O mutante do seu antecessor.

Metro 2034 foi visto como o sucessor de Metro 2033, obra escrita por Dmitry Glukhovsky, mas acabariam por intitular o videojogo como Metro Last Light, uma adaptação de Metro 2034. Os dois livros, juntamente com Metro 2035, aparecem espalhados em determinados locais nos túneis onde os sobreviventes padecem, o que leva a promover a  trilogia. A zona subterrânea do metro ainda é habitável pelos humanos e por criaturas abomináveis de ADN alterado pela radioactividade, mas refresca-se com novos intervenientes.

Num submundo onde as condições de sobrevivência são postos à prova, a humanidade resiste ao clima caótico e pós-apocalíptico que desolou a cidade de Moscovo. A guerra nuclear criou a seu tempo aberrações, mutações de outros seres capazes de apavorar qualquer um no escuro. Um escuro parcialmente iluminado pela lanterna ou o rudimentar isqueiro, que servem de tanta companhia como o som que guia o cego. O último refúgio são as longas escavações subterrâneas feitas em tempos pelo homem, com más condições mas adaptadas para sobrevivência.

Raios!

Raios!

 

Também por espaços esquecidos e passagens proibidas, o metro de Moscovo terá portas por abrir para desvendar segredos e partir em busca do último dark one, mutante derivado do homem, antagonista, que poderá ser a chave para o futuro da humanidade e permitir acabar com os pesadelos de Artyum, o protagonista. No meio de uma guerra, fria e congelada nos corações dos sobreviventes, alguns lutam por uma vida melhor e outros lutam para erradicar do metro e da superfície as aberrações. Estes intitulam-se Nazis, são homofóbicos e são relembrados pelo autor pela pior reputação que dispuseram na história da humanidade. É uma jornada negra, com um carimbo pesado, coberta de infaustas ocorrências e momentos mais iluminados que nos fazem esquecer a obscuridade. Com alguma imprevisibilidade, o metro é cativado por chocantes, radicais, pouco conservadoras e provocantes adversidades e encontros.

O enredo é encenado por actores que vão do mediano ao exemplar, de russos a falar em inglês com um distinto sotaque, mas que não deixam a obra de Dmitry ficar mal. Em cada passo, que não seja em plena acção, há um acontecimento que nos convida a observar, a ouvir as conversações, assistir a um pequeno espectáculo ou beber uns copos no bar até acordar na lama, entre os porcos. E muito mais acontece, numa constante crescente de novidades e imprevisíveis situações, algumas bastante inesperadas. No final, a sensação é de grandeza e que estivemos perante uma leitura cativante e como se estivéssemos a ouvir a música de Clint Mansell. E mesmo que o compositor de Metro Last Light seja Alexey Omelchuk, também não se fica atrás pela qualidade Musical.

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Falei com o médico…

 

Especado de boca aberta a ver as letras passarem nos créditos finais, assim fiquei, porque foi quando percebi que desde o início ao final demonstrou-se evolutivo e distanciou-se consideravelmente da produção do antecessor. Uma primazia, com retoques e contornos que vai afectar o nosso pré-juízo sobre a produtora 4A Games e a Deep Silver como editora. E tudo, garantidamente, para melhor. Enquanto o antecessor da série debruçara-se sobre a diferença pela narrativa e pela ambiência, Metro Last Light foi em busca de novas inspirações. Trouxe consigo o mais aplaudido de Metro 2033 e alterou profundamente a relação com o todo. Criou-se uma parcela da história mais envolvente, onde os transeuntes têm uma pequena ou grande relação no nosso percurso, passageira ou mais marcante. Desfruta-se de uma narrativa não-linear ornamentada e de uma linear com variações que não se deixa marcar pela previsibilidade. Tem o seu ar de cataclismo, de pequenas cidades reinventadas com um pouco de Broadway improvisado, cenário de guerra eminente, com fauna e flora alterada do exterior contaminado. Psicótico, horrorífico, menos claustrofóbico que o antecessor, mas pesado. Por outro lado, e em menor parte, é belo e emotivo, com relacionamentos e locais memoráveis.

