E a sua Majestade é…

Quando fizemos a lista na passada semana, de forma altruísta, para vos poupar de algumas más-escolhas, euros mal-gastos e perda não-substituível de horas de vida, efectuamos uma lista relativamente densa daqueles que são as piores escolhas possíveis para se jogar na Sega Saturn. Mas decidimos deixar a grande cereja podre em cima de um bolo de há 2 semanas para o fim. A grande maçã bolorenta que contamina o nosso cesto de fruta. Os sapatos enlameados por uma caminhada pelo pântano ao Domingo. O pequeno vómito canino que encontramos no hall de entrada ao lado da nossa mascote, adoentada. Aquele ovo podre que nos atinge, inadvertidamente, na véspera de Carnaval. Aquela gastroenterite que nos prende em casa durante dias a chá e torradas. Demasiado gráfico? Verdade, mas ainda distante da (falta) de qualidade do grande mau jogo de Saturn.

O jogo que escolhemos é tão mau, que decidimos dar-lhe o destaque devido e isolá-lo da restante lista. Queremos causar impacto com a nossa decisão e que fique bem-vincado o quanto desaconselhamos este jogo a ser jogado. (Ok, admitindo a verdade: este jogo ficou de fora por mero lapso. Apesar de no esboço de lista este ser o último jogo a ser apresentado, e que receberia o título de pior para nós, acabou por ficar esquecido na ténue caligrafia a cinza.) Sabem aqueles casos em que algo é tão mau que é bom? Este não é um desses casos. A nossa escolha para pior jogo de sempre é um notório exemplo de algo que é tão mau que é horrível.

Mas o que é que pode ser assim tão horripilante que justifique todo o nosso asco e repulsa? Battle Monsters

A tua cara não me é estranha!

A tua cara não me é estranha!

 

Quando falámos do filho resultante do cruzamento entre Mortal Kombat e Street Fighter no artigo anterior, criámos uma imagem forte o suficiente. Battle Monsters é algo completamente diferente. Se imaginarem a marquesa do Dr. Victor Frankenstein, em que este tenta criar um videojogo a partir de partes do Mortal Kombat III, de slasher movies dos anos 80 e de más histórias de terror difundidas pela oralidade, têm como resultado este Battle Monsters. Mais um 2D fighting game a explorar o filão dourado de meados dos anos 90, que tiveram Mortal Kombat e Street Fighter como as suas figuras de proa. Todos os personagens são digitalizações de actores vestidos como os personagens. O pior é que ao contrário de Mortal Kombat, em que os personagens eram verosímeis dentro de toda a fantasia imputada, as suas animações eram fluídas e percebia-se o empenho criativo em cada um dos movimentos efectuados. Battle Monsters parece ter sido feito com pessoas aleatórias fotografadas na noite de Carnaval no Bairro Alto: os fatos parecem feitos em casa à pressa, e a criatividade decidiu esconder-se num quarto, envergonhado, enquanto os monstros mais irrealistas que existem desferem murros e pontapés a bel-prazer. Para além do sangue jorrar indiscriminadamente, Battle Monsters tem:

O ataque dos personagens intangíveis.

O ataque dos personagens intangíveis.

 

  1. Um dos piores controlos em jogos de luta de sempre. Dois botões de ataque e dois botões de salto distintos. Sendo que cada ataque/movimento tem a fluidez de alguém com um cálculo renal.
  2. Uma das piores detecções de embate na história dos videojogos. Em alguns casos trespassamos o adversário com um murro sem lhe dar dano, noutras somos atingidos pela magnificência de um pontapé a quilómetros de distância que nos rouba 1/3 da vida.
  3. Dos personagens mais desinspirados e esquecíveis do género. À excepção dos gémeos (que se controlam como um jogador apenas), grande parte do alinhamento de Battle Monsters é tão característico como o funcionário cinzento da nossa repartição de Finanças.
  4. O pior GUI de sempre. O conceito de barra de vida foi substituído por velas (também elas digitalizadas) que vão desaparecendo à medida que perdemos vida. Esta “inovação” vem só cimentar o todo que é este jogo, e dar-lhe um ar de série Z que pode ser agradado por alguns.
Como recortar figuras de um fundo de Chroma Key - Workshop de Introdução.

Como recortar figuras de um fundo de Chroma Key – Workshop de Introdução.

 

Battle Monsters não deve ser jogado. Ou aliás, deve ser jogado apenas como party game ou drinking game. Cada vez que alguém sentir que jogos de Atari têm mais qualidade, do ponto de vista de jogabilidade e de aspecto visual, deverá beber um shot. De cada vez que alguém sentir, no seu íntimo, mesmo que toldado pelo álcool, que este poderá ser um dos melhores jogos que jogou, deverá pousar o comando da Sega Saturn, pegar num telefone, e ligar para 21 791 7000, contacto do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (vulgo Júlio de Matos) e pedir uma consulta, urgentemente.