Nem a loucura te safou…
O que é que Deadpool tem que as outras personagens da Marvel não têm? Atitude? Ok. Irreverência? Sim. Rebeldia? Talvez. Uma total despreocupação com as ditas regras da sociedade? Também. Mas o que o separa dos restantes e que o torna uma das criações mais complexas e interessantes da Marvel é a sua grande dose de loucura, misturada com um síndrome de múltipla personalidade. Esta espécie de anti-herói não tem filtro e devemos estar preparados para quase tudo neste videojogo. A responsabilidade de transportar Deadpool para o formato digital e de o manter fiel ao que os fãs conhecem coube aos estúdios High Noon (Transformers e Robert Ludlum’s The Bourne Conspiracy) e à Activision.
Diz-se que o seu verdadeiro nome é Wade Wilson, e que foi pensado como uma piada privada entre os seus criadores, por ser bastante parecido à personagem da DC Comics, Deathstroke (cujo nome é Slade Wilson). Poderá ter nascido no Canadá, mas nada é confirmado e várias histórias alternativas já surgiram no universo da Marvel. O que se sabe na realidade é que esteve envolvido no programa Weapon X, um laboratório clandestino pago pelo governo canadiano para efectuar investigações na área da genética, e que de lá herdou o poder de se autorregenerar a velocidades sobre-humanas. Mas o que esconde por baixo do fato? E a loucura de onde vem? Ao que parece são tudo efeitos secundários desta habilidade. Wilson tinha cancro e ao ganhar este poder as células cancerígenas espalharam-se por todo o seu corpo, resultando numa explosão que o deixou desfigurado. Quanto à sua loucura, a explicação é quase a mesma, pois à medida que as células cerebrais vão morrendo, são curadas a uma velocidade anormal, o que causa a instabilidade mental e psicológica tão características de Deadpool.
Logo de início percebemos que Deadpool não é nenhum menino bem comportado que frequenta o Corpo Nacional de Escutas, no meio de libertações despreocupadas de gases, piadas porcas e conversas consigo mesmo temos uma introdução à forma de controlar a personagem e ao apartamento decadente onde este mora. Seguidamente somos transportados para os esgotos onde alguns inimigos nos confrontam numa espécie de tutorial ao sistema de combate e à história em si. E não há, de facto, muito para saber sobre estas técnicas de luta. Como em qualquer jogo de acção/beat ‘em up, as diversas cenas de agressividade física passam por carregar nos botões para combos que podem envolver não só a utilização de armas melee como de fogo. No entanto a diversidade de armas entra em conflito com a monotonia e repetição das combinações possíveis. Por um lado temos as conhecidas espadas de samurai, sais e até martelos gigantes, mais as pistolas, espingarda, metralhadora, uma arma de plasma e granadas; por outro os combos e a forma de utilização das armas não altera muito ao longo do jogo o que torna a multiplicidade de armas pouco relevante.
A habilidade regenerativa de Deadpool também está presente neste título bem como a capacidade de teleportação, útil para juntar aos combos com as armas e para fugir em ocasiões de perigo durante o combate. Para além disto, à medida que avançamos na história, derrotando inimigos, vamos ganhando pontos que servem para comprar upgrades para a nossa personagem, sejam estes físicos, como mais energia ou mais força nos ataques corpo a corpo, ou de armas, como aumentar o damage que é feito por determinada arma ou o número de balas que cada uma leva. Mas não existem upgrades que consigam parar o sentimento de monotonia que vai acabar por descer pelo jogador. Do início até quase à parte final do jogo, em que começam a aparecer um número surreal de inimigos com quantidades absurdas de energia, lutamos contra as mesmas pessoas, utilizamos as mesmas armas, ouvimos as mesmas piadas, passamos por cenários semelhantes uns aos outros, pensamos que a dificuldade aumenta quando aparece o que podemos chamar de mini boss, só para percebermos que não… Enfim, Deadpool estagna cinco ou seis passos antes de atingires o clímax e fica só por aquilo. Uma pena.
Em termos de narrativa, não fosse a interpretação sempre perfeita de Nolan North (Nathan Drake, Uncharted) e alguns momentos realmente cómicos em que se observa Deadpool a interagir com o jogador, e seria outro mar calmo e sem grande reboliço. Vemos o anti-herói a fazer um videojogo dentro de um videojogo, sem dúvida caso para dizer “gameception”, existindo até certas situações em que o vemos ao telefone com os produtores do título a pedir mais dinheiro para a cena seguinte. O que acontece quando a resposta é negativa? Um Deadpool num cenário de 8 bits, assemelhando-se a cenários de uma Atari, NES ou Sega Master System. Algo que consegue trazer ânimo à história é o aparecimento de várias personagens do Universo Marvel, como Wolverine e Rogue dos X-Men e o antagonista principal, Mister Sinister.
O melhor: variedade de armas e personagens Marvel, personagem principal e momentos cómicos.
O pior: repetitivo, inimigos pouco desafiantes, narrativa monótona, poucas combinações em combate.
Não fossem os momentos cómicos e as piadas de mau gosto constantes de Deadpool e esta teria sido uma experiência para não mais repetir. A falta de originalidade da narrativa, dos cenários, de formas de combate, dos inimigos é quase ofuscada pela irreverência e loucura da personagem principal que tanto fala com o jogador, como com os produtores do jogo; tanto pede ajuda a outros heróis da Marvel como manda flirts descarados às heroínas. Mas depois de terminar não conseguimos deixar de ficar com a sensação de que este anti-herói merecia melhor, merecia uma atenção especial a pormenores técnicos que não foi dada e que origina um título medíocre.
Versão analisada: PS3. Também disponível para Xbox 360 e PC.