A Sega detém os direitos de Alien, no que concerne a adaptações da marca aos videojogos. Exacto, a Sega é responsável, de certa forma, pela qualidade de um jogo Alien. Não estando com quaisquer rodeios, todos sabemos a desilusão que foi o último jogo da série, não só como produto final, mas principalmente pelo desrespeito que, no limite, teve pela marca e os fãs, para não falar do desenvolvimento dúbio e toda a areia que nos foi atirada para os olhos nos meses que procederam o seu lançamento. Aliens: Colonial Marines não passou infelizmente de um engodo, de um produto de calendário de olhos feitos sobre uma comunidade de fãs que venera aquilo que a série Alien representa para o universo da ficção científica e em particular, para o universo dos jogos. É inegável a influência da série, principalmente do filme Aliens, sobre o panorama dos jogos de acção e terror contra criaturas alienígenas. O setting de Aliens e os arquétipos de personagem que apresenta estão para este género como Mario está para as plataformas.

É por isso que ficamos cautelosos. É por isso que rangemos os dentes quando vimos a série reduzida a corredores em que praticamos tiro ao alvo contra soldados genéricos, em que assistimos ao corte e costura atabalhoado do cânone da série, e à construção de um jogo que, para além de tecnicamente horrível, pouco ou nada representa Alien. É também por isso que, contra toda a fibra do meu meu ser, me sinto entusiasmado pela nova promessa da Sega, e sei que qualquer fã também sente o mesmo. Este é que vai ser. A frase mais agonizante que qualquer aficionado pode dizer, e que contém em si todas as expectativas, realistas e irrealistas, que irão provavelmente ser goradas quando o jogo em questão realmente sair. Em alguns casos, a promessa realmente é cumprida, o jogo é realmente aquilo porque esperávamos, mas tendo em conta o desserviço que tem sido feito ultimamente, temos razões para ficar apreensivos.

 

É difícil não ficar entusiasmado com Alien Isolation, porque representa aquilo que a série necessita neste momento, a mudança do foco narrativo e de jogabilidade, da sequela Aliens, para o filme original. E esta mudança é absoluta, se imaginarmos que a forma como temos jogado Aliens nos últimos 20 anos vai mudar significativamente. Esta mudança não surge por acaso, e não é só pelo fracasso de Colonial Marines. Se pensarmos que actualmente o mercado está mais aberto a experiências de jogo na primeira pessoa de foco sobre a sobrevivência, o terror e o minimalismo no combate, compreendemos o porquê de Alien Isolation. A desilusão do último jogo em conjunto com a “moda” dos jogos de terror e suspense levam a uma decisão, acertada, em mudar o foco de Aliens para o seu habitat natural, o jogo de terror. Um movimento iniciado com Penumbra e cimentado em Amnesia: The Dark Descent, a estética de jogo mais narrativa e de suspense ganhou momentum no ciclo independente, mas mostrando que esse tipo de experiência de jogo é visceral o suficiente para prender mesmo os jogadores que não consumiam o género.

Em todos os títulos Alien, a qualidade de destaque sempre foi os momentos em que a acção era mais reduzida, em que percorríamos corredores mal iluminados de sensor de movimentos em riste, em que o mais ligeiro movimento nos fazia borboletas no estômago. No fundo, as secções de jogo onde o suspense imperava, e em que as nossas expectativas faziam metade do trabalho de nos assustar à séria. O filme Alien é uma experiência de terror, enquanto Aliens se estabeleceu de uma forma mais concreta no eixo da acção. Esse eixo tem acompanhado a série no departamento dos jogos, mas este é o momento ideal para voltar às origens.

 

Então o porquê das nossas dúvidas? Nós, os aficionados de xenomorphs, estamos habituados a ser maltratados. Desde promiscuidades com predadores, que feliz ou infelizmente marcam o melhor que a série teve para nos dar na última década, principalmente com a obra da Monolith, Aliens vs Predator 2, a produtos inferiores para maquinaria portátil, tivemos a derradeira desilusão em Colonial Marines. E seguindo a máxima “vê tu o trailer e deixa-me jogar”, esperamos então, com poucas expectativas, pela oportunidade de ver pelos nossos olhos o resultado final. E por mais entusiasmante que seja o regresso às origens, o facto da série estar sob alçada da Creative Assembly (que nos trás, pelo menos, sangue novo), ou a promessa de uma jogabilidade mais ponderada e fiel a estética Alien, a verdade é que não deixa de ser um jogo com muitas limitações e pressões que podem minar a sua expressão artística. Tremo em imaginar a sala de reuniões, em que os tubarões de fato riscam metodicamente todos os elementos que o jogo não pode ter, ou os que tem de ter para agradar ao publico alvo.

E se a minha análise é exagerada, é no fundo uma defesa à desilusão e por isso aconselho: a todos os que esperam ansiosamente por aquele jogo Alien, não se iludam em expectativas. Vamos esperar para ver, desta vez com muito menos hype.

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