Todo o ecosistema mudou desde Metro 2033, com chuvas e tempestades, o sol brilhante que cega pelo já pouco hábito da luz natural. Os sobreviventes estão a viver uma nova vida rudimentar afastados do exterior, onde estão evidenciados os básicos prazeres e uma conduta por simples necessidades humanas. Continua a ter um carácter de sobrevivência, em que as mutações servem de alimento (ou servimos nós), perigosas criaturas que demarcam-se pela grandeza e pela alteração genética, de uma radiação contornável pelas máscaras e filtros de ar, e de facções que chocam por territórios e ideais.

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“i don’t want to set the world on fire”

 

Escuridão e Gore.

Uma aproximação Stealth é opcional e altamente praticável pela falta de abundância de luz nos subterrâneos. Já no exterior, onde há mais luz, os humanos raramente aventuram-se, porque o que aí habita são os mutantes e o ar está altamente contaminado. Só nunca entendi como respiram melhor debaixo da terra e de onde lhes chega o ar filtrado. Talvez tenha escapado alguma explicação de 2033. Em áreas por explorar e sempre com novas áreas irrepetíveis, o escuro é o melhor amigo em zonas com humanos, que permite evadir-nos sorrateiramente entre os mais armados. E o que confere tensão quando os grunhidos e outros sons estranhos saem das paredes ou ao fundo dos túneis. Também considerados melhores amigos são a lanterna, que às vezes falha, e o isqueiro, com um foco de luz que servem de tanta companhia como o som que guia o cego.

Entre o caótico ambiente, no pós-incidente nuclear que assolou Moscovo, os esqueletos empilharam-se em pares a segurarem pequenos esqueletos, crianças. Abraçados os progenitores para protegerem filho ou filha, dificultado em dizer pelo estado de decomposição. Meios corpos, sem cabeça, ainda com um resquício de carne fixada nos ossos (esta conversa e visão não é para menores). O pensamento é que os mutantes não aproveitaram bem a carne, como diz o meu pai quando como frango. A calamidade foi enorme e é demonstrado na perfeição do que o nuclear é capaz. O terror, só por estes corpos que ninguém teve ainda tempo de enterrar, confere a Metro um pouco mais de seriedade.

Matalos con cariño.

As armas continuam a ser criadas de partes reaproveitadas, com upgrades de miras, silenciadores e outros acessórios. Enquanto em Metro 2033 sentia-se uma falta de opções ao ponto de limitar o poder de fogo, em Metro Last Light adiciona soluções militares mais modernizadas. Continuam a predominar as primitivas armas da maior guerra espalhando-se ao longo de um percurso com mais linha de fogo cruzado, mais humanos que vamos eliminando e pilhando os variados recursos. Cada arma dá uma vontade em experimentar, porque cada uma terá o seu maior ou menor efeito em determinadas situações, e a combinação do que segurarmos poderá ditar maior ou menor sucesso, maior ou menor experiência em cada nível deste shooter, um FPS que se destaca neste ano de 2013. E num meio onde as balas são escassas e que servem para troca monetária, uma aproximação Stealth é capaz de ser a escolha mais aconselhada e mais inteligente. Não obstante, contudo, que se entre em modo rambo com arma pesada em punho, granadas na cinta e um palito roído no canto da boca.

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O Melhor: Stealth e armamento teve uma significante melhoria do antecessor; Maior liberdade de exploração e locais mais interessantes que o primeiro da série; o gore; os imprevisíveis acontecimentos e relacionamentos.

O Pior: Perdeu bastante o seu cunho de survival mode; há em determinados momentos uma quebra de acção (script) que “pede” continuação.

Perdeu um pouco o seu cunho survival, porque Metro trata-se de isso mesmo, e mais ainda: de sobrevivência após catástrofe, mas pode não ser por todos considerado um retrocesso. Antes pelo contrário. A melhoria das armas e da jogabilidade enquanto Shooter teve uma melhoria significativa em relação ao anterior da série, bem como a possibilidade em passar quase cada nível sem a necessidade de dar um único tiro. A direcção de actores podia ser ainda melhor, embora apresente-se com momentos tão marcantes, de encontros e relacionamentos, com uma história cativante, que fica-se num impasse. Entre o “esteve no ponto, como pouco ou nada parecido” e o “ya, tá bem!”. Metro Last Light veio dar uma nova luz para esta série, e afirma-se como um dos melhores Shooters do ano, não dedicado aos mais susceptíveis.

Versão analisada: Xbox 360. Também disponível para PS3 e PC.