Zombies para totós
A zombie exploitation a que assistimos nos últimos anos catapultou o género para o primeiro plano da cultura pop. Se há mais de uma década eram os vampiros que assolavam a memória colectiva, num ambiente mais romanceado tecido pela Anne Rice, hoje, a putridão e o desespero de um holocausto zombie são uma das grandes temáticas exploradas, e tiveram na série “Walking Dead” (adaptada da BD com o mesmo nome), o seu grande lançamento. É tão frequente a temática dos zombies que invade hoje o cinema, a televisão, a BD e a literatura. Até a literatura cor-de-rosa! Quando li a sinopse de “Eterna Saudade” (“Dearly, Departed” no original) de Lia Habel, que cria uma espécie de Twilight para adolescentes em que uma humana se apaixona por um soldado zombie que retém ainda inteligência apesar do corpo putrefacto, percebi que só nos falta mesmo uma novela mexicana com zombies. Sugiro até o nome: “El corazón de los Muertos”!
Os videojogos, não escaparam a esta febre, e assistimos nos últimos anos a uma verdadeira enxurrada de novos títulos com a temática de zombies. Chegámos deste ano de 2013 que está a terminar, de serem lançados 3-4 títulos (a maioria indie) sobre sobrevivência num mundo infestado de zombies. How to Survive, publicado pela 505 Games e criado pela EKO Software foi um desses exemplos. Lançado a 23 de Outubro de 2013 para Xbox Live e PC, com trailers a fazerem-nos logo lembrar de imediato o quanto o jogo se assemelha a um Dead Island em visão isométrica, uma espécie de Diablo meets survival horror.
A trama que acompanha o jogo está razoavelmente bem tecida: no início, ainda envoltos numa onda de mistério, percebemos que somos um dos 3 sobreviventes (no caso, os personagens jogáveis) de um naufrágio e que demos à costa numa ilha infestada de zombies. Em forma de tutorial vamos encontrando páginas de um livro chamado How to Survive, que se assemelha, não só pela cor amarela da sua capa, mas pelo tom jocoso com que o narrador nos ensina alguns elementos mais básicos de sobrevivência, a um “Sobreviver a um holocausto de Mortos-Vivos para Totós”. Logo descobrimos que foi escrito por um russo insano, com quem nos cruzamos, chamado Kovac.
How to Survive coloca-nos alguns percalços na nossa sobrevivência numa ilha infestada (para além do risco de sermos comidos vivos, é claro). É que o nosso personagem não é uma espécie de super-humano como o Chris Redfield do Resident Evil 1. Somos um humano com necessidades básicas como qualquer outro, em que precisamos de comer, beber água e dormir. Mas nenhuma destas tarefas é simples de responder. Só nos podemos alimentar de frutas selvagens ou carne cozinhada, o que significa que teremos de caçar animais selvagens e encontrar uma fogueira para assar as peças de carne. Sim, porque carne fresca faz-nos um iman-humano de zombies. A água pode ser guardada em garrafas vazias, mas para isso temos de encontrar uma fonte de água límpida. Dormir é possivelmente o maior problema: apenas o podemos fazer em abrigos próprios, que estão normalmente infestados de zombies. Para podermos pernoitar temos de fazer a “deszombificação” da zona. Todos estes elementos adicionados às quests que vamos recebendo transmitem-nos a ideia de “always on the run” que o holocausto zombie (hipoteticamente) teria. Com o ciclo dia-noite do jogo, temos de tomar especial cuidado com as criaturas que se escondem nas sombras, e que são muito mais terríveis do que os zombies comuns. Mas, à semelhança do veado-zombie, não é nada que a luz de uma lanterna na cara não resolva.
Para a nossa sobrevivência temos também de criar ferramentas, armas, armaduras, munições para enfrentar o desafio sucessivamente mais difícil que o jogo nos apresenta. Numa lógica muito “Don’t Starve” (muitas das mecânicas relembram, e muito, o jogo da Klei Entertainment) lá vamos combinando componentes para obter novas armas ou utensílios, sendo que a descoberta destas combinações se devem a receitas espalhadas pelo arquipélago.
Em relação à componente Action RPG, as diversas quests concluídas, assim como as criaturas mortas conferem-nos pontos de experiência e a consequente subida de níveis e estatísticas. A cada subida de nível é-nos possível escolher uma habilidade de uma skill tree para masterizar. Mas esta skill tree é um bom exemplo de quão curto é o jogo, e com tão poucas opções fora da linha primária definida pelos autores. O jogo é francamente curto (em 6-7 horas conseguem terminá-lo), as ilhas e os inimigos são demasiado repetitivos, e as quests envolvem essencialmente ir ao ponto x, recolher o objecto y e voltar ao ponto de origem. As habilidades ou tipo de armas à nossa disposição são também muito poucas, não falando sequer das armaduras que se resumem apenas a uma, à qual vamos adicionando novos materiais para aumentar a resistência.
O limitado espaço de inventário obriga-nos a gerir os itens que carregamos, não esquecendo que nos é permitido alternar entre uma arma de corpo-a-corpo e uma de atacar à distância. E visto que queremos estar sempre a andar de um lado para o outro, o interface de apanhar itens do chão acaba por pecar: é quase impossível seleccionar um item de vários que se encontrem nos mesmos píxeis. A má programação da capacidade de apanhar itens do chão faz-nos perder tempo excessivo que em nada contribuem para a faceta “sempre a correr” que o jogo nos quer fazer sentir.
Acabei por descobrir um easter egg curioso ao jogar este jogo na noite da véspera para o dia de Natal (sim porque nada tem o sentimento natalício mais estampado do que alvejar zombies com tiros na cabeça). Um dos tipos de mortos-vivos, semelhantes aos boomers do Left 4 Dead, que explodem na nossa proximidade, estão todos vestidos de Pai Natal com um “ho-ho-ho” a anunciá-los. Apesar de não contribuir para a suspensão da descrença acaba por ser um elemento curioso nesta época!
Apesar de o jogo prever um modo cooperativo, o jogo foi todo jogado em single player, e é apenas sobre este modo que assenta a presente análise.
O melhor: as mecânicas; o ambiente; o desafio; as necessidades humanas presentes num cenário de perigo iminente.
O pior: a repetitividade do cenário e dos inimigos; o jogo ser demasiado curto.
Acabamos How to Survive com uma sensação de “Só isto?”. Há um vazio quando percebemos que estamos a terminar o jogo que evidencia a sua pequena longevidade e as poucas opções que nos são apresentadas. Não deixa de ser uma belíssima experiência que pega apenas pela repetição e por não nos dar mais conteúdo do que aquele que apresenta. Ainda assim vão sentir-se viciados em flechar zombies ou decepar cabeças de avestruzes-zombie com uma boomerang feito de ossos e pedra. Como uma ida a um shopping ao Domingo mas com menos sangue.
Sobre as análises e sistema de classificação
Versão analisada: PC. Também para Xbox Live e PSN
Comments (2)
Quer saber mais sobre How to Survive ? confira o vídeo de impressões e dicas abaixo =)
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