Não, não foi aquele desconto enorme numa edição especial que conseguiram na Amazon, ou aquela raridade para a 3DO que descobriram na feira da ladra e que ainda funcionava. Nem sequer foi a aquisição de uma cópia de Stadium Events por 8 dólares numa venda de garagem, um jogo que em leilão pode chegar aos 15 mil dólares.

A compra mais importante envolveu dois jogos, e a parte da transacção comercial de dinheiro entre mãos é completamente secundária. O acto de comprar, neste caso, é um acto de sublinhar (ou se quisermos de elevar) o videojogo à categoria de arte. O Smithsonian American Art Museum, uma extensão de um dos maiores e mais relevantes conjunto de museus internacional, acabou de adquirir dois videojogos como parte da sua colecção permanente de arte dos media. Estes videojogos juntam-se assim aos filmes e a outros media artísticos como videoarte, performance, música entre outros, como peças que é importante mostrar, situar na história da arte e registar como obra para as futuras gerações.

SmithsonianArtMuseum

 

Nas palavras de Elizabeth Brown, directora do museu, “os videojogos oferecem uma performance de vanguarda, que resulta não só do trabalho dos artistas mas também da interacção dos jogadores. Estas práticas artísticas são completamente distintas do cinema, vídeo ou teatro, e marcam um desenvolvimento crítico na história da arte”.

Os dois primeiros jogos escolhidos para integrarem a coleção são Flower de Jenova Chen e Kellee Santiago (para além do resto da equipa da thatgamecompany) e Halo 2600 de Ed Fries. Em Flower controlamos o vento com um dualshock para dessa forma espalhar pétalas e devolver a vida a um mundo cinzento, naquele que foi chamado pelos criadores como um poema interactivo. Halo 2600 é um curioso processo de regressar ao passado, adaptando em 2010 a famosa série de jogos de Halo à Atari 2600, resultando num jogo que tem de ser capaz de correr nos 4K de memória RAM disponíveis da máquina mas que tenta manter as evoluções que os jogos foram tendo ao longo dos anos.

Flower

 

Depois de compras semelhantes por parte do MOMA em Nova Iorque, depois de uma grande exposição ao público que o Smithsonian organizou com o título de The Art of Video Games, em 2012, e que salientou a importância destes como meio artístico, esta aquisição de jogos para uma coleção permanente de um museu generalista vem ajudar a dar autoridade a uma temática que é quase já dada como adquirida pelas jogadoras e jogadores, mas onde ainda há muito caminho a trilhar com o público em geral.