Voar num jacto indistinto

Criado pela germânica Shi’nen Multimedia, uma das companhias de desenvolvimento afectas à Nintendo e a produzir jogos desde a era do Game Boy Advance. Depois de impressionarem a crítica com Nanostray para a NDS e Jett Rocket para Wii, decidiram desenvolver a sua sequela para a 3DS. Antes de mais há que esclarecer que o máximo de contacto que tive com o primeiro jogo da série remete-se a alguma leitura no site oficial, e de forma alguma a análise desta sequela será feita em comparação com o seu antecessor (ao qual eu não joguei).

Jett Rocket II – The Wrath of Taikai é um jogo de um descomprometimento salutar: as suas premissas são simples, e acompanham também a sua própria simplicidade da execução e de narrativa. A narrativa nuclear do jogo é igualmente simples: o vilão do jogo, Kaiser Taikai, raptou uma série de amigos robóticos do protagonista que vai, de nível em nível, resgatando-os. A apresentação primário (e o seu contacto) demonstram a sua postura conceptualmente relaxada (não no sentido negligente do termo, mas sim da postura despreocupada que o jogo aparenta) em que tenta não complexificar em demasia o conceito primordial de um jogo de plataformas: o de correr e saltar.

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Nunca duvidem da classe de um homem de poupa e jet pack às costas!

 

O problema que este descomprometimento acaba por ter é em comparação com o próprio catálogo da Nintendo. É um dado adquirido que historicamente este catálogo está recheado de jogos de plataformas que foram, à sua maneira, demarcando o desenvolvimento da própria indústria, mas não é com este tipo de jogos, os IPs principais da empresa que comparo este Jett Rocket II. Mas sim com os exclusivos eShop que o ladeiam na escolha e no género, e que, em grande parte das situações, significam uma melhor opção de compra no importantíssimo coopto preço/qualidade, quer pela originalidade, pela inovação ou pelo nível de divertimento. Porque mais do que tudo, desafio qualquer jogador a indicar que ao primeiro impacto não sente Jett Rocket II como uma aproximação empobrecida da famosa série Ratchet & Clank exclusiva da Sony.

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Jeróoooooooooooooooooooooooooonimo!

 

Jett Rocket II parece ter uma indecisão conceptual, uma espécie de esquizofrenia decisória que o impede de optar pela bi ou tridimensionalidade. Até porque esta alternância bipolar entre os dois modelos de plataformas, bem-conseguida por muitos outros títulos, mas mais do que tudo, justificada, surge aqui “a martelo” sem qualquer coesão de linearidade que nos faça entender o porquê da decisão dos seus criadores. E mais do que tudo porque a diferença de qualidade e eficácia das duas abordagens é demasiado vincada para que esse facto não se perceba. Os níveis (quase totalmente) bidimensionais são eficazes e cumprem, apesar da simplicidade, o intuito de nos fazer coabitar com as mecânicas de salto (que são também o ataque, se cairmos em cima de um inimigo) tão habituais nos jogos de plataformas. Nada de novo, mas com diversão associada. A tridimensionalidade sim, traz-nos alguns problemas. Para começar é onde a simplicidade e a aura simplista do jogo são mais notórias, assim como é perceptível que as mecânicas de controlo criadas para um ambiente bidimensional precisam de ser afinadas para que a transposição entre ambas as abordagens seja fluída e suave. E rapidamente se percebe que toda a afinação acabou por recair sobre os níveis em 2D em detrimento da sua compensação tridimensional. O jogo como objecto total seria muito mais eficaz na sua própria premissa se assumisse por inteiro o rompimento com o seu antecessor, que era mais do que tudo um jogo de exploração e plataforma em 3D.

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Passo, passo, passo, developpé e plié!

 

Não quero dizer com isto que Jett Rocket II é um mau jogo, é aliás um jogo de plataforma perfeitamente aceitável, do qual tirarão imenso tempo de diversão com os seus níveis bidimensionais, lutas com bosses, minijogos e claro, numa postura Obsessivo-Compulsivo os imensos objectos coleccionáveis disponíveis.

O que acaba por abrilhantar o jogo é umas das melhores utilizações das capacidades do ecrã 3D da 3DS. Não só os jogos de planos e tridimensionalidade foram efectuados com precisão, como a sua fluidez a 60 frames por segundo catapulta as potencialidades de Jett Rocket II, a nível técnico para fora da esfera dos jogos ditos “mais pequenos”.

Sendo um exclusivo da eShop, e sem edição de retalho, acaba por estar a competir no seu segmento com outros jogos de plataformas, uns mais baratos, outros mais caros, mas que acabam por demonstrar serem melhores escolhas de aquisição do que Jett Rocket II.

O melhor: os níveis bidimensionais e a eficácia da sua simplicidade; a utilização das potencialidades do ecrã da 3DS; a relação preço/qualidade/longevidade do conteúdo.

O pior: a transposição entre níveis bi e tridimensionais; alguma insipidez de level design.

Jett Rocket II – the Wrath of Taikai, pelo seu falhanço em conseguir tornar-se um jogo de peso no catálogo da eShop acaba por falhar inclusivamente noutro aspecto: não cria qualquer tipo de vontade em jogar o seu antecessor. Sendo um jogo de plataformas perfeitamente aceitável garante umas boas horas de diversão mas de forma alguma vai marcar a memória de quem o jogou. Especialmente por ser notória a falta de coragem dos seus criadores em optarem por um modelo distinto do primeiro Jett Rocket, e tentarem criar uma transição estranha dentro do próprio jogo e que em nada favorece qualquer uma das abordagens. Tivessem optado pela opção drástica, mas altamente bem conseguida, de manter Jett Rocket II numa abordagem bidimensional e o jogo seria mais do que um.

reviewscore60Sobre as análises e sistema de classificação

Jett Rocket II – The Wrath of Taikai é um exclusivo 3DS