Avózinha, porque tens um jogo tão bom?
Éramos muito jovens quando nos contavam as histórias da branca de neve, do lobo mau e dos três porquinhos, da cinderela e do príncipe encantado. Estas fábulas tinham um twist qualquer para nos incutir alguma moralidade e transportar-nos para mundos que imaginávamos como se tratassem de sonhos acordados. Todas estas fábulas terminavam com um final feliz, os maus eram punidos e os heróis eram de facto exemplares.
Depois acordamos, mais velhos, e percebemos que andaram (e continuam) a enganar as meninas e os meninos. Embora a realidade seja diferente para uns e para outros, mais consciencializados das dificuldades, o amparo na fantasia poderá ser o último refúgio de qualquer criança. E tal como nós crescemos, também os heróis e as princesas cresceram connosco, adaptando-se à sociedade moderna cheia de riscos e vícios como a queremos esconder das crianças. Assim são as personagens dos clássicos contos de fadas presentes em FABLES, uma obra da Vertigo, subsidiária da DC Comics, que serviu de plataforma para o novo jogo da Telltale: The Wolf Among Us. As personagens das fábulas que tanto ouvimos contar e recontar, que nos acompanharam durante os primeiros anos da nossa vida, adaptam-se ao novo mundo em Nova Iorque, nesta área a que chamam Fabletown, usando “Glamour” para ninguém descobri-los. Uma espécie de essência mágica que deixa os humanos desapercebidos da sua real aparência. Personagens fantásticas estas que não se poupam a disparates, asneiras e violência, e longe de serem uma referência para o desenvolvimento de uma criança. Acham que os príncipes e princesas estão sempre no seu auge e bem-parecidos? Acham que os covardes e os menos aptos não conseguem governar? Acham que a cinderela está num palácio?
E tudo isto parece o que tentamos incutir nas crianças. O que querem ser quando forem grandes? Princesas, dizem as pequenas. Doutores, dizem os pequenos. A realidade pode ser bem diferente e The Wolf Among Us está bem mais perto do que acontece realmente.
O primeiro episódio da série, que prevê cinco episódios, é lançado com uma estratégia parecida a The Walking Dead, a série da Telltale. Não só por ser dos mesmos criadores e com apresentação faseada, como também por ser uma aventura gráfica concentrada na qualidade narrativa, no desenvolvimento das personagens, nas escolhas do jogador que influenciam o desenvolvimento da história (e das personagens), dos quick time events. As mecânicas são idênticas, mas os puzzles neste primeiro episódio são ainda menos evidentes que em The Walking Dead, concentrando-se muito no enredo com bastante mistério e no relacionamento com os heróis e mauzões da nossa infância.
O grande trunfo continua a ser a liberdade e o poder que o jogador tem nas decisões, nos diálogos, e por vezes isso não bastará para evitar catástrofes ou situações de maior gravidade. Cada escolha pode ter um pequeno ou grande peso no desenrolar do enredo, cada atitude pode melhorar ou piorar as relações. Estamos em Nova Iorque, num meio onde somos o Big Bad Wolf, o Sheriff que tem como cargo evitar os problemas entre a comunidade das personagens dos contos de fadas, aquele que em tempos soprou na casa dos porquinhos, e que todos olham com menos ou mais desconfiança. É uma opção continuarmos com uma atitude de lobo mau, imbecil às vezes, ou redimir-nos perante aqueles que também fizeram parte dos contos de fadas e se juntam nesta sociedade moderna, uma sociedade que bem pode ser convidativa para viver, como pode ser a devastação destes.
As personagens são marcantes e o voice acting é fabuloso, do melhor que se tem visto ultimamente e seguindo-se da qualidade da série The Walking Dead. A Telltale, juntamente com a Vertigo e a DC Comics, afirma-se pelo nome próprio ao contar um conto, apoiando-se maioritariamente numa base anteriormente estilizada e envolvendo o jogador numa investigação de homicídio. O jogador está mais envolvido com cada personagem, estando este lobo a tentar deixar o seu passado de lado, mas obstruído por algum grande acontecimento entre a comunidade. Com música parcialmente hipnótica, um film noir com proeminência de néon rosas e vermelhos a indicar uma “faca na liga”, tudo se encaixa neste que se demonstra um cruel policial de fantasia.
O melhor: Voice acting; Ramificação (testada) pelas escolhas do jogador; A escolha entre o ser bom, mau, indiferente ou grande imbecil; O jogo estar nas mãos da Telltale.
O pior: alguns forçados posicionamentos do personagem para continuidade da acção. Raros casos em que a “colagem” entre diálogos estejam menos adequados, adaptando-se melhor a outras escolhas que não a nossa.
Percebe-se que este primeiro episódio é um aquecimento para o que vem a seguir. Tem algo que vos pode chocar, tem opções à escolha que vos vão enganar, que vos vão impressionar ou desiludir, situações que vão dar voltas de 180º, com uma pitada de humor leve e uma certa nostalgia da infância. É um pouco injusto avaliar numericamente este primeiro episódio, reconhecendo o grande potencial da série, mas fica na mesma presente e é como sempre um complemento da análise. The Wolf Among Us promete imenso e haverá muito mais para contar pelos restantes episódios.
Análise testada: Xbox 360. Também para PS3, PC e proximamente para Mac.
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