Um sumo de laranja sem a laranja.
O Tour de France é um dos maiores acontecimentos na prática de ciclismo, não só pela importância que tem como pela dimensão. A “volta”, que são na verdade trajectos espalhados de uma ponta à outra no país dos gauleses, requer muitos quilómetros percorridos por este ter um vasto território. Um Tour de tal importância não se fica apenas pelo desporto. Aproveita também para promover-se na área turística pelas lindas paisagens pintadas de várias cores, tanto pelos campos ou pelas camisolas dos ciclistas. As vistas aéreas são as que garantem a fixação no ecrã para muitos apreciadores de um Tour, não obstruindo, contudo, a atenção nos ciclistas, nos patrocinadores, nos campeões, nas miúdas giras e no champagne.
Já no Tour de France 2013 – 100th Edition, o que vamos ter é única e exclusiva atenção nos ciclistas e nos parocinadores. Não esperem ver uma garrafa na vossa mão para agitar e molhar os cabelos longos e ondulados das mulheres de vestido apertado, não esperem ter mulheres para imaginar molhar com champagne, nem esperem ficar deslumbrados com a paisagem. O principal foco do jogo é pedalar, coordenar a nossa equipa de ciclistas e conseguir fazer pontos chegando às metas.
Temos vários (não várias, perdoemos) ciclistas à disposição, uns mais adaptados para sprint, outros para terrenos montanhosos, outros mistos, outros que precisam de voltar a treinar no ginásio (Não que até à meta notemos muita diferença). Pedalar durante um longo percurso e ser bem sucedido poderá requerer ponderação ao escolher um ciclista, bem como a sua disposição no ranking e a sua preparação durante as várias fases do Tour. A nossa equipa deverá actuar em conjunto ao longo do trajecto, apoiando-se e esforçando-se, e o nosso ciclista estará ao comando a dar ordens aos restantes por intercomunicador.
Com apenas dois nutrientes à escolha: uma fruta, uma barra energética ou uma bolacha, teremos de gerir a nossa stamina/energia para conseguir chegar à meta, com disciplina para não desgastar em demasia a nossa energia. Há uma constante necessidade em bem gerir o nosso esforço, ao mesmo tempo que devemos acompanhar os grupos que estão em vantagem e fazer acompanhar a nossa equipa, que normalmente acabam por ficar em grupos separados dependendo da aptidão de cada ciclista. Esta é uma mecânica dificultada numa bicicleta de duas mudanças, aproveitando o embalo das descidas acentuadas e escolhendo bem os nutrientes de acordo com a pista.
Porém, há condicionantes e uma grande falta de detalhes para que a mecânica resulte e a vontade em pedalar durante horas seja muita, mesmo que possamos escolher terminar as corridas automaticamente, como por simulador, e controlemos a saída e entrada nas corridas (para continuar a jogar pelas nossas mãos). No momento que a roda toca na berma, a travagem é brusca e sem sentido, como se andassem distraídos pela rua e fossem contra um poste. Cada ciclista é como um fantasma que podemos atravessar e sentir aquele calafrio da união indesejada, excepto quando estamos numa posição traseira e somos condicionados pelas numerosas bicicletas que dificilmente nos deixarão passar. Não há encosto, caídas ou empurrões. Não que os ciclistas devam estar a atirar correntes e a dar pontapés uns nos outros, mas não existe qualquer expressão corporal ou reacção num mínimo encosto, não caem num efeito dominó, nada.
E aqueles que assistem na berma da estrada, na maior parte, estão favoráveis a empregarem-se num grande campo de milho, vestindo um chapéu bicudo e um fato-de-macaco. Os sons dos aplausos são os mesmos, repetidamente, com vozes de expressões básicas em francês e os yeah-yeah-yeah. E Por mais que vejamos trinta pessoas em campo (vinte estáticas), vão parecer sempre três.
Tour de France 2013 centra a câmara no ciclista, em terceira pessoa, e não vai além disso. Não existe opção para câmaras aéreas, não há câmaras do público apoiante, algo que podiam ter aproveitado no momento que podemos acelerar a corrida (numa espécie de Time-lapse) ou para haver alguma relação com a transmissão televisiva. Mas se os cenários pouco têm para mostrar, é natural que não haja motivo para transmitir o evento. Se Tour de France 2013 se adaptasse e destacasse na qualidade e variação de cenários, concentrando-se ainda mais no que rodeia o jogador (o ciclista), só teria a ganhar. Contudo, falha redondamente ao passar uma má apresentação, excepto pelas introduções de cada pista que são excertos reais do Tour de France.
Este é um jogo que parece ser feito em cima do joelho, talvez pela pressão do timming do acontecimento, ou talvez pelo tema não atrair o suficiente investimento de acordo com o público-alvo. Prova após prova não nos confere bons motivos de continuação pela novidade ou surpresa, e por mais simples que possa ou deva ser a mecânica do jogo, foram deixados pontuais pormenores tão importantes como ter laranja num sumo de laranja. Porque sem a fruta, é apenas água, e é choca.
O Melhor: Os ciclistas bebem água, que também faz bem à saúde.
O Pior: Tudo. You name it.
Tour de France 2013: 100th Edition existe certamente para um propósito: para (des)agradar os apreciadores de ciclismo, para quem acompanha este Tour e outros, para quem se identifica com ciclistas ou campeões mundiais de ciclismo. Não se trata apenas em “aguentar a pedalada”, mas também se trata de conseguir motivar uma equipa de ciclistas até chegar à meta final nos campos elísios, em Paris. Controlando o pedalar, gerir ao máximo o esforço que um ciclista possa aguentar numa corrida, esta será o mais difícil, ainda mais estorvado pelas falhas nas mecânicas que o jogo apresenta e a confundível interacção com a mesma equipa. Se gostarem de ciclismo, podem gostar da estrutura do campeonato e da simulação das corridas. Se não apreciam o ciclismo, se são apenas curiosos e mesmo que fiquem a olhar para o televisor quando Tour de France está no ar, não comprem este jogo.
Versão analisada: PS3. Também para Xbox 360 e PC.