Pokémon dos Demónios

Para além de querer rivalizar com Bal Sagoth, a banda britânica de black metal sinfónico pela criação de títulos mais longos e que se demonstram difíceis de memorizar nas 2 ou 3 primeiras pronunciações (os ingleses vencem, de longe, com a faixa intitulada “And Lo, When the Imperium Marches Against Gul-Kothoth, Then Dark Sorceries Shall Enshroud the Citadel of the Obsidian Crown” do álbum Starfire Burning Upon the Ice-Veiled Throne of Ultima Thule).

Devil Survivor Overclocked é o remake para 3DS de Shin Megami Tensei: Devil Survivor da NDS de 2009 (que nunca viu a luz do dia na Europa). Para além da tardia chegada da versão europeia às lojas (2 anos após o lançamento norte-americano), estranha-se também o curto espaço de tempo entre o lançamento da versão original para NDS nos EUA e esta adaptação à nova portátil da 3DS (apenas 2 anos separam ambas as datas). Especialmente porque a Atlus não efectuou diferenças de fundo entre uma e outra versão. Na versão 3DS temos apenas 2 grandes diferenças: foi feita um voice-over completo de todo o jogo e adicionado um segmento da história, mas tudo o resto nos faz pensar que ainda estamos a jogar um jogo da geração anterior, ao preço de um jogo da geração actual.

Shin Megami Tensei: Devil Survivor Overclocked é uma mistura bem-conseguida de visual novel e Tactical Role-Playing Game, onde a tónica recai essencialmente na componente visual novel. Com uma série de conceitos no seu enredo que transpiram a sua aura japonesa, Devil Survivor Overcloked transporta-nos para o comando de um grupo de jovens de Tokyo que invocam demónios (ao bom estilo Pokémon) para lutarem ao seu lado, utilizando como dispositivo de invocação um aparelho chamado COMP, que não é mais que uma NDS original.

shin 01

Suave como o Zezé Camarinha!

 

Pelo meio vamos brincando com as definições de destino e a sua casualidade ou imutabilidade/mutabilidade. Mais do que tudo porque vivemos assombrados com a iminência da nossa morte, com um indicador que nos mostra quantos dias temos para viver. A nossa capacidade de contrariar o destino e estender esse número para além do fado que nos é imposto. O que desde logo traz-nos à ideia da obstinação do Corto Maltese de Hugo Pratt, que numa sessão de quiromancia rasga a sua linha da vida, demonstrando que é ele quem constrói o seu destino. Sendo que esta inevitabilidade não se prende com a eficácia dos nossos combates por turnos, mas sim pelas decisões que tomamos na componente exploratória, num esquema de visual novel em que decidimos quando e para onde vamos, ainda que algumas dessas movimentações façam avançar o relógio que vai ditando o percorrer da jornada.

Esta percepção mediúnica do futuro é-nos complementada todas as manhãs com um e-mail que recebemos no nosso COMP indicando alguns eventos em forma de notícia pré-cognitiva que irão decorrer ao longo desse dia.

Ai! Matarem-me!!!!

 

Mas o que faríamos nós, se tivéssemos informação privilegiada e fidedigna sobre mortes evitáveis, ou em extremo, sobre a nossa própria morte? Tentaríamos contrariar o destino e essa torrente incontrolável que dita o nosso dia-a-dia ou usaríamos as informações que possuímos para alterar esse mesmo futuro? E seria um acto de egoísmo, em que lutamos para alterar a nossa morte iminente, ou arriscaríamos a nossa vida para salvar pessoas que desconhecemos? São este tipo de decisões que, dentro da relativa liberdade de escolha (não esquecer, que por algo vasta a escolha, qualquer visual novel possui um número finito de possibilidades distintas) que vamos tentando medir a nossa coragem e arrojo pela Tokyo contemporânea invadida por demónios. E numa lógica de combater o fogo com o fogo que vamos utilizando demónios que vamos contratando (ou ganhando em leilões) para combater esta invasão a Tokyo, em que decidimos que criaturas levar para combater ao nosso lado.

É uma mulher!!!!

É uma mulher!!!!

 

O melhor: o enredo; o combate e a diversidade de demónios para capturarmos; a originalidade do jogo na sua totalidade e a bem-conseguida mistura de géneros.

O pior: a diferença entre esta versão e a original de NDS não justificar a diferença de preço.

Para quem não jogou o original e/ou não o consegue encontrar em nenhum retalhista (uma grande possibilidade no mercado português), Shin Megami Tensei: Devil Survivor Overclocked é daquelas experiências complexas que devem ser jogadas e que agradará mesmo a quem não é fã de JRPGs. A complexidade e envolvimento da história, a abordagem mais narrativa com o seu espectro visual novel, conseguem complementar na perfeição o combate de estratégia por turnos, com pequenos laivos de um Pokémon com criaturas menos dóceis do que as criadas por Satoshi Taijiri. Devil Survivor Overclocked é uma excelente forma de conhecer a série e que serve de passagem para a reedição para 3DS do segundo título da subsérie de Megami Tensei, a ser lançado no final deste ano.

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Sobre as análises e sistema de classificação

Shin Megami Tensei: Devil Survivor Overclocked é um exclusivo 3DS