Domínio de Inglês Técnico
Space Engineers é a resposta para quem não pode ter aulas ao Domingo, quer ser engenheiro sem ter de ir à Faculdade ou está descontente porque a Lusófona não tem o curso de Engenharia Aeroespacial.
Criado pela Keen Software House, autores de Miner Wars, Space Engineers tem uma gigantesca sombra que se abate sobre si a priori e que é facilmente explanável pela forma como qualquer um de nós descreve o jogo a terceiros: “é o Minecraft com construções de naves funcionais”.
E é neste espírito redutor para tudo aquilo que Space Engineers já é, e tudo aquilo que tem potencialidade para vir a ser, que as comparações fechadas com Minecraft acabam por diminui-lo mais do que enaltecê-lo. É sabido que Minecraft reinventou e popularizou de uma forma surpreendente à escala global a abrangência dos sandbox de construção, e que qualquer jogo dentro da mesma aproximação será involuntariamente alvo de comparações, mas há-que admitir que a equipa da Keen soube aliar da melhor forma a análise do sucesso de Minecraft e a experiência que tiveram com os seus Miner Wars e levar o conceito um pouco mais à frente.
Há algo que nos remete para o anonimato dos figurantes dos filmes de sci-fi. A começar pelo facto de que não somos mais do que um astronauta indistinto dos restantes apenas pela sua cor. A possibilidade de alternância entre a primeira e a terceira pessoas ajuda a exponenciar a sensação a que me refiro. Em Space Engineers não somos o cavaleiro de Jedi imparável, ou o piloto destemido que derrota frotas intergalácticas inteiras com o seu caça, nem somos o impiedoso imperador do Mal numa expansão universal do seu império. Somos o incógnito engenheiro ou mecânico que constrói, planeia, concebe, peça a peça, todos as definições estruturais, funcionais e estéticas de uma nave ou de uma base espacial. E é esta facilidade de identificação de um papel que não é o habitual que se conjuga na perfeição com o aspecto verdadeiramente relaxante do jogo. Na banda sonora que nos remete para as incursões cinematográficas dos anos 70 sobre o espaço, até à vastidão do universo, há uma série de factores que fazem de Space Engineers uma das melhores companhias a um copo de vinho, depois de um dia de trabalho, e perder-nos fora do planeta, a construir. Apenas a construir, com a mente a flutuar, literalmente, entre as estrelas.
A forma de construção responde à fórmula do género: pegar em peças (e blocos) do nosso inventário e construir a nosso bel-prazer, e em qualquer direcção. Apesar da gravidade (e a ausência da mesma) ser um factor importante a tomar em conta na fase da construção, o facto de estarmos munidos de um jet pack permite-nos construir as nossas naves ou estações espaciais sob qualquer ponto de vista.
Nesta fase do desenvolvimento de Space Engineers dispomos apenas de um modo de construção livre, sem os constragimentos de ter de minar os materiais necessários à construção, ou um modo de sobrevivência que contrarie a imortalidade actual dos nossos personagens, mas toda a definição do jogo indica este mesmo caminho: o seu aspecto exploratório sandbox materializar-se também na possibilidade de jogadores sozinhos ou em grupo invadirem as estações dos outros, e claro, com as mecânicas de tiro já funcionais, o jogo grita dogfights espaciais por todos os polígonos.
Sempre que criamos um novo mundo temos à nossa disposição uma série de naves de diferentes tipologias para podermos experimentar as mecânicas de pilotagem e aterragem, assim como uma estação espacial pré-concebida e que serve como um bom ponto de partida ao estudo de como construir. Mas mais até do que “como construir”, coloca-se a questão de como conceber e tornar funcional. É que aqui não temos só de criar a estrutura como perceber as necessidades energéticas das nossas concepções, municiar de motores e propulsores as nossas naves, e mais uma série de preocupações mecânicas e funcionais para tornar as nossas naves navegáveis no espaço.
É claro que estas possibilidades quase infinitas de construção de naves e estações espaciais levou a jogadores que muitas (excessivas?) horas livres a reproduzir à exaustão naves bem-conhecidas de todos nós, desde a Normandy de Mass Effect, à Serenity de Firefly, podemos ver vídeos de todo o interior e exterior das naves, e após jogarmos Space Engineers extrapolarmos as dezenas de horas necessárias para levar a cabo muitos dos projectos que vemos finalizados e partilhados no Youtube.
Apesar de estar ainda em Early Access no Steam, Space Engineers traz uma nova visão a um género excessivamente demarcado por Minecraft, e que sabe tirar partido de potencialidades tão grandes como a construção e expansão espacial. Dos jogos em Alpha com um desenvolvimento mais “afinado” que tive oportunidade de experimentar e que antevê um jogo muito sólido e que saberá, decerto, soltar-se das amarras de jogos que popularizaram o género.
Muito perto do momento em que recebemos a chave de antevisão, foi possibilitado o modo cooperativo em que podemos convidar amigos nossos para o nosso mundo e vice-versa. Estas possibilidades de cooperação manifestam-se inclusivamente na possibilidade de construção em conjunto e de termos um mundo comum persistente, sob o qual vamos actuando com o nosso grupo de amigos.
Ainda assim penso que atingi o patamar de persona non grata nos mundos pessoais dos meus amigos. Não porque lhes vá demonstrar a minha estupidez e trolling latentes, mas porque posso ser o piloto mais azarado do mundo. Em ambas as situações que me ocorreram (cada uma no mundo de um dos meus dois amigos que também jogam SE) pude experienciar na primeira pessoa a programação consistente da física do jogo: no primeiro caso explodi um caça contra a nave-mãe estacionada numa plataforma, porque não consegui reduzir a velocidade o suficiente para estacionar a nave. O segundo caso ainda hoje é um mistério. Talvez não tenha “destravado” a nave antes de levantar voo, apenas sei que explodi uma pequena nave de reconhecimento a uns míseros 2 ou 3 metros do chão. Talvez seja realmente azarado, aselha, ou simplesmente alvo de uma conspiração intergaláctica que procura incessantemente a minha morte. Sabotagem em travões e engenhos explosivos que se activam depois da ignição, soam excessivamente perniciosos à minha integridade física para não assumir que algo se passa, e esse algo, quer-me morto.
Comments (1)
[…] assim, a par de Space Engineers, Planet Explorers é uma das maiores promessas que o mercado indie tem para oferecer num género […]