killer, diller, chiller, thriller.

O terceiro título da série Dead Rising chegou-se à frente durante o lançamento da Xbox One. O franchise da Capcom, desta vez publicado pela Microsoft, tornou-se um exclusivo para a consola de nova geração da gigante americana, mostrando capacidades técnicas que vai um pouco além quando se fala de mundos abertos. Nos dois anteriores títulos da série, os panos de fundo eram um centro comercial e uma cidade resort ao estilo Las Vegas recheada de casinos e hotéis, pequenos mundos abertos infestados de zombies para matar, decapitar, triturar e fazer festinhas com armas tão inúteis como latas de refrigerantes ou abalroá-los com um triciclo cor-de-rosa. O mesmo triciclo que duas pedaladas a toda velocidade nos permitia andar cerca de 10 centímetros, que era o mesmo dizer, por ironia: vais morrer muito jovem.

Em Dead Rising 3 encontrámo-nos na cidade de Los Perdidos, um mundo aberto maior que os anteriores, onde cada acesso a diferentes zonas não significam mais um loading para interromper a acção. Como os anteriores jogos da série, temos à disposição o espólio das lojas de brinquedos, de armas, de roupa, restaurantes e outras tantas, e desta vez permite-nos andar pelo mapa e pelo interior de muitos imóveis com a maior liberdade que desejávamos ter em todos os jogos de mundo aberto. O momento em que entramos e saímos por uma porta, que por mero engano acedemos e temos de suportar dois loadings, não é aplicado. Dead Rising 3 é o que podemos definir de mundo aberto, unificando interior e exterior, sem colocar um parêntesis pelo meio. Mas por inconveniência, é exigido uma excelente memória para decorar no mapa cada ponto importante e estratégico.

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Eh. Uh. Eh.

 

No entanto, esta liberdade é um pouco constrangida pelo tempo que nos é fornecido até que a cidade seja apagada do mapa. As autoridades – de um governo envolto em conspiração – estão em contagem decrescente para lançar uma bomba nuclear e teremos 6 dias (horas de jogo) até encontrar uma forma de sair da fictícia cidade de Los Perdidos. No decorrer deste tempo, o principal objectivo mistura-se com as missões secundárias, exploração da cidade, o colectar de upgrades, e é com facilidade que a distracção impere quando estamos num rampage a matar zombies. Há uma certa pressão para que o jogador não se perca a olhar para o longínquo, por este não perder definição até ao horizonte. Mas esta pressão foi atenuada em relação aos antecessores da série, havendo momentos em que esquecemos a contagem decrescente, e que nos permite estar mais à vontade para explorar, colectar objectos, e cumprir cada missão secundária.

As armas sempre foram um dos maiores condimentos para o sucesso da série, não só pela quantidade e variedade, mas também pelo uso e abuso destas. Como em Dead Rising 2, é possível criar combos de armas e ainda com maior tendência à devastação por permitir criar armas mais complexas: os combos e os super-combos. Desde o simples machado “chopper” aka “I need to unleash my inner Gimli”, à “Roaring Thunder” uma referência a Blanka de Street Fighter, à “enourmous bomb” que desfaz tudo num quarteirão, teremos muitas escolhas para fazer frente às hordas de zombies que nunca mais terminam e vão crescendo em número. Muitas destas armas e combinações surgem do antecessor da série, melhoradas pelos gráficos e pequenos pormenores, mas adiciona algumas novas para facultar maior variedade e haver mais opções para diferentes gostos, e assim ser mais gracioso cortar os zombies às postas ou fazer destes um apetitoso pâté de viande saignante.

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“So let me hold you tight and share a killer, diller, chiller, thriller here tonight”

 

E para mais pâté, em adição às armas, há as combinações de veículos. São 11 combinações entre duas e quatro rodas, de veículos que aspiram zombies para fazer um preparado de almôndegas, que lançam ácido, que os corta a meio ou que os tritura. Os Zombies gostam de lançar-se para cima destes veículos, sobrelotar a carcaça e tentar dar trincas a partir das portas, até quase não conseguirmos mexer o veículo. É algo irritante, como é ao andar entre os zombies, mas sempre haverá formas de sacudí-los. É como sacudir muitas crianças quando se abraçam a nós… ou algo do género.

Em relação ao menu e à árvore de skills, também houve um reaproveitamento e melhorias. A jogadora ou o jogador poderá ganhar atributos consoante o seu estilo de jogo e à medida que vai aumentando de nível. Melhor agilidade para andar entre os zombies; maior força para melee; mais aproveitamento de balas para armas de longo alcance; mais inteligência para ler os livros espalhados pelo mapa que ao encontrá-los nos proporcionam algumas vantagens; mais durabilidade de armas ou veículos, são alguns exemplos do que podemos eleger durante o percurso. Somando as combinações de comida, de armas, de slots para carregar mais armamento, e visualizando os esquemas (blueprints) que colectamos pelo mapa e que nos garantem a capacidade para fazer combinações de armas.

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urso!

 

Tudo combinado, com a história, Dead Rising 3 é o remanescente do que é mais parvo na linhagem dos antecessores da série. Das armas e vestimentas à la Saints Row, dos automóveis à la Mad Max, do argumento à la Dead Rising 1 e 2 com estereótipos de Robert Rodriguez, mas mesmo assim consegue ser um pouco menos espalhafatoso e duvidoso em relação ao encontros com outros sobreviventes. Excepto pelos psicopatas, os bosses, que foram afectados em demasia pelo surto ou tentam aproveitar-se do momento para enriquecerem. Sete destes dez psicopatas estão relacionados com os sete pecados mortais, e são das personagens mais caricatas; grotescas e ridículas de imaginar que Dead Rising 3 tem para oferecer.

O Kinect e o SmartGlass são adaptados em Dead Rising 3. Por um lado, o kinect faz uso de controlo de voz para algo especial: chamar os zombies com “get over here”. Este especial comando ajuda a atraí-los de um telhado para a morte ou para iniciar um rampage. Por outro lado, o kinect não substitui o comando tradicional, como não deverá substituir noutros casos. Com o SmartGlass adiciona a opção co-op, com features especiais, mas infelizmente esta aplicação não está disponível em Portugal. Quando estiver, teremos um artigo em separado, com mais algumas centenas de zombies para matar. Neste momento vai em 43403 mortos. Mesmo mortos.

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Uma variante tauromáquica

 

O melhor: Mundo aberto sem loadings; a variedade de armas e combinações; factor de rejogabilidade; os psicopatas.

O pior: os Zombies parecem bonecos de trapos quando agarrados aos veículos; físicas inconsistentes em pontuais momentos; agilidade “presa” do personagem entre os zombies.

Dead Rising 3 começou a ser apresentado com mais seriedade em relação aos antecessores da série. Possivelmente para evitar ser confundido como um Saints Row com zombies, ou para aproximar mais ao resultado que The Walking Dead conquistou, mas não deixa de ser uma mistura variada e um íntegro sucessor da série. É de facto uma boa aposta neste início de lançamento da Xbox One, e para integrar o melhor do seu catálogo, aplaudindo a qualidade técnica, seja derivado das capacidades da máquina ou da própria produtora. Preza-se pelo extremo divertimento, pela variedade de elementos em campo e pela rejogabilidade, mas afecta-se pela história kitsch, mesmo que absurda como se pretende, e por algumas imperfeições na jogabilidade e nas físicas que às vezes “disparam”. Este terceiro título da série tem sentido voltar para a nova geração, dando uma boa esperança: os mundos abertos vão transformar-se para melhor, com maior liberdade e mais embrenho.

(Dead Rising 3 é um exclusivo Xbox One)