A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.

 

A estrofe do poema de Fernando Pessoa “Ser Aquele”, parece resumir aquilo que podemos sentir ao jogar este independente, já aqui referido no Rubber Chicken. É no nada que partimos à exploração do mundo de jogo, é também do vazio que construímos o caminho. Um caminho de poucas certezas, de insegurança quanto ao percurso que estamos a tomar, em descoberta constante de um título que implementa mecânicas clássicas, aliadas a inovação pura.

Pouco ou nada sabemos antes de iniciarmos o jogo, pouco mais que os simples controlos de plataformas que inatamente compreendemos. Existem “sementes”, das mais estranhas com que algum vez nos deparamos, de cores e texturas diferentes. Mas não iremos explicar aqui o que é o jogo. Isso seria privar-vos da experiência de descoberta que é ponto fulcral em Starseed Pilgrim.

Starseed Pilgrim

 

Ao contrário da maioria dos jogos que chegam as mãos de todos nós, a obra de droquen (Probability 0 e inúmenos outros “pequenos” jogos) pode ser considerada verdadeiramente original. Ao jogá-lo, sentimos novidade, sentimos descoberta. Aquilo que raramente sentimos actualmente, até mesmo nos jogos mais interessantes, divertidos ou envolventes. Existe um ímpeto à descoberta em Starseed, que é aplicado não a um mundo de jogo onde nos podemos perder, mas às próprias mecânicas e objectivos que se escondem nas suas entranhas.

Sem qualquer ecrã de título, Starseed Pilgrim simplesmente nos surge no ecrã. Segundo a descrição no site, o jogo é sobre cuidar de um jardim sinfónico, explorar o espaço e abraçar o destino. E é tudo o que precisam de saber para começarem a jogar. O progresso é gravado automaticamente, não existindo qualquer ecrã de saves. Tanto quanto sabemos, a única forma de re-iniciar o jogo é voltar a instalar. Este pequeno pormenor juntamente com a sua jogabilidade exploratória única torna o jogo num acto de bravura, minimalista sem nunca perder conteúdo, ou usar esse minimalismo como desculpa para alguma preguiça.

Jonathan Blow afirmou que deveríamos continuar a jogá-lo enquanto tivéssemos dúvidas, a motivação mais básica para a descoberta. E talvez seja a melhor forma de descrever a experiência que temos em Starseed Pilgrim. Não é um jogo que convide a muitas horas de jogo seguidas, mas é ideal para pequenos momentos. E para nos dar novas perspectivas acerca do que os jogos podem ser.

O melhor: Corajoso na sua lógica de jogo e mecânicas inovadoras; a forma como recompensa naturalmente o jogador pelo investimento que faz em descobrir; narrativa subtil e refinada; ideal para curtas sessões de jogo.

O pior: Pouco recomendado a jogadores menos pacientes ou que esperam recompensas a curto prazo; pode ser implacável em algumas ocasiões, o que pode ser frustrante para algumas pessoas.