Humor e absurdo conjugam-se com estereótipos dum modelo português. Misturam-se anedotas há muito proferidas e sem saber quem as forjou, das mais banais às que nos soltam um riso parvo. Anedotas que umas atrás de outras acabam por gracejar, ou afastar do ecrã os mais fanáticos de sitcom inglês e da sátira americana. Há alguns pormenores em cada canto que preenchem o vazio gráfico, que reacendem na memória locais atravessados na capital portuguesa, com casas onde se canta o fado e se juntam as bandas de jazz.

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Os anos 80 estão representados pelos poucos bits, num point and click de caricata história, sem afastar-se dessa época pelas tão características inovações tecnológicas. Ainda se fala em escudos e prevalece o salão de jogos com arcadas onde o dono do estabelecimento diz que o negócio vai bem.

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Quem sabia o que sucederia os 8 e os 16 bits. São os anos 80, quando se gastava a mesada para o lanche ou do próprio almoço em troca de créditos. Na rua vê-se afixado nas paredes a publicidade do mais reconhecível produto nacional e turístico, bem como acrescenta a pitada do que rodava nas mentes perversas ou do que mais era consumido num País que era pobre, enriqueceu, e voltou a ser pobre. Esta é uma Lisboa nos anos 80, que não deixa de ter um pedacinho do norte acoplado por influência e figuras que a representam.

Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa, um nome longo para explicar bem o principal conteúdo deste primeiro jogo da Nerd Monkeys:

Inspector Zé, o homem que usa um chapéu azul másculo, gabardine amarela de gola alta e sempre com o seu cigarro na boca.

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Robot Palhaço, de alcunha conseguida pelas suas anedotas, fala. Também consegue armazenar objectos numa espécie de buraco negro de onde saem tentáculos. Não peçam para explicar esta parte.

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Crime: Sr. Love, esfaqueado com 14 “naifadas”, perdeu muito sangue e manchou a carpete. Um caso difícil de resolver quando pensam tratar-se de um suicídio, mesmo sabendo que as facadas foram nas costas.

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Hotel Lisboa, que faz lembrar ali a zona de Martim Moniz e outras zonas centrais da capital, com recepção à porta para entretenimento nocturno e diário.

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Envolvido está também o agente Garcia, aquele agente da polícia que nos faz lembrar alguém com quem já nos cruzámos, a quem perguntamos as horas mas não confiamos que nos resolva algum assunto que exija esforço. É o agente Garcia que pede a Zé para investigar o crime. Gosta de abanar o bastão.

Quem se recorda bem de Roger Rabbit, recorda-se da esposa, a ruiva voluptuosa coberta de charme e com uma voz sensual. O Zé e o Robot também vão conhecer uma mulher assim, Brasileira, de lábios vermelhos carnudos e vestido branco a linear as curvas. Será que temos ali um caso entre o Zé e a Sra. Love, a víuva do Sr. Love? Quem sabe, mas o Zé não é lá muito sensível com as mulheres.

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Outras personagens surgem, desbloqueando diálogos e acções à medida que solucionamos parte do mistério daquele crime e as missões secundárias. Algumas são personagens-chave, normalmente os principais suspeitos, outras aparecem para acrescentar-se ao retrato do grupo de estereótipos. Depois há um macaco parado onde se espera pelo eléctrico 28 e o dono de estabelecimento das arcadas que, ao reparar bem, percebe-se que ficaram hospedados no Hotel Lisboa. O que leva a crer que também são suspeitos do crime. E porque chegamos ao ponto de suspeitar de todos devido à emaranhada em que Zé e o Robot se meteram.

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A Mecânica traduz-se em informações fragmentadas na recolha objectos e na conduta de questionários para obter pistas. Os questionários podem ser acompanhados por Zé e pelo Robot separadamente, em que um deles pode nem sempre ser o mais adequado para obter a informação do acusado/suspeito. Mas um deles pode abrir caminho para saber a pergunta que o outro colocaria. Quanto à dificuldade pela utilização de objectos e questionários, não foi necessário muito esforço mental, nem há qualquer necessidade em associar estes objectos na criação de outros. É bastante directo nesse sentido, com vários easter eggs à mistura e as patetices do costume. Podemos também chamar um táxi para viajar pelos vários locais, com um taxista que tem permissão para entrar com o carro onde quiser, à hora que quiser. Cabe em todo o lado.

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Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa não deixa de ser honesto ao assumir-se um jogo retro. Simples, intuitivo, ainda com algumas incertas sequências nas acções durante esta versão Beta que a Nerd Monkeys gentilmente concedeu, questionários sempre directos e expostos com os objectos também fáceis de relacionar. Assim é durante os dois primeiros actos, mas com a promessa que o nível de dificuldade aumente. Este jogo opta por facilitar a vida do jogador ao obter informação para progredir, mas será esta simplicidade um factor que agrade o hardcore gamer habituado a ficar horas a tentar descobrir qual o próximo passo?

E quantos objectos o jogador gostaria que fossem descritos pelo Zé ou pelo Robot? Aquele chouriço pendurado no restaurante “Noitadas”, aquele poste com o número 28, aquele poster do pastel de nata, aquelas garrafas partidas no passeio. Só alguns sabem do que se trata. Mas que lá estão, o chouriço e o pastel de nata, estão. Não foram esquecidos para, juntamente com os estereótipos presentes nesta aventura gráfica, dar a conhecer uma boa casa portuguesa.

Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa será lançado para PC, Mac e Linux. Para mais informação e pré-reserva, aqui.