimos o País. Um País que tanto pode ser democrático como pode estar apoiado numa ditadura. É uma escolha que se faz de acordo com as prioridades que estabelecemos entre as várias facções e pelas dificuldades que possam surgir.

Há vários factores primários que sustentam a economia em Tropico: 1) Produção; 2) Exportação; 3) Serviços públicos básicos; 4) Emprego. A Educação serve para melhorar a capacidade dos sims produzir mais e melhor, como serve para ter uma sociedade avançada. A Saúde serve para os trabalhadores não morrerem e ficarem de boa saúde para continuarem a trabalhar, e bem. Sem isto, a produção cai e, sucessivamente, as exportações e a qualidade de vida também. Mas os efeitos não são imediatos em Tropico, mesmo que tenhamos uma opção Fast Forward (para que o progresso do jogo acelere). O Emprego serve, além de produzir, para os trabalhadores poderem investir em serviços que a ilha oferece: restaurantes, pubs, shoppings, e muitos outros espaços para passatempo e diversão. Sem emprego ou com baixos salários, os sims não investem e os serviços funcionam a meio gás ou ficam às moscas, acabando por ter de fechar, despedindo os trabalhadores. Assim, mais são os desempregados, menos investimento há na ilha, mais serviços têm de fechar. Cria-se uma bola de neve se a nossa economia for masoquista.

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O que fazer para reverter uma economia não sustentável para uma economia sustentável? Em Tropico é bastante mais fácil que na vida real, mas pode dar-nos uma lição de valores e conhecimentos básicos para entendermos o que, em parte, está errado numa economia. Em Tropico, quando existe mais despesa que rendimento, incluindo exportações/importações ou dívidas externas, a solução está em não despedir. Está em criar condições para mais e melhor produção. Nestas ilhas virtuais, que quase podiam ser um simulador, quando a economia está a chicotear, podemos poupar na manutenção de serviços (preferencialmente não públicos) e baixar salários. Também podemos dizer aos Países credores “Pago-te quando puder, porque agora não posso!” Em Tropico, temos essa opção. A relação diplomática é afectada, mas esta opção pode ter salvo uma fábrica. Portanto, podemos ter duas escolhas: 1) Pagar e manter a boa diplomacia; 2) Não pagar, manter empregos e salvar a fábrica, e a longo prazo, com a produção desta, ter dez vezes o valor que teríamos inicialmente para saldar a dívida. A primeira opção é para masoquistas, a segunda é para não-masoquistas.

Contudo, esse não é dos maiores factores que impedem a economia estar de boa saúde. Tudo se reflecte maioritariamente em Produção e Exportação. Se há dinheiro e a fluir, há investimento, há bons salários, há mais dinheiro na conta da suíça d’El Presidente. Caso não haja Produção e suficiente exportação, o sistema colapsa. Muitos ficam sem poder pagar casa, vivendo em barracas, outros não conseguem viver além de casa/trabalho enquanto ainda têm trabalho, outros manifestam-se em frente ao palácio do “El Presidente”, o então masoquista. Até porque, ser masoquista, é também ter prazer através de humilhação verbal.

E para evitar que o sistema colapse, abre-se o caminho da austeridade. Em Tropico, onde se consegue poupar mais é no fecho (ou implosão) de serviços não públicos, na manutenção de serviços secundários ou episódicos, no corte do desvio do dinheiro para a conta da Suiça. Quanto a baixar salários, é insignificante se não estiverem altos. Os cortes na despesa, em Tropico, acabam por surtir resultados quando a obra faraónica fica em standby e se pensa primeiro em produção e em quem produza. Porque a médio e a longo prazo, fará toda a diferença.

Pescas e turismo, por exemplo.

Pescas e turismo, por exemplo.