730 Dias de Videojogos: Estranha Forma de Vida

O que são dois anos na vida de alguém? Depende muito. Em dois anos a vida de alguém pode mudar completamente, ou cimentar uma vivência. Dois anos podem ser tempo perdido ou a oportunidade ideal para se atingir um objectivo. Dois anos podem ser o tempo perfeito de desenvolvimento de um jogo, ou o tempo que ainda se sonhava ter para concluir o jogo que, devido a janelas de lançamento, teve de ser reestruturado. Dois anos podem significar o estabelecimento de uma geração de jogos, ou o canto do cisne daquela que agora se despede.

Para o Rubber Chicken Games, dois anos é o tempo de vida que foi dedicado ao espaço que para nós pessoalmente, é mais do que uma segunda casa. É o lar da nossa voz e opinião; é a materialização de tudo aquilo que queremos dizer e que de forma redigida ganha outra cor; é algo que nos acompanha diariamente, e que em torno do qual organizamos o nosso dia-a-dia.

Há um ano atrás falamos acerca do nascimento do Rubber Chicken e agradecemos a todos, os colaboradores, os parceiros e os leitores, pela oportunidade que nos dão, de diariamente partilharmos e discutirmos opiniões informadas acerca desta arte que todos amamos. Previmos um futuro trabalhoso mas também empolgante para 2013, e esse futuro felizmente chegou. Este ano o Rubber Chicken foi dos poucos meios a marcar presença na E3 em Los Angeles, e na GamesCom em Colónia, algo que se tornou possível através do sacrifício pessoal, profissional e até familiar de alguns de nós, mas também da confiança que os parceiros, nacionais e internacionais, depositaram em nós. E podemos afirmar com orgulho que o continuam a fazer.

O Rubber Chicken cresceu, mas o futuro avizinha mudanças. Como dizia o tio do outro senhor em collants, o grande poder traz grande responsabilidade, e durante os próximos meses o Rubber vai crescer, e com esse crescimento, o trabalho que temos irá crescer exponencialmente. Uma coisa garantimos, e sempre foi máxima no nosso trabalho: a qualidade da nossa escrita é, e será sempre, mais importante do que a quantidade. Queremos sempre ser os que escrevem melhor, e não os que escrevem mais ou primeiro.

O segundo aniversário surge ainda num momento de mudança na indústria, a vários níveis. Uma nova geração de consolas se avizinha, com todas as promessas de mais e melhor “experiência de jogo”, de uma forma a que já nos habituamos desde sempre. Acompanhamos esta indústria à muitos anos, e temos a noção, tal como vós, de que a promessa de uma nova forma de jogar traz sempre água no bico. Não nos deslumbramos com facilidade, mas é difícil não sentir o “bichinho” da novidade a roer-nos de excitação. Abraçamos mais uma vez, e de forma atenta, todas as possibilidades que se avizinham.

Mas a maior mudança, e talvez a mais importante de todas, é na forma como a indústria se mexe, em particular o sector independente. Sector que é neste momento, o catalisador do estabelecimento e crescimento dos videojogos em terras Lusas. Em dois anos muita coisa mudou no nosso país, com o sector independente a começar a esticar a unhas para fora, com cada vez mais estúdios portugueses a publicar internacionalmente, no mercado mobile, mas também no sector de distribuição digital. Pela primeira vez em vários anos, existe uma oportunidade real de Portugal surgir no mapa dos videojogos, e o caminho dos Indies é, sem duvida, o caminho a seguir. 2014 será a este nível um ano de surpresas e de orgulho.

O Rubber Chicken está de parabéns, tal como todos nós que respiramos videojogos, que vivemos deles, trabalhamos para eles, ou sacrificamos algo de nós pelo sonho de fazer parte desse mundo. Alguns anos atrás foi afirmado que a imprensa de videojogos não fazia parte da indústria. Nada poderia estar mais longe da realidade. Editores, produtores, jornalistas e jogadores, todos somos os videojogos, e com esse grande poder, vem grande responsabilidade. A responsabilidade de criar com qualidade e de trabalhar para o estabelecimento dos videojogos como meio artístico reconhecido; a de avaliar e opinar de forma credível e imparcial, com todo o respeito que os criadores merecem pelo seu trabalho; e a de fazer crescer uma comunidade responsável, madura e aceitante das diferenças de cada um. Somos todos jogadores, quem joga uma hora por semana, ou cinco horas por dia; quem dedica algumas horas por semana à indústria, ou anos de vida de trabalho. E acima de tudo, quem “vive” esta arte dos jogos, seja de que forma for.

Parabéns ao Rubber Chicken e a todos os que tornam possível esta aventura. Os Colaboradores, os Parceiros, os Colegas de profissão e os Leitores e Jogadores, aqueles para quem os videojogos são a forma de vida que escolheram.