A vossa resposta talvez venha sobre a forma de outra pergunta: mas porque raio é que eu haveria de querer copiar por um golfinho? A verdade é que não sabemos tudo e é sabido que os golfinhos são animais extremamente inteligentes. Ora vejamos a comprovação desta afirmação com um pequeno teste de quatro perguntas:
a) Que livro famoso contém um auto-retrato do autor ao lado do texto: “O Red, o Ned, o Ted e o Ed na cama”?
b) Quem deteve o recorde dos 100 metros a correr para trás por mais de 40 anos, até ser batido em 1977?
c) Estas cartas foram colocadas numa sequência lógica, mas uma carta está fora de ordem. Qual é essa carta?
d) Qual foi a mudança na indústria de videojogos que permitiu o aparecimento de novos projectos diferentes e originais mas que possibilitou o seu financiamento?
Estão a ver como não sabemos tudo? Embora, confessamos, a última seja fácil (quanto aos golfinhos, já lá vamos). O crowdfunding nos jogos, nomeadamente com o Kickstarter, veio mostrar que muitas pessoas estavam dispostas a pagar por certos jogos e projectos nos quais as editoras não acreditavam que o investimento fosse acertado. O primeiro grande caso de sucesso é o de Broken Age, aquele que foi o motor mediático para que este formato de pré-financiamento pelo público fizesse cabeçalhos por toda a imprensa, gerasse milhões de tweets, posts e comentários. A partir daí surgiu um enorme número de projectos que também apostavam no saudosismo de outros tempos para recuperar jogos e géneros antigos, alguns a chegarem ao orçamento de grandes jogos de editora, como é o caso de Star Citizen, o sucessor espiritual de Wing Commander que está prestes a atingir os 40 milhões de dólares em financiamento da comunidade.
No entanto, o Kickstarter, o IndieGogo, e outros, foram amadurecendo e começaram a aparecer os verdadeiros projectos “out-of-the-box”. Jogos diferentes da norma, que ou tinham um valor alto e arriscado para uma ideia nunca antes testada, ou que eram feitos por equipas tão pequenas que sem apoio financeiro acabariam por ficar esquecidos ou demorar eternidades a desenvolver nas horas livres.
Octodad: Deadliest Catch; Among The Sleep; République; Paper Sorcerer; Kentucky Route Zero; Faster Than Light; Unemployment Quest. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos de novas ideias que o crowfunding ajudou a verem a luz do dia. Eles provavelmente iriam sempre existir de qualquer maneira, mas com muito mais limitações do que as suas versões actuais. O Kickstarter estimula o aparecimento deste ecossistema de ideias diferentes. Se percorrerem as secções de videojogos do Kickstarter vão encontrar centenas de projectos, dos mais absurdos aos mais impossíveis, mas esta é também a maior importância do crowdfunding: todos podem tentar fazer o jogo que querem, e se a comunidade o quiser, torna o seu desenvolvimento numa realidade.
Classroom Aquatic é uma dessas ideias. Não questiono se é boa ou má, mas agrada-me viver num mundo onde ela possa sequer existir. Voltando às perguntas do início do artigo, aquelas que vocês não sabem responder por norma os golfinhos sabem. Esta é a premissa do jogo no qual somos um aluno externo que cai de pára-quedas numa sala de aulas para golfinhos, no dia em que se vai fazer o teste de avaliação. Nós não estudámos; Eles estudaram; e Eles são golfinhos. Resta-nos tentar copiar.
A produtora independente Sunken Places trás desta forma para o Kickstarter um jogo que mistura os quizzes e a acção furtiva, naquele que é o cenário mais improvável para este género. O jogo pretende suportar o Oculus Rift para uma imersão, literal, no interior da sala de aula. Já existe uma alpha disponível para quem quiser experimentar o jogo aqui. Se o jogo vai conseguir o seu financiamento é a maior incógnita mas algo é garantido: não sabemos se vai ser um jogo memorável, mas já é uma ideia de jogo que fica na memória.