A traçar sem parar!

A discrição é muitas vezes a alma do negócio. Ainda que correndo o risco de passar totalmente despercebido, a Goodbye Galaxy Games e Hugo Smits lançaram mais um título para a Nintendo eShop, de forma discreta, quase sorrateira, a querer apanhar os fãs de jogos de puzzles desprevenidos. Tappingo entra pela nossa casa sorrateiramente como um ladrão pela noite, mas sequestra-nos durante umas 7 horas de exercício mental intenso, para depois nos libertar já sob o efeito do Síndrome de Estocolmo, a ansiar por mais desafios.

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A Magali ligou e precisa da melancia terminada!

 

Já desde a Nintendo DS que temos sido brindados com jogos de puzzles que acabam por trazer uma diferente direcção às portáteis da Nintendo, a pensar especificamente nos seus utilizadores mais velhos que gastaram as pontas dos polegares e os nervos aquando da saída de Tetris para o Game Boy.

Tappingo pode sofrer de um problema repentino: o de ser imediatamente comparado com Picross. Percebe-se perfeitamente que a inspiração óbvia são os nanogramas, dos quais os puzzles lógicos de Mario’s Picross foram um dos primeiros exemplos e um dos de maior sucesso. Tal como no modelo original de Hanjie, Tappingo tem como objectivo a definição de imagens através de sugestão numérico de quantos quadrados numéricos existem em dada linha. Mas o grande twist que existe no jogo em oposição a Picross, ou a qualquer outro tipo de nanograma, é que que cada quadrado numérico nos indica que o número de quadradículas de comprimento que tem a linha que de si parte. Com a agravante que ela poderá deslocar-se para qualquer direcção na vertical ou na horizontal e também pelo facto de que não controlamos o seu comprimento. Para que uma linha pare ela tem de embater noutra linha e assim sucessivamente. O que de início vai sendo uma abordagem simples, em que temos 10-15 linhas para descobrir os devidos comprimentos, e criar a ordem certa de traçado” das mesmas para que o embate entre elas vá definindo a imagem desejada, à medida que avançamos (em especial a partir do puzzle 50). O tamanho dos quadrados diminui substancialmente para acomodar umas boas dezenas de quadrículas numeradas, complexificando, e muito, a lógica de resolução. Tendo eu jogado numa 3DS XL, questiono-me sobre a escala dos últimos 40 puzzles numa 3DS ou 2DS? É que mesmo no ecrã substancialmente maior da XL as quadrículas com as quais temos de interagir começam a ser mesmo muito pequenas, tornando-se decerto quase microscópicas nas versões mais pequenas da consola.

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No final invocamos o Nosso Senhor Cthulhu

 

Revelando-se mais viciante nos primeiros minutos do que esperávamos, Tappingo deixa-nos colados à consola com vontade de terminar os seus 104 puzzles. Apesar de ser bastante divertido, o grande senão do jogo (e talvez dos nanogramas em geral) é que apesar da inovação que foi feita ao género acabamos por sentir que a lógica se vai repetindo e que temos uma resposta padronizada para resolver qualquer problema. Ainda que essa possa ser a forma de atacar qualquer puzzle game, o sentimento de repetição é inversamente proporcional à nossa capacidade de nos embrenharmos no jogo. Ainda assim, a correcção de erros que vamos ser obrigados a efectuar à medida que os puzzles se vão complexificando trazem o desafio certo a todos os níveis de jogadores. Aos mais ferverosos aficionados do género estão destinados uma série de puzzles que se revelam verdadeiros momentos de reflexão, enquanto a passagem do relógio vai marcando o passo das nossa pausas para observar todas as quadrículas adjacentes e percebermos onde é que estamos a falhar.

O melhor: a nova abordagem aos nanogramas; a mecânica de resolução dos puzzles; o desafio/dificuldade; as imagens criadas pelos puzzles e a banda-sonora.

O pior: a eventual repetição que o jogo possa causar; a falta de visibilidade dos puzzles mais complexos numa 3DS e 2DS.

Parece-nos que a mecânica simples criada por Hugo Smits atribuirá uma boa descoberta  a qualquer jogador que se cruze com este Tappingo na Nintendo eShop. E é verdade que é essa mesma simplicidade que é o verdadeiro ponto de contacto dos jogadores, e que agradará ao mais acirrado fã de puzzles até ao jogador mais casual (que potencialmente poderá abandonar o jogo por volta do puzzle 40). Tappingo é mais um dos bons exemplos de jogos simples que podemos encontrar escondidos pela eShop sem ter o tempo de exposição de outros jogos mais mediáticos, mas que representa a dose certa de desafio e diversão que um puzzle game requer.

Tappingo é um exclusivo da 3DS.