Os últimos dois anos foram dos que mais me encheram o coração com os videojogos mas, curiosamente, não estou a referir-me aos jogos que eu joguei mas sim aos jogos que os outros jogaram. A melhor forma de explicar isto é recuar cerca de 6 anos no tempo, quando experimentei The Graveyard.
Pode um jogo em que controlamos uma idosa a andar calmamente muito devagar até à campa do marido, no interior de um cemitério, ser considerado um jogo? Estas perguntas começaram a ser colocadas cada vez mais entre 2007-2008, quando vários projectos experimentais começaram a ter um destaque e visibilidade nos media especializados que até aí nunca tinham tido. Este foi um efeito de empurrão num ano em que alguns “pequenos” como Braid e World of Goo conseguiram resultados financeiros astronómicos para as pequenas equipas envolvidas e ombrearam em resultados com os pesos pesados da indústria.
A pergunta foi também muito colocada o ano passado relativamente a Dear Esther e ainda mais este ano em relação a Proteus. A pergunta é tudo menos nova, mas a grande diferença é que desta vez está a ser debatida por uma comunidade gigante de jogadores. Ou seja, os jogos mais experimentais estão a chegar à mão das pessoas.
Seja ou não um jogo, seja uma experiência interactiva, seja uma aplicação multimédia, seja o que lhe quiserem chamar, The Graveyard provoca um impacto emocional fortíssimo em quem o joga, e isso é quase sempre uma das duas tentativas que os bons estão sempre a empreender: uma narrativa ou experiência que abane emocionalmente o jogador; e/ou uma abordagem inovadora a mecânicas de jogo. Quando experimentei The Graveyard, infelizmente, tinha muito poucas pessoas com quem o poder partilhar e a razão desta escassez era o facto de muitos não estarem sequer disponíveis para abordar este jogo ou estas temáticas.
Os indies, entretanto, tornaram-se famosos e são os meninos queridos dos jogadores e da imprensa. Este ano, grande parte das listagens dos melhores jogos do ano estão equilibradas entre indies e entre jogos com equipas gigantescas, e em alguns casos os indies passaram à frente de todos, como foi o caso de Papers, Please a ser o jogo do ano das prestigiadas revista Wired e The New Yorker.
Por isso o meu coração enche-se ao ver tantas pessoas a jogar títulos que os marcam emocionalmente, que os fazem pensar sobre temáticas duras ou sobre a vida em geral, que também fazem as pessoas crescer seja qual for a idade delas. Se os últimos 6 anos nos entregaram dezenas de jogos como esses, um deles foi especialmente marcante, pois conseguiu passar uma temática muito forte não só pela história mas através das mecânicas de jogo. Foi o meu jogo do ano em 2012, e expliquei na análise o porquê da sua importância.
Papo & Yo está disponível no novo Humble Bundle pelo preço que quiserem, que é o mesmo que dizer que vos pode custar tão pouco como 80 cêntimos. Por esse preço mínimo ainda adicionam à vossa colecção os viciantes Joe Danger 2, Runner 2, e ainda o excelente To The Moon. Se pagarem mais do que a média (quando o fiz estava nos 4 euros) juntam-se Reus e o tosco mas inesquecível Surgeon Simulator 2013.
Portanto não há desculpas e chegou o momento de quem não o fez, jogar Papo & Yo. Não se podem intitular jogadores se não o fizerem. É que ser jogador não implica ter que gostar de tudo, mas implica ter a vontade de experimentar de tudo.