Uma oportunidade perdida para a Nintendo
Recentemente a Nintendo anunciou o facto de estar a considerar o desenvolvimento de alguns títulos para o mercado móvel (telemóveis, tablets, etc.), num esforço de recuperar o capital perdido devido a projecções de vendas irrealistas para as suas novas consolas: Wii U e 2DS. Estes títulos móveis não têm de respeitar os altos padrões da Nintendo, tendo apenas o papel de introduzir subtilmente as grandes mascotes da marca no nosso dia-a-dia, relembrando-nos ao mesmo tempo do quão divertido é jogar Super Mario, Zelda, Pokémon, etc., e se possível, atrair novo público para as suas novas plataformas.
O que é que isto tem a ver com Pokémon Link: Battle? Tudo!
Este jogo teria sido uma excelente oportunidade para a Nintendo lançar-se nos iOSs e Androids deste mundo, mas tendo em conta que está presente no catálogo de uma das melhores consolas do mercado, a Nintendo 3DS, destoa, e pela negativa. As mecânicas de jogo são superficiais e de rápida mestria, o que demonstra que o jogo foi claramente desenhado para ser jogado em pequenas secções de 10 a 20 minutos. A não-utilização da funcionalidade de 3D em NENHUMA situação ao longo de todo o jogo vem desvirtuar um dos principais argumentos de venda do sistema 3DS. Para além disso, o alongamento vertical da área útil de jogo e a utilização do ecrã de toque (e consequentemente o total esquecimento dos botões analógicos) vem demonstrar que este jogo é perfeito para um telemóvel, mas que é incrivelmente aborrecido e superficial para uma consola com o potencial da 3DS.
Não existe qualquer tipo de narrativa sólida em Link: Battle, existindo apenas uma progressão de “missões” baseada na dificuldade. Estas “missões” consistem normalmente de “batalhas” contra uma mão-cheia de Pokémon mundanos e, no final, de uma “batalha” contra um género de mini-boss (usualmente um Pokémon mais reconhecível e importante da saga). O jogador não tem identidade nem nenhuma forma de representação visual, tornando o uso do IP Pokémon bastante redundante, visto que um dos seus pontos principais é o combate entre treinadores com características próprias fortes e diferentes maneiras de combater.
Visualmente falando, o jogo não é feio, longe disso, mas falha redondamente em manter a qualidade gráfica esperada de um titulo exclusivo da 3DS. Como referi acima, o jogo é 100% em duas dimensões, sem profundidade de campo ou qualquer tipo de uso da característica principal da consola – o 3D. Os sprites usados para representar os Pokémon são coloridos e vistosos, no entanto as suas animações são mínimas e consistem maioritariamente na deformação de planos sobrepostos, o que é uma técnica de animação completamente justificada em jogos do mercado mobile onde existem equipas de trabalho reduzidas, mas é raro ser usada em jogos com a qualidade Nintendo. Os “tabuleiros” onde a jogabilidade se desenrola são minimalistas e desprovidos de animação, parecendo uma ilustração feita em Photoshop sem qualquer tipo de ligação com meios de entretenimento interativos.
As mecânicas deste jogo casual consistem num híbrido de Match 3 e a série Pokémon, ou seja, podemos arrastar livremente cada um destes monstrinhos para formar conjuntos de três figuras idênticas. O primeiro trio obtido vai definir o tipo de ataque, ou seja, se for um Pokémon do tipo Pedra, o ataque será do tipo Pedra independentemente das outras combinações feitas na sequência. Todas as batalhas são encaradas como verdadeiras lutas de Pokémon: em que uma destas criaturas liberta vários ataques padronizados contra nós, pondo em risco a eficácia da missão se nos conseguir derrotar antes de a capturarmos.
Esta mecânica é fácil de aprender mas é também fácil de dominar, o que rapidamente o torna aborrecido e enfadonho, oferecendo muito pouca variedade e inovação ao longo do decorrer do jogo. A possibilidade de arrastar qualquer Pokémon para qualquer parte do tabuleiro torna a jogabilidade muito mais superficial e menos estratégica do que qualquer Match 3 genérico.
Tendo em conta a irrelevância do uso do IP Pokémon, “Link: Battle!” poderia ser um franchise por si só, usando os grandes nomes da Nintendo para atrair os jogadores: Zelda Link: Battle!, Super Mario Link: Battle!, Metroid Link: Battle!, etc. Só seria necessário este franchise encontrar uma plataforma à qual melhor se ajusta.
O melhor: um jogo casual decente, capaz de nos entreter durante alguns minutos enquanto esperamos pelo autocarro ou metro.
O pior: não usa o potencial da plataforma onde corre. Reitero que apesar da Nintendo 2DS dispensar o uso de 3D, a total ausência desta funcionalidade quando jogamos Pokémon Link:Battle num sistema 3DS acaba por deixar-nos um pequeno sentimento de que fomos de alguma forma roubados.
Pokémon Link: Battle! é um jogo que deveria ser vendido para Smartphones por um preço adequado, não tem perfil para ser um jogo para a excelente Nintendo 3DS. É repetitivo, aborrecido, demasiado fácil e ainda por cima a apresentação gráfica deixa muito a desejar. As únicas pessoas para quem este jogo é indicado é para quem está a ressacar de Pokémon X/Y e precisa de um gostinho do franchise, mas mesmo para esses a probabilidade de saírem desapontados é muito grande